O responsável de Produto e Estratégias de Investimento da gestora não descarta surpresas nas próximas reuniões dos bancos centrais se a debilidade económica acentuar.
Há um tema que domina o mercado de obrigações atual: o que os bancos centrais vão fazer nos próximos meses. Na opinião de Erick Müller, os mercados estão a recalibrar as suas previsões, e, agora, há uma clara expetativa de que os bancos centrais deverão acelerar o seu ciclo de corte de taxas.
O responsável de Produto e Estratégias de Investimento da Muzinich & Co. falou à imprensa na mesma manhã em que saíram os dados de setembro de PMI europeus, e a sua avaliação do estado da economia não é propriamente positiva. “O PMI alemão esteve melhor do que o esperado, mas continua em fase de contração”, explica o diretor. A isto pode somar-se o impacto de uma vitória de Donald Trump na Europa. “Uma política comercial agressiva é uma má notícia para a Europa”, alerta. Segundo os seus cálculos, a imposição de tarifas pode impactar seriamente o PIB de 2026, bem como o capex das empresas.
E o impacto não é só na Europa. Como recorda Erick Müller, o Banco Central do Canadá surpreendeu na sua reunião mais recente com um agressivo corte de 40 pontos base, uma medida que não tomava desde o surgimento da pandemia. “A produção industrial global está apenas em níveis positivos. Há sinais de debilidade na economia”, afirma.
E se o BCE tiver de acelerar?
“A grande questão que o BCE coloca agora é porque é que o consumo privado se dissociou da poupança das famílias”, sublinha. “Não é pela confiança da população, porque esta está a aumentar, nem pela falta de poupança, porque também cresceu 15%. A população ainda tem confiança no futuro para reativar o consumo de volta à tendência pré-pandemia”.
Se essa debilidade se acentuar, Erick Müller acredita que o BCE vai ter de acelerar o seu ciclo de cortes. De facto, não descarta um corte de 50 pontos base na reunião de dezembro. “Vão querer manter abertas todas as suas opções até ao último momento”, reconhece o especialista, mas a sua previsão é que a entidade monetária vai rever em baixa as suas previsões de crescimento para 2025, bem como da inflação. “Se antes se esperava que a inflação baixasse de 2% no final do próximo ano, a minha previsão é que, agora, será a meio de 2025”, afirma.
Oportunidade em high yield
De tudo o que foi mencionado acima, do ponto de vista do investidor, Erick Müller está bastante otimista com as valorizações das obrigações. “A não ser que haja uma recessão, que não é o meu cenário base, não vejo razões para temer uma correção”, afirma. Como aponta, a procura no mercado primário não foi afetada. “Os fatores técnicos são fortes, e enquanto as empresas tiverem acesso a financiamento, não há risco de incumprimentos passivos”, argumenta.
Concretamente, um dos segmentos que a equipa da Muzinich & Co. considera atualmente atrativo é o de high yield. E é uma convicção que mantêm há 12 meses. No início, beneficiando do pull to par, e, agora, principalmente devido às yields. “E mesmo que surgisse uma recessão, a correção seria de 50-75 pontos base, porque, a esses níveis, os investidores voltariam a comprar. Em 2024, os investidores voltaram às obrigações. O apetite pelo carry é o rei”, conclui.