É verdade que a gestão passiva é melhor do que a gestão ativa?

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Créditos: Nadine Shaabana (Unsplash)

Todos os anos, o relatório SPIVA salienta o sucesso limitado dos fundos geridos ativamente no processo de superar os seus índices. Trata-se de um estudo elaborado pela S&P em que o provedor de índices compara os resultados obtidos pelos produtos de cada categoria face aos seus correspondentes benchmarks. É o documento de referência utilizado pelos defensores da gestão passiva para justificar o seu compromisso com este estilo de investimento.

Consideração #1

Embora os resultados não deixem a gestão ativa muito bem vista, o relatório ignora algumas considerações que devem ser tidas em conta na análise e que muitas vezes são lembradas por casas ativas. A primeira a que se referem habitualmente: o relatório compara a rentabilidade oferecida pelos diferentes índices face às rentabilidades líquidas geradas pelos fundos ativos. Seria mais justo confrontar os resultados líquidos dos fundos ativos face aos ETF ou os fundos indexados que refletem o comportamento de diferentes índices. A sua replicação também gera custos.

Consideração #2

Em segundo lugar, os objetivos dos fundos ativos podem ser muito diferentes do que simplesmente superar o benchmark. E, além disso, nem aqueles que investem no produto procuram o objetivo de ultrapassá-lo.  O desafio pode ser muito diferente (reduzir a volatilidade, gerar rentabilidades descorrelacionadas...). “Se é um gestor ativo, não quer que meçam os seus resultados face a algo que não escolheu como alvo a bater", considera José García-Zárate, diretor associado e analista de fundos passivos da Morningstar.

Consideração #3

Vale também a pena desmentir a crença de que os gestores acabam por não superar os índices devido à sua fraca capacidade para o fazer. Como a Morningstar descobriu em alguns dos seus estudos, em quase todas as categorias os retornos brutos gerados por fundos ativos superam os dos índices. São os custos mais elevados suportados por fundos ativos que, no final, colocam as rentabilidades líquidas de produtos ativos abaixo das dos passivos.

Consideração #4

No entanto, esta não é uma questão exclusivamente de comissões. Há mais fatores que condicionam os resultados do gestor ativo. Os fundos ativos precisam de manter uma percentagem de liquidez. Em termos práticos, isto num bull market, é uma clara desvantagem para um gestor ativo, que se quiser começar em igualdade com o índice tem de se colocar com um beta acima de um.

Consideração #5

As estratégias de gestão passiva absorvem 100% da volatilidade do mercado. "Para qualquer investidor em ETF ou fundos indexados, a melhor opção é tomar por garantido que o participante assumirá essa volatilidade sem ficar nervoso e sem tomar decisões de market timing que, em geral, destroem valor",  lembrou François Badelon, membro da equipa da Lonvia Capital. Os gestores ativos estão bem cientes de que a volatilidade está intimamente relacionada com as entradas e saídas que os produtos recebem. Com maiores volatilidades, o risco de reembolsos é maior.

Isto é demonstrado pelo facto de os reembolsos que aparecem nas fichas do fundo nem sempre corresponderem aos retornos que, na realidade, os participantes estão a obter. Quanto maior for a volatilidade assumida pelo fundo, maior é o fosso entre um e outro. A Morningstar também olhou para isto. A conclusão a que chegaram é que isso é verdade, independentemente da categoria de produto em que o estudo se centra.

Portanto, no mundo da gestão ativa versus gestão passiva, as coisas não são preto no branco. Há muitas considerações a ter em mente.  Dito isto, o que se pode extrair do relatório SPIVA é que, a longo prazo, é menos provável que os fundos geridos ativamente superem os seus índices S&P.  Como mostra o gráfico abaixo, as taxas de sucesso dos fundos ativos diminuem ao longo do tempo. Mas este é mais um facto, que não tem em conta tudo o que foi discutido acima.

Percentagem de fundos que não superam os seus índices S&P