Do ESG às large caps: winners and loosers

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Annotation_2020-05-21_103017Como em qualquer outra crise, importa olhar para os dois lados da barricada: há setores que são severamente atingidos – como aliás temos vindo a verificar com a restauração ou as companhias aéreas, por exemplo – e outros que, qual Fénix renascida das cinzas, acabam por ganhar um boost inesperado. Num encontro promovido pela AllianceBernstein, e que contou com a presença digital de Miguel Luzarraga, da entidade gestora,Inês Correia Oliveira, da DWM do Millennium bcp, Elisabete Pinto Pereira do departamento de Desenvolvimento e Marketing de Retalho do Novo Banco e João Pina Gomes, da equipa de produtos de investimento do ABANCA, debateu-se precisamente, da perspetiva de seleção, quais os setores vencedores e perdedores da crise trazida pelo COVID-19.

Elisabete Pereira Novo BancoElisabete Pinto Pereira, do Novo Banco, começou por recordar que uma das tendências de longo prazo que saem reforçadas prendem-se com um recuo da globalização. “Em termos económicos e globais consideramos que haverá uma menor dependência da China, e um maior suporte à produção local”, introduziu, recordando que se tem visto “uma preocupação em consumir internamente”. Mas, também, assinalou um acelerar da transformação digital da economia. “Vimos a forma como, por exemplo, as empresas conseguiram, neste contexto, colocar todos os colaboradores rapidamente em teletrabalho”, ilustrou. E acrescentou que “definitivamente iremos viver com elevados níveis de endividamento público e privado, “low rates for longer” e menor crescimento económico”. Do ponto de vista do investimento, a especialista vislumbra outra tendência: “Consideramos que sai reforçado o investimento verde e o investimento temático”, ao mesmo tempo que vemos “uma intervenção cada vez maior das gestoras de ativos e dos bancos centrais no sentido de fomentar o investimento socialmente responsável”.

João Pina Gomes_ABANCADo lado do ABANCA, João Pina Gomes apontou duas tendências específicas que serão reforçadas: por um lado o trabalho a partir de casa e, por outro, o negócio no setor da saúde. Citando uma declaração recente da Microsoft, em que referiam que tinha existido maior transformação digital em semanas do que em dois anos, o profissional tocou no inevitável impacto que isso tem no setor tecnológico e nas suas valorizações. “Basta olharmos para ações como a Amazon, e outras grandes tecnológicas que estão perto de máximos históricos”, mencionou. Do lado da saúde, por sua vez, recorda aquele que vai ser o novo normal: “Vamos focar-nos na forma como agimos no dia-a-dia, seja através do álcool gel, luvas, máscaras, etc., portanto tudo o que tenha a ver com a saúde a médio-prazo e longo prazo vai ser reforçado”, sublinhou.  Do outro lado da barricada, acredita, ficam setores como o lazer, sendo expectável que mude a forma como vamos ao teatro, cinema, etc.  Concordando com o referido por Elisabete Pinto Pereira, também João Pina Gomes acredita no “poder” do ESG: “Em toda a Europa, e em Portugal também, a lógica ESG vai ser cada vez maior”.

Perdedor: o cliente conservador

medium_Miguel_Luza_rragaA “deixa verde” deixada pelo ABANCA, abriu espaço para que Miguel Luzarraga lembrasse que o que estamos a viver vai afetar a forma “como olhamos para a sustentabilidade e para o clima”, mas, também, “a nossa forma de viver e a forma como olhamos para as empresas”. A própria AllianceBernstein está a preparar os seus profissionais nesse sentido, e os analistas começaram a ser formados no Instituto de Clima, na Universidade de Columbia. “Trata-se de uma formação em que os analistas passam a ter conhecimento sobre os efeitos que têm as suas escolhas relativamente às empresas”, explica. Do outro lado da moeda, aponta que perdedores poderão ser os investidores com um perfil de risco mais conservador, que ficam com uma pergunta em suspenso: “Onde investir?”

INES_CORREIRA_OLIVEIRA_MILLENNIUM_BCP_Depois das tendências atrás enunciadas, pouco ficava por dizer relativamente aos vencedores e perdedores desta crise, mas, ainda, assim, Inês Correia de Oliveira não quis deixar de reforçar o já referido, e acrescentar outras nuances. “Já há muito tempo que o setor tecnológico tem sido a estrela do mercado e graças à sua evolução, os efeitos da pandemia na economia global foram menos dramáticos. Um shutdown como o que aconteceu nos últimos meses, há cinco ou dez anos, teria sido um caos”. A globalização, também já mencionada, mereceu da especialista a mesma opinião já ouvida. “Também concordo que ao nível da globalização existirá um impacto negativo, no sentido em que as empresas provavelmente vão olhar para o mundo de forma diferente. A dependência que existe, por exemplo, da China, acho que vai recondicionar muita coisa ao nível de empresas”, referiu. No espetro oposto, dos menos favorecidos, na opinião de Inês ficam setores como o financeiro, principalmente os bancos. O  cenário de taxas de juro baixas por um período mais alargado de tempo, não vai ajudar. Junta-se ao leque de setores desfavorecidos as empresas relacionadas com o transporte de passageiros e mobilidade, “já que este lock-down vai, com certeza, reduzir a necessidade de mobilidade profissional e reduzir o turismo, pelo menos numa fase inicial”. No campo das empresas reforçadas, a profissional não quis deixar de fora “as companhias com pouco endividamento e balanços sólidos”, havendo ainda espaço para “uma maior consolidação entre empresas”, concluiu.