Eduardo Monteiro (BPI GA): “Esta forma de gerir o portefólio faz com que o produto tenha em média um menor risco de que os comparáveis”

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Eduardo Monteiro. Créditos: Vítor Duarte

O BPI Moderado foi o fundo multiativos defensivo nacional mais rentável de 2022. Este fundo da BPI Gestão de Ativos, gerido por Eduardo Monteiro, chegou ao primeiro lugar da tabela com um retorno de -8,08%.

O gestor acredita que a mitigação da queda se deve, em primeiro lugar, à equipa, que é “composta por pessoas com características diversas, mas todas com uma grande paixão pela investigação e pela modelização, o que permite combinar aspetos qualitativos com aspetos quantitativos”. 

Quanto ao fundo em si, afirma que este tem uma característica que o diferencia dos restantes: “Um foco disciplinado no controlo de risco”. O objetivo do produto é, desta forma, oferecer aos clientes um risco constante ao longo do tempo. “Este processo implica que em momentos de maior volatilidade e aversão ao risco o portefólio apresente uma menor exposição a ativos de risco e, em ambientes de menor volatilidade e propensão para o risco, o portfólio apresente uma maior exposição a ativos de risco”, afirma.

O gestor afirma também que esta forma de gerir o portefólio faz com que o produto tenha em média um menor risco de que os comparáveis. Além disso, segundo o gestor, a teoria financeira mostra que a maioria do retorno dos mercados é realizado nos momentos de menor volatilidade, “pelo que este sistema apresenta retornos em torno da média em anos positivos e retornos acima da média em anos negativos”, acrescenta.

No processo de decisão que Eduardo Monteiro leva a cabo, a verdade é que são considerados outros stakeholders, como nos explica. Fala da intervenção de “outras equipas dentro da BPI Gestão de Ativos”, mas também “do CaixaBank Asset Management e a equipa de aconselhamento financeiro do Banco BPI”.

Alocação e decisões ativas 

Num ano complicado como o de 2022, o gestor afirma que existiram vários fatores que contribuíram para a boa performance relativa do produto em 2022. “Em primeiro lugar, começámos o ano com uma exposição reduzida ao mercado de obrigações de taxa fixa, uma vez que não conseguíamos vislumbrar muito valor por unidade de risco na classe”. Eduardo Monteiro considerava que o baixo nível de yields não permitiria acomodar sobressaltos dos mercados acionistas e permitir uma diversificação do portfólio.

Além disso, na classe acionista, optaram por uma sobreponderação ao setor de banca europeia, por considerarem que o consenso estava demasiado pessimista relativamente à capacidade do setor de beneficiar de yields mais elevadas e à resiliência do balanço do setor. Eduardo Monteiro destaca também a sobre-exposição a fundos de transição climática. “Observámos que as estimativas dos analistas incorporavam cenários conservadores a nível da evolução da procura”, afirma.

Quanto à evolução da alocação ao longo de 2022 e como essa evolução foi refletindo o comportamento do mercado e as expetativas, o gestor afirma que a guerra na Ucrânia foi um evento inesperado para o qual não estavam preparados. No entanto, realizaram alguns ajustamentos ao portefólio que permitiram mitigar os seus efeitos. “Por um lado, aumentámos a exposição a obrigações indexadas à inflação de maturidades curtas para estarmos expostos ao aumento da inflação. Adicionalmente, aumentámos a qualidade de crédito da componente obrigacionista do portefólio”, afirma.

Ao longo do ano, foram ainda mantendo a exposição acionista subponderada face aos vários benchmarks utilizados e aumentaram o risco no quarto trimestre de 2022 através da exposição a obrigações de taxa fixa.

Considerações de fatores ESG

“A BPI GA tem um compromisso muito forte com o investimento sustentável e responsável, e os fatores ambientais, sociais e de bom governo fazem por isso parte dos critérios de análise de risco e retorno de todos os investimentos que temos ou consideramos ter em carteira”, afirma Eduardo Monteiro, quando questionado sobre como encaram o investimento ESG na carteira.

Nesse sentido, tentam optar por penalizar, na sua análise de retornos esperados, a exposição a indústrias de alta intensidade carbónica, a qual é vista como tendo maiores riscos de desiludir as expetativas dos analistas.

O gestor afirma ainda que a análise dos fatores ESG de um determinado ativo não é consensual quando consulta fornecedores de ratings de sustentabilidade e, por isso, “a BPI Gestão de Ativos optou por incorporar esta informação numa metodologia própria elaborando os seus próprios indicadores e métricas de sustentabilidade”.

Assim, ao longo do ano, foram aumentando a exposição a ativos considerados sustentáveis. “Este aumento teve um duplo objetivo. Por um lado, ajudar, através do nosso investimento, a canalizar capital para acelerar a transição climática e assim apoiar o objetivo de um aumento máximo de 1.5º graus até 2100. Por outro lado, a urgência do tema promove a aceleração de investimento para estes setores e deverá ajudar a que os próprios ativos relacionados com a temática tenham uma evolução favorável em termos de rentabilidade do portefólio”.

Posicionamento

Neste início de 2023, o gestor detalha um posicionamento mais cauteloso que tem vindo a ser mudado. “O fundo iniciou o ano underweight relativamente ao risco acionista e obrigacionista, no entanto, em obrigações tem vindo a reduzir essa posição, aumentando a duração do portefólio de modo a aproximar-se de uma maior neutralidade”. Em 2022, a atuação dos bancos centrais e a sua postura relativamente ao aumento inesperado da inflação foi o principal fator determinante das rentabilidades. Para 2023, o gestor do BPI Moderado acredita que este mesmo fator será igualmente determinante para a performance dos ativos financeiros. “O elevado contexto de incerteza relativamente à evolução da inflação faz-nos estar cautelosos relativamente aos ativos de risco”. 

Adicionalmente, apesar de a carteira estar subponderada em termos de exposição acionista e obrigacionista, encontra-se, ainda assim, nos níveis superiores em termos de risco da mesma, uma vez que a correlação e a volatilidade da generalidade dos ativos estão elevadas. “Uma vez mais, fazendo jus à filosofia do fundo, o espaço que temos em termos de orçamento de risco, face às atuais condições de mercado, não é elevado”, conclui.