A gestora suíça irá centrar-se na identificação das empresas que mais poderão beneficiar do seu compromisso com a transição energética. Para identificar estas oportunidades desenvolveram uma série de ferramentas próprias.
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A experiência prévia de Elise Beaufils, antes de integrar a Lombard Odier IM há mais de seis anos, onde é atualmente deputy head of Sustainability Research, foi no campo da engenharia nuclear. “É um pouco diferente do mundo financeiro, mas no terreno consegui ver muitas das questões com que estamos agora a lidar em relação à transição energética”, afirma.
A missão de Elise Beaufils era escalar as capacidades de análise de sustentabilidade, desenvolvendo métricas quantitativas, bem como métricas de temperatura, algo em que a Lombard Odier IM foi uma gestora pioneira. “Desde então a equipa tem crescido muito e já somos mais de 30 pessoas”, afirma. Atualmente, o seu trabalho inclui não só a parte da análise quantitativa, como também monitorização e adaptação a diferentes regulamentações e o investimento sustentável no âmbito dos mercados privados (PE e impacto).
A análise da sustentabilidade na Lombard Odier IM
“Estamos a focar-nos principalmente na transição, naquilo que nos vai levar a um cenário net zero e nature positive, que será também socialmente construtivo. Tentamos entender como estas mudanças vão afetar os diferentes setores da economia”. Desta forma, implementaram um framework bidimensional, que a especialista explica: “Por um lado, centra-se em analisar se as empresas estão a fazer o que é necessário para acelerar a transição, em linha com o que regulador europeu tem vindo a propor nos últimos anos. Por outro, trata-se de analisar que tipo de empresas podem ser beneficiadas pela transição, o que se deve refletir nos seus resultados”. A realidade é que há empresas que o estão a fazer bem, mas sem grande reflexo nos seus resultados financeiros e outras, que podem ser beneficiadas, mas não estão a fazer o suficiente.
A maioria da gama de fundos sustentáveis da Lombard Odier IM enquadra-se no Artigo 8º dO SFDR, embora seja feita uma distinção entre os que só promovem caraterísticas E&S e os que, além disso, têm um mínimo de investimentos sustentáveis. “Somos muito cuidadosos com a classificação e muito rigorosos com o limiar de sustentabilidade que estabelecemos. Para definir investimentos sustentáveis, utilizamos um sistema que distingue entre empresas sustentáveis, cinzentas e vermelhas. Para nós, é simples dizer que tudo o que não é sustentável, é insustentável, daí os três grupos. Existem muitas empresas, como, por exemplo, no setor dos serviços, que estão mais nessa zona cinzenta. Quanto às vermelhas, seriam aquelas que, na nossa opinião, atrasam a transição”, explica.
Modelos próprios
Dentro da equipa de análise há um grupo especializado em análise de dados cuja missão é construir modelos quantitativos próprios e recolher dados das empresas, embora também utilizem provedores externos. “Fazemos o controlo de qualidade dos dados e comparamo-los com os nossos para garantir que os dados finais são da mais alta qualidade para que possam servir de base aos nossos modelos proprietários”, explica
Um desses modelos é o ITR (Implied Temperature Rise), que mede o alinhamento das empresas com o objetivo de limitar a temperatura global. “Medir as emissões de GEE não é suficiente”, garante Elise Beaufils, porque “podemos acabar com uma carteira com setores baixos em carbono, como o tecnológico, a banca ou os cuidados de saúde, o que é muito diferente de uma carteira de transição. É preciso ir mais além da pegada de carbono. Com a nossa ferramenta ITR, certificamo-nos de que temos uma carteira com os líderes da transição de diferentes setores, o que também nos permite obter uma melhor diversificação e um tracking error mais ajustado”, explica.
A ferramenta baseia-se em orçamentos de emissão de carbono que abrangem 160 atividades em seis regiões, o que permite um conhecimento muito granular. “A partir daí, passamos para a análise das emissões históricas e dos objetivos que foram estabelecidos em diferentes períodos, cuja credibilidade analisamos quantitativamente para podermos fazer um prognóstico das emissões que compramos com o orçamento, o que nos dá a temperatura. A conceção foi complexa, mas simplifica muito o trabalho das equipas de investimento”. Elise Beaufils indica que, embora haja um universo suficiente de empresas para construir uma carteira global alinhada com o objetivo de 2 °C, 1,5 °C é mais fácil de alcançar, uma vez que a economia está longe do caminho para este objetivo.
Regulação
Sobre a miríade de regulamentação de diferentes jurisdições a que uma gestora internacional se tem de adaptar, a especialista afirma que na Lombard Odier IM gostariam de ver mais interoperabilidade, embora, na prática, como gestora, a sua referência mais clara seja o SFDR da UE, uma vez que a maioria dos seus fundos está registada no Luxemburgo, apesar de seguirem de perto a britânica SDR e a regulação suíça.
Nuclear?
Dada a sua experiência no domínio da energia nuclear, é inevitável perguntar a Elise Beaufils a sua opinião sobre o tema. “É uma questão muito relevante. Na Lombard Odier IM, não faz parte das exclusões da sua política de ISR, que incluem armas controversas, matérias-primas agrícolas, energia proveniente do carvão ou extração de carvão, petróleo e gás não convencionais, tabaco e incumprimentos do UN Global Compact”. Do ponto de vista da sustentabilidade, considera que a utilização da energia nuclear pode contribuir para a descarbonização, mas se for tido em conta o princípio DNSH (Do no significant harm) da UE, é fundamental garantir que é explorada da forma mais segura possível.
“Embora a discussão seja muito interessante e muitos clientes perguntem pelo tema, o facto é que o seu peso nos índices de ações não é significativo”, afirma. O interesse foi reavivado, em parte, pelos mini reatores nucleares que podem abastecer muitos centros de dados. “São baratos, não há interdependência; são uma tecnologia interessante, mas ainda não há muitas empresas cotadas a investir diretamente neste tema. Tudo o que é nuclear vem acompanhado de muita regulamentação, pelo que, por enquanto, é preciso ser-se cauteloso”, indica.
Plásticos circulares
Uma das estratégias em que a área de PE está trabalhar centra-se na circularidade do plástico. “Não se foca diretamente na biodiversidade, mas está relacionado com a sua proteção e com o capital natural”, afirma. Investe em empresas em fase de crescimento que precisam de ganhar escala. Até à data, realizaram vários investimentos em empresas europeias, embora o foco do fundo seja global.
“Investimos em toda a cadeia de valor do plástico, não apenas na parte da reciclagem. Em países desenvolvidos, uma pessoa utiliza cerca de 70 quilos de plástico por ano, o que é muito”, afirma Elise Beaufils. “O plástico é um material barato e tem muitas utilizações diferentes. É importante reciclá-lo mais e dar-lhe uma utilização mais circular. Temos de ir além da utilização única e adotar técnicas para alargar o número de reciclagens possíveis”, acrescenta.
Um dos pilares do fundo foca-se em novas formas da utilização do plástico que possam contribuir para a redução de emissões e de resíduos. Outros pilares centram-se em materiais plásticos inovadores, como os bioplásticos, e na reciclagem e recolha. Elise Beaufils conclui sublinhando que, neste fundo, é essencial considerar tanto o impacto como as expetativas de rentabilidade, “caso contrário, impacto não ganhará escala”.