Dois anos de pandemia: a evolução da exposição setorial dos fundos portugueses de ações emergentes

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Créditos: Li Yang (Unsplash)

Durante os últimos dois anos os fundos de ações emergentes viveram tempos mistos, onde tanto foram prejudicados por inúmeros acontecimentos negativos nas regiões onde investem, mas também chegaram a ser dos ativos mais rentáveis. Primeiramente, o ano 2020 trouxe o surgimento da pandemia de COVID-19 na China. Já com a entrada em 2021, a bolsa chinesa entrou em bear market. E, em 2022, com a entrada no ano do Tigre, os olhos do mundo viram-se para o país marcado pela fraqueza do setor imobiliário e novos regulamentos rigorosos em vigor.

À semelhança das análises que temos vindo a realizar sobre a evolução da alocação setorial nos últimos dois anos, chegou a vez de olharmos para os mercados emergentes. De gestão nacional, inseridos na categoria Morningstar Global Emerging Markets Equity, existem apenas três fundos dedicados a este nicho de mercado: o Caixagest Ações Emergentes, da Caixa Gestão de Ativos, o Montepio Multi Gestão Mercados Emergentes, da Montepio Gestão de Activos e o NB Mercados Emergentes, gerido pela GNB Gestão de Ativos.

Detalhes da carteira

Em primeiro lugar, há que deixar uma nota: estas três estratégias são fundos de fundos, ao contrário do que ocorria nos fundos de ações americanas, europeias ou globais, que investiam diretamente nos ativos.

Segundo os dados mais recentes disponibilizados pela Morningstar, o fundo com maior número de posições em carteira é o Montepio Multi Gestão Mercados Emergentes, com 21 holdings. Contrariamente, o Caixagest Ações Emergentes detém o menor número de posições no seu portefólio, constando com 10 holdings.

Evolução da exposição setorial

Materiais básicos

Fonte: Morningstar Direct.

O fundo com maior preponderância ao setor dos materiais básicos desde 2021 até 2022 foi o NB Mercados Emergentes. A alocação mais elevada ao setor foi registada por este fundo, em agosto de 2021, quando verificou 8,7% de exposição. No entanto, a partir desse momento, a tendência tem sido decrescente.

Já a exposição por parte do Caixagest Ações Emergentes e Montepio Multi Gestão Mercados Emergentes tem sido ligeiramente inferior ao longo deste período. Contudo, verificam atualmente uma alocação superior ao que se encontravam em janeiro de 2020.

Serviços de comunicação

Fonte: Morningstar Direct.

Já o setor dos serviços de comunicação, em média, tem uma maior preponderância nas carteiras destes fundos. O fundo da GNB Gestão de Ativos é aquele com menor exposição ao mesmo, registando, em janeiro de 2022, 5,3% de alocação. No entanto, nem sempre foi assim porque, em janeiro de 2020, este setor tinha quase 20% de peso na carteira do NB Mercados Emergentes. De maio para junho desse ano foi o momento em que se registou uma significativa diminuição da alocação. A partir desse momento a tendência de exposição foi decrescendo por parte do fundo da GNB GA.

Semelhante ao ocorrido no setor dos materiais básicos, agora também os fundos da Caixa GA e Montepio GA seguem percentagens de exposição semelhantes ao longo destes últimos dois anos.

Energia

Fonte: Morningstar Direct.

No setor energético registam-se significativas variações na alocação por parte dos três produtos de investimento.

Olhando para o início de 2020, vemos logo que a exposição ao setor por parte tanto do fundo da Montepio GA como por parte do fundo da Caixa GA diminui significativamente. Algo que só aconteceu mais tarde com o fundo da GNB Gestão de Ativos, a partir de maio de 2020. Precisamente este fundo chegou a alcançar uma exposição mínima de 1,5% ao setor, em outubro desse ano.

Atualmente, é o NB Mercados Emergentes a estratégia com maior preponderância deste setor no seu portefólio, com cerca de 4,6% de alocação. No entanto, segue uma tendência decrescente, pelo menos nos últimos dois meses exibidos no gráfico acima. O oposto acontece com o Caixagest Ações Emergentes.

Serviços financeiros

Fonte: Morningstar Direct.

O setor dos serviços financeiros é, até agora, um dos mais preponderantes nas carteiras dos três fundos em análise. Ainda assim, em todos os produtos podemos encontrar uma semelhança: atualmente, este setor tem menos peso nas carteiras face a janeiro de 2020. No entanto, a tendência de alocação tem sido crescente tanto no Caixagest Ações Emergentes como no Montepio Multi Gestão Mercados Emergentes, e os valores de exposição já chegam a estar próximos dos verificados no início de 2020.

Atualmente, o fundo com menor exposição ao setor é o NB Mercados Emergentes, com cerca de 18,5% de alocação – um valor marginalmente menor do que era em janeiro de 2020.

Saúde

Fonte: Morningstar Direct.

Por sua vez, o setor da saúde é, a seguir ao setor das utilities, um dos setores com menos representatividade nas carteiras destes produtos nacionais. Nem mesmo quando rebentou a pandemia a nível mundial a exposição aumentou. Aliás, no primeiro trimestre de 2020, é bem visível a perda de peso deste setor no NB Mercados Emergentes.

Atualmente, a exposição máxima destes fundos não ultrapassa os 3,4%, valor pertencente ao produto da GNB GA.

Indústria

Fonte: Morningstar Direct.

Já no setor industrial a alocação tem se mantido relativamente constante no caso dos fundos da Montepio GA e Caixa GA. Relativamente a estes dois produtos, apenas se observa uma significativa variação na alocação no Caixagest Ações Emergentes de agosto a outubro de 2020.

o NB Mercados Emergentes tem visto uma evolução positiva na alocação, desde o segundo semestre de 2020 até aos dias de hoje.

Tecnologia

Fonte: Morningstar Direct.

Relativamente ao setor tecnológico, este é de facto o setor que, em média, mais peso tem nas carteiras dos fundos em análise - superando o setor dos serviços financeiros.

A alocação por parte dos três produtos tem registando uma tendência crescente nos últimos dois anos, mas com mais incidência no NB Mercados Emergentes que passou de uma exposição de 12% em 2020 para 20,1% em 2022. Ainda assim, atualmente, é o Caixagest Ações Emergentes com maior preponderância neste setor (24,5%).

Consumo cíclico

Fonte: Morningstar Direct.

O setor do consumo cíclico, por um lado, registou uma tendência favorável de exposição até ao início do quarto trimestre de 2020. Por outro lado, a partir dessa altura, a tendência tem sido de uma exposição decrescente ao mesmo. E este é um movimento que sucede nos três fundos em análise.

Destes, o NB Mercados Emergentes que, no início de 2020, registava a menor exposição, verifica a maior alocação ao setor atualmente - cerca de 14%.

Consumo defensivo

Fonte: Morningstar Direct.

O último setor que apresentamos é o do consumo defensivo. Semelhantemente ao que já observámos noutros setores, o NB Mercados Emergentes foi o fundo verificou maiores variações na alocação ao setor. Como se pode ver pelo gráfico acima, uma variação em V ocorreu no primeiro semestre de 2020.

Já os outros dois produtos não apresentam um comportamento similar, contrariamente ao que já vimos no caso de outros setores. Apesar de a tendência de alocação ter sido decrescente na maior parte de 2021, os últimos meses de 2021 e começo de 2022 têm sido de estabilização na exposição ao mesmo.