A exposição a atividades controversas é uma realidade nos fundos nacionais, ainda que com valores díspares entre os vários temas. Por outro lado, a aplicação de políticas de exclusão pode exercer pressão sobre alguns setores, mas limitar o universo de investimento.
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Os fundos de investimento, concretamente, desempenham um papel crucial ao canalizar recursos para setores e iniciativas que não só atendem a preocupações gerais da sociedade, como moldam o presente e o futuro. Como tal, torna-se crucial compreender o seu grau de envolvimento ou exclusão em atividades ou temas considerados controversos como, por exemplo, tabaco, armas, testes em animais ou atividades ligadas ao vício do jogo.
A FundsPeople procedeu a uma análise para perceber qual o grau de envolvimento dos fundos geridos por entidades nacionais. Para tal, foram utilizados os indicadores de envolvimento por produto fornecidos pela Sustainalytics, que medem a exposição de uma carteira ao envolvimento (direto ou indireto) numa gama de produtos, serviços e atividades empresariais, quer ações, quer obrigações. As informações referentes às exclusões são provenientes da mesma fonte.
Testes em animais
Olhando para o panorama geral, é o tema dos testes em animais que mais envolvimento médio compreende por parte dos fundos nacionais, com 9,95%. Dos 208 fundos com dados disponíveis a final de junho, 187 apresentam envolvimento neste tema. Fundos do setor da saúde, de grandes empresas de capitalização globais ou europeias são os mais envolvidos. Com valores significativos está ainda a categoria de aborto, contracetivos e células estaminais que representam 5,26% do envolvimento médio dos fundos nacionais. Temas como óleo de palma, tabaco e adição ao jogo são os que têm valores médios mais baixos.
Os resultados apresentados são indicação de que o mercado como um todo aplica algum tipo de critério ESG, na opinião de Virgílio Garcia, responsável pelo Investimento da Sixty Degrees AM. "Os valores medianos refletem até um nível elevado de aplicação. Adicionalmente, as próprias empresas também aplicam medidas no sentido de melhorar o seu impacto nestas componentes, pelo que o resultado que a tabela mostra, apesar de poder ter um ou outro outlier, evidencia um caminho da indústria de investimentos no sentido de respeitar a inclusão destes critérios na seleção de investimentos", refere.
Exclusões
Mas quantos destes, não se envolvendo, têm, efetivamente, política de exclusão de alguma destas categorias? Dos 220 fundos com dados disponíveis à data de análise, 122 excluem atividades ligadas a armas controversas, sendo esta a categoria mais excluída. Incluem-se a este nível armas químicas, biológicas, minas terrestres antipessoais e armas nucleares. Ainda, 95 fundos nacionais admitem excluir atividades relacionadas com carvão térmico, utilizado para produzir calor, e 63 com tabaco.
Mas em que medida a exclusão de qualquer um destes ou outros temas igualmente controversos pode afetar os fluxos do fundo? Do ponto de vista de Renato Rocha, responsável de Consultoria da Atrium Portfolio Managers, "a exclusão de categorias não defende da melhor forma o interesse dos investi- dores", e aponta, como uma das causas, "a heterogeneidade existente dentro de cada setor". O Atrium Global Selection, da Atrium Portfolio Managers, é um dos fundos que não apresenta qualquer exclusão para as categorias mencionadas, também "pelos critérios muito específicos e restritos que são utilizados para selecionar o reduzido lote de empresas que constituem a carteira do fundo", explica Renato Rocha, "e que nos parecem", acrescenta, "consideravelmente mais exclusivos e diferenciadores do que a exclusão setorial, por si só, que poderá ser algo redutora e até potencialmente lesiva dos interesses de longo prazo dos investidores".
Por outro lado, o Sixty Degrees PPR, da Sixty Degrees, aparece como excluindo do seu universo de seleção sete das 13 categorias. Virgílio Garcia explica que apenas excluem os negócios que obrigatoriamente têm de excluir. "O portefólio resulta da aplicação de critérios de seleção que não são relacionados com métricas ESG, mas ao selecionar boas empresas, é provável que as mesmas tenham preocupações deste âmbito e o nosso portefólio tenha um bom registo". Ainda assim, na opinião do profissional, "a exclusão de setores ou entidades no processo de integração dos fatores ESG nas decisões de investimentos diminui o universo de investimento de qualquer fundo e, nesse sentido, a uma redução potencial da possibilidade de obtenção de um ótimo superior".