Elena Domecq (J.P. Morgan AM): “Não esperamos uma recessão global devido à subida da taxa de inflação”

Elena Domecq. Créditos: Cedida (J.P. Morgan AM)

Invasão na Ucrânia, pressões geopolíticas, mudança nas políticas monetárias, um rally nas commodities e reaberturas e lockdowns em diferentes partes do mundo que resultaram em novas disrupções nas cadeias de fornecimento. Todos estes acontecimentos dos últimos meses resultaram num novo choque a nível mundial e “o sentimento dos investidores deteriorou-se. Ficaram muito mais defensivos neste primeiro trimestre de 2022”, começou por realçar Elena Domecq, membro da equipa de Cliente e Estratégia para Espanha e Portugal da J.P. Morgan Asset Management, na última apresentação do Guide to Markets trimestral da entidade. Assim, a sua previsão é de que “os próximos meses irão continuar a ser marcados por uma elevada volatilidade, à medida que os investidores ajustam as suas carteiras”.

Contudo, a profissional confessa que uma das questões que mais recebe por parte dos clientes é se esta inflação nos levará a uma recessão global. Relativamente a este ponto, Elena Domecq relembra que, “no início do ano, já estávamos num ambiente de crescentes níveis de inflação”. A adicionar a todos esses impulsionadores do começo do ano, juntou-se agora o fator guerra na Ucrânia, que elevou ainda mais os preços das commodities e também a política de zero casos de COVID-19 na China, que, por seu turno, teve o seu impacto nas cadeias de distribuição. “Todos estes fatores pioraram a situação da inflação, que já era preocupante”, elenca.

Portanto, diz a profissional que “não é surpresa mencionar que os preços da energia vão permanecer elevados por algum tempo”. Contudo, deixa claro: “Não esperamos que a inflação continue a aumentar ao mesmo ritmo que tem aumentado até ao momento”. Nesse sentido, acredita que estes níveis atuais se devem à mudança de comportamento por parte do consumidor, “e devem começar a abrandar em algum momento, mas irão continuar mais altos que em ciclos anteriores”, acrescenta. Segundo Elena Domecq, “no futuro, a inflação estará num nível mais moderado e, consequentemente, os bancos centrais vão estar mais confortáveis a navegar nesse ambiente”.

Por isso, relativamente à questão do momento, descarta a hipótese de que esta inflação nos poderá levar a uma recessão mundial. “De um modo geral, não esperamos uma recessão global segundo a informação que temos atualmente”, indica.

Razões para estar otimista quanto ao crescimento

E apesar de todos os riscos no mercado, o cenário central com que trabalham na J.P. Morgan AM é positivo. “Ainda acreditamos que o consumo, devido a toda a poupança acumulada, permanecerá robusto nos próximos tempos”, aponta.

A segunda razão pela qual acreditam que o crescimento predominará no resto do ano tem que ver com os gastos dos governos, “que desempenham ainda um papel importante”, relembra. “Durante a pandemia vimos que os governos perderam o medo de se endividarem e estão dispostos a investir mais, se assim julgarem ser preciso”, diz.

O terceiro e último argumento apresenta pela profissional remete à zona euro e ao apoio fiscal que a região deu no passado aos países que dela fazem parte.

Quanto à China, afirma que o país continua num ponto delicado: “Os lockdowns em algumas regiões da China continuam e isso tem o seu impacto no crescimento”, refere Elena Domecq. A profissional afirma que em alguns pontos a China continua a melhorar desde o último ano, mas, em outros, ainda não vê sinais de melhoria. Por exemplo, indica que não vê sinais de melhoria no mercado imobiliário e o abrandamento de crescimento na Europa poderá ter efeitos na região chinesa. Por outro lado, recorda que “os decisores políticos chineses estão muito empenhados em manter os objetivos de crescimento”. Nesse sentido, vê um possível retorno da política monetária acomodatícia na região, sendo este um movimento que vai em sentido contrário ao que as outras regiões do mundo estão atualmente a fazer.

No fim, apresenta que o posicionamento da J.P. Morgan AM relativamente às várias classes de ativos. Nomeadamente, comenta que estão, de um modo geral, neutros em ações e obrigações, subponderados em duration e cash e sobreponderandos em crédito. Das várias regiões, a nível acionista, os Estados Unidos são a escolha de eleição da entidade, enquanto, na região europeia permanecem subponderados. Já na classe de fixed income, a entidade apresenta que prefere atualmente obrigações corporativas high yield e investment grade.