Elena Domecq (J.P. Morgan AM): “Acreditamos que a economia americana escapará, por pouco, a uma recessão”

Créditos: Paul Skorupskas (Unsplash)

Recentemente, a FundsPeople foi convidada para participar no outlook trimestral da J.P. Morgan AM. Dentro dos vários temas macroeconómicos que mais afetam os mercados financeiros e dirigem a política monetária, destaca-se o tema da inflação. Para além dos dados já conhecidos, foi também debatido o mais recente dado da inflação nos Estados Unidos e a sua possível consequência na economia.

Vivemos tempos de instabilidade macroeconómica e com muito pouca visibilidade para os próximos meses. Para Elena Domecq, diretora de Estratégia da J.P. Morgan em Espanha e Portugal, “os próximos meses vão continuar complicados. É importante perceber o impacto da inflação nas políticas monetárias dos diversos bancos centrais, bem como, no crescimento económico esperado”.

Expetativas de inflação

Como podemos observar no gráfico, as expectativas da inflação têm estado acima do valor esperado (valores a vermelho), em quase todas as geografias, desde agosto de 2021. “Praticamente em todos os países podemos ver valores muito preocupantes em termos de inflação”, explica a diretora de Estratégia. 

Pela positiva, o principal destaque vai, sem dúvida, para a China, visto que “o dado por eles apresentado permite uma política monetária muito mais acomodatícia”, menciona a profissional. Elena Domecq explica ainda: “A economia chinesa foi muito impactada, no primeiro semestre do ano, pela política implementada de COVID 0”. “Agora, com a reabertura económica e social, e com uma esperada maior flexibilidade em termos desta medida, assistimos a uma recuperação económica muito positiva. Podemos observar a mesma através do aumento dos níveis de produção, resolução de problemas nas cadeias de distribuição e aumento do consumo da população”, refere. Concluímos, ainda, que a maior ameaça a esta economia é mesmo o continuar da política mencionada e do seu cumprimento excessivo.

Estados Unidos da América

No dia após o anúncio de uma taxa de inflação de 9,1%, a maior dos últimos 40 anos, foi dado o devido destaque às causas do mesmo e às perspetivas para o futuro da economia americana.

Será este o pico? “É impossível acertar, temos é que olhar para os principais contribuintes e perceber como evoluem. No início, a inflação centrava-se apenas em alguns setores e era facilmente explicada pela COVID. Agora, é um problema em quase todos os setores”, responde a diretora-executiva.

Elena Domecq procede a explicar os catalisadores: “Houve uma subida repentina do consumo, resultante dos estímulos fiscais concedidos durante a pandemia. A isto, aliaram-se problemas nas cadeias de distribuição e a escassez na prestação de serviços”. Esperava-se uma resolução dos problemas nas cadeias de distribuição, mas a verdade é que a China voltou a fechar”, acrescenta ainda.

Outro acelerador deste processo foi a pressão salarial que se fez sentir no mercado laboral americano. “As empresas querem contratar, mas não há trabalhadores, isto coloca uma pressão enorme nos salários”, reitera a palestrante. No entanto, “o indicador real ainda não materializou esse aumento”.

Por fim, destacou o tema das matérias-primas: “Os EUA são menos afetados, em comparação com outras geografias, pelo tema da guerra. No entanto, a verdade é que sofre na mesma com o aumento dos preços dos bens alimentares e de outras matérias-primas”.

Em jeito de conclusão, a diretora de Estratégia da J.P. Morgan em Espanha e Portugal, termina com a perspetiva da casa: “Acreditamos que a economia americana escapará, por pouco, a uma recessão. Contudo, todas as semanas saem dados novos, esta é a nossa visão com os dados atuais, mas revemos constantemente a mesma”.