É importante a dimensão de um fundo na hora de o selecionar?

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Crisp-13, Flickr, Creative Commons

Quando se seleciona um fundo, muitos são os parâmetros a ter em conta. Um dos que por vezes pode passar despercebido é a dimensão e a evolução do património gerido que, no entanto, pode ter um impacto significativo no comportamento do produto. “Existem muitos exemplos de fundos que funcionavam de forma fenomenal e que perderam a sua superioridade relativa, quando aumentaram os seus ativos sob gestão”, explica Detlef Glow, responsável de análise para EMEA,  na Lipper, num artigo publicado recentemente. “Por outro lado, a cada trimestre vários fundos são liquidados por causa do seu baixo património, que os torna pouco rentáveis”. Afinal qual é o tamanho adequado para um fundo de investimento?

Fundos pequenos, perigo de encerramento

“É evidente que a inovação de produto é um dos factores que impulsiona o crescimento da indústria, mas nem todas as ideias têm êxito em termos de captações”. Na opinião de Detlef Glow isto pode dever-se ao facto de um fundo estar a ser lançado num momento de mercado menos apropriado, ou então o próprio marketing do produto ter falhado. “Como o dinheiro que a gestora recebe depende do património que o fundo gere, faz falta um volume mínimo de ativos sob gestão para que o resultado seja rentável”.

O especialista assinala que o tamanho mínimo para que um fundo seja rentável passou dos 5 milhões de euros no final dos anos noventa, para os 20-25 milhões de euros na atualidade. “Como a rentabilidade ganhou tanta importância desde a crise financeira, sobretudo para as gestoras com rede, qualquer fundo que não seja capaz  de captar pelo menos 20 milhões de euros, num horizonte de tempo razoável, poderá estar condenado ao encerramento”. 

Como consequência, os fundos pequenos podem ter alguma dificuldade em convencer os selecionadores, que podem ter reticências em investir num fundo que eventualmente encerrará dentro de pouco tempo. Para além disso, Glow recorda que “é pouco provável que um investidor institucional invista num fundo de pequena dimensão, porque a sua equipa de selecionadores não iniciam o processo de “due diligence” até que o fundo alcance o tamanho suficiente para o seu volume de investimento”.

Fundos grandes, risco de rentabilidades medíocres

O efeito conhecido como “reversão à média”, em que quando um fundo cresce muito a sua rentabilidade se ressente, coloca em cima da mesa a seguinte questão: “pode um fundo chegar a ser demasiado grande?”. “Em geral não acredito que um fundo que tenha um universo de investimento amplo, como é o caso do mercado de ações, possa chegar a ser demasiado grande. No entanto, quanto menor for o segmento de mercado ou mais específica for a estratégia de investimento, maiores probabilidades existem de que a rentabilidade do fundo seja afetada pelo crescimento dos ativos sob gestão”, acredita Glow.

Isto deve-se ao facto de em mercados considerados de nicho, ser possível que as melhores ideias de investimento tenham uma capitalização de mercado ou um volume de negociação demasiado pequeno para a estratégia. “O gestor necessita de investir em títulos que cumpram certos requisitos de tamanho e de liquidez. À medida que o património do fundo cresce, a procura por liquidez pode acabar por se traduzir  numa carteira com um menor ‘active share’, o que só irá prejudicar a rentabilidade”. Para além disso, os fundos com uma elevada rotação de investidores podem comportar-se pior por causa dos elevados custos de transação.

Para Detlef Glow, a conclusão é que o facto de um fundo ser grande ou pequeno não tem de ser um factor bom ou mau “per si”: “Os selecionadores de fundos necessitam de conhecer muito bem o tamanho do universo de investimento de um fundo, para posteriormente poderem determinar qual é tamanho adequado para o produto no seu respetivo segmento de mercado”.