Daniel Pingarrón (Natixis IM) e Mario Garcia Ribeiro (Schroders Capital) falam-nos dos emerging funds ou de novas gestoras com pouco track record, uma grande oportunidade de investimento que comporta alguns riscos, mas também grandes vantagens.
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Os emerging funds ou novas gestoras com pouco track record são uma oportunidade de investimento que comporta alguns riscos, como a maior dispersão de resultados, mas também vantagens, como managers mais empenhados, uma rentabilidade possivelmente superior e maior foco na estratégia. Uma boa análise e compreensão da sua estratégia de investimento, metodologia e playbook de criação de valor será fundamental para não dar passos em falso.
O que são os emerging funds?
Os emerging funds são novas gestoras lideradas por managers emergentes, menos estabelecidos ou sem track record nessa nova entidade. Este tipo de fundos carateriza-se por uma maior dispersão de resultados, com uma menor homogeneidade e mais leituras nas caudas da distribuição da curva de probabilidades. Em suma, representam investimentos de maior risco. Não obstante, segundo Daniel Pingarrón, senior Institutional Sales e head of Private Markets da Natixis IM, também apresentam importantes vantagens, como uma rentabilidade possivelmente superior. O especialista explica que “a rentabilidade média dos primeiros fundos (fundos I, II e III) tende a ser melhor do que a dos fundos posteriores (fundo IV em diante). Além disso, uma maior percentagem de fundos do primeiro quartil provém dos Fundos I, II e III, segundo dados da Flexstone (afiliada da Natixis IM). Estes fundos também permitem uma maior diversificação, complementando a estratégia principal de alocação em private equity a gestores consolidados. Por último, outra vantagem para os LP é que podem garantir uma possível alocação futura nos fundos seguintes e aceder a coinvestimentos com um GP bem-sucedido”.
Geralmente, os emerging funds centram-se no lower mid-market, embora existam algumas exceções. Este segmento é especialmente atrativo devido ao amplo universo de oportunidades que oferece, o que permite realizar investimentos significativos e diversificados. Além disso, esta abordagem tem o potencial de gerar elevados retornos e oferece vários canais de saída, como compradores financeiros ou estratégicos, OPV e outras formas de desinvestimento.
Segundo Daniel Pingarrón, “as empresas pequenas tendem a atrair mais compradores, exigem menos financiamento e contam com maiores possibilidades de saída”. O enfoque no middle market fomenta uma alavancagem mais conservadora, uma vez que as pequenas e médias empresas são mais fáceis de financiar e têm acesso a um maior leque de mutuantes.
Além disso, destaca que os fundos emergentes são, normalmente, mais pequenos, o que “favorece a disciplina na fixação de preços e o ritmo de investimento. Estes fundos costumam ter uma abordagem de investimento muito definida e coerente, com menos desvios estratégicos. De facto, muito emergentes tendem a especializar-se em setores concretos”.
Como analisar um emerging fund?
Apesar das potenciais vantagens assinaladas, não podemos perder de vista o facto de que o investimento em gestores emergentes comporta um maior nível de risco em comparação com gestores mais consolidados, especialmente se a equipa não tiver trabalhado anteriormente em conjunto ou implementado a mesma estratégia de investimento. A falta de um historial comprovado ou de experiência em certos setores aumenta a incerteza.
Mário Garcia Ribeiro, diretor de Investimentos de Private Equity na Schroders Capital, destaca: “Neste tipo de investimentos, há uma maior dispersão nos retornos. Existem grandes oportunidades para obter um retorno significativo, mas também pode acontecer o contrário. Desta forma, é fundamental selecionar os melhores gestores, o que exige uma due diligence rigorosa que permita avaliar adequadamente o potencial destes investimentos”.
Mas o que é necessário analisar quando se investe neste tipo de gestores? Segundo Mário Garcia Ribeiro, “é importante compreender bem as suas estratégias de investimento. Isto implica avaliar o seu desempenho histórico em termos de capacidade de deal sourcing (identificação de oportunidades de investimento), metodologias e playbooks de criação de valor, bem como estratégias de saída, contextualizando claramente estes fatores na experiência coletiva anterior da equipa de investimento. Além disso, é importante analisar as suas estruturas de governança e os riscos operacionais associados à gestora e aos seus acionistas. Em certos casos, apoiamos emerging managers que eram spin-offs de GP estabelecidos ou avaliámos com sucesso coinvestimentos em paralelo”.
Gestores mais comprometidos
Um dos principais pontos fortes dos emerging managers é o seu elevado nível de compromisso com o fundo, uma vez que tendem a destinar uma maior proporção do seu património pessoal. Isto gera “um forte alinhamento de interesses, uma vez que estão diretamente vinculados ao sucesso do fundo, o que dá tranquilidade aos LP quando lidam com gestores menos estabelecidos”, assinala o especialista da Natixis IM. Além disso, “se o fundo não for bem-sucedido, o gestor pode não receber comissões de desempenho ou juros corridos, que representam frequentemente uma parte significativa dos incentivos económicos. Isto também dificulta a captação de capital para futuros fundos”. Em contrapartida, os fundos consolidados de maior dimensão tendem a ter gestores cujos incentivos económicos são mais limitados, uma vez que os objetivos de rentabilidade costumam ser mais baixos. Segundo Daniel Pingarrón: “Apenas investimos em gestores emergentes que estejam completamente dedicados à gestão dos seus próprios fundos, evitando os que continuam a gerir veículos da sua antiga gestora de private equity”.
Neste contexto, Mário Garcia Ribeiro afirma que um fator positivo dos emerging managers é precisamente não ter legacy portfolios, o que lhes permite centrarem-se completamente em identificar novas oportunidades de investimento atrativas. “Compreender o alinhamento da equipa é essencial, em particular o seu GP Commitment, que se refere ao seu próprio património investido no seu fundo de private equity. No entanto, investir em gestores emergentes pode ser mais arriscado devido a vários fatores difíceis de mitigar relacionados com a estratégia, a dinâmica da equipa, o histórico de desempenho, a governança e os riscos operacionais, entre muitos outros”.
Em suma, é fundamental analisar adequadamente todos os aspetos para decidir em que gestoras investir. Só através de uma avaliação profunda de todos os aspetos-chave se poderá tomar uma decisão que maximize as oportunidades e minimize os riscos.