Especialistas afastam níveis críticos nas yields das obrigações apesar da subida na emissão desta quarta-feira

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Créditos: Aayush Gupta (Unsplash)

O que está a acontecer com as obrigações só vai acelerar”, dizia recentemente Justin Jewell, gestor especializado em obrigações high yield na BlueBay AM numa entrevista à FundsPeople. Para o gestor, as obrigações em geral estão a atravessar um dos momentos mais complexos dos últimos anos, muito embora isso não faça com que entre em pânico. “Estamos no pico da febre agora. O crescimento pode ressentir-se entre 2 a 3%, mas isso não nos levará a uma recessão”, defende o gestor. E embora veja uma política monetária mais ajustada, não implica necessariamente níveis críticos para as obrigações. “É muito difícil para mim imaginar taxas de juro na Europa acima de 2%”, dizia o especialista.

Emissão desta quarta-feira

Não obstante, e apesar de as expetativas sejam de que as taxas diretoras do BCE não quebrem os 2%, Portugal foi esta quarta-feiras aos mercados para uma emissão sindicada de Obrigações do Tesouro a 10 anos, onde assistimos a uma subida das yields da emissão relativamente à mais recente emissão equivalente em sete de abril de 2021. "O cupão foi estabelecido na taxa mid swap do euro a 10 anos, que está nos 1,32, adicionada de um spread de 35 pontos base, o que dá uma taxa final de 1,67. Há um ano o cupão tinha sido de 0,3, o que representa uma subida de cerca de 137 pontos base no custo desta nova emissão", indica Filipe Silva, diretor de Investimentos do Banco Carregosa.

"A subida acaba por refletir o momento que temos no mercado de dívida. Os bancos centrais, com o BCE incluído, têm vindo a anunciar o fim dos programas quantitativos, seguidos de subidas de taxas de juro, para fazer face à elevada inflação que se tem mostrado mais persistente do que inicialmente se esperava. Por outro lado, temos a invasão da Ucrânia por parte da Rússia, que trouxe um risco adicional para a Europa e ainda agravou mais a questão inflacionista", conta o especialista. Contudo, apesar do aumento dos prémios de risco, que podem vir a prejudicar os países mais endividados, para o especialista, ainda estamos longe dos níveis críticos.

Stéphane Déo, responsável de Estratégia de Mercado da na Ostrum AM, filial da Natixis IM, colocava recentemente Portugal entre os maus alunos arrependidos, juntamente com a Grécia. "Têm um elevado nível de dívida, mas uma posição orçamental favorável e, portanto, uma trajetória descendente do rácio dívida/PIB”, comenta. Este cenário traça ao nosso país um destino previsível menos mau que outros países da europeus da OCDE onde o défice não ajuda a estabilizar o nível de dívida, mas isso não impediu que o custo de financiamento se agravasse como resposta aos recentes desenvolvimentos do mercado.