Especialistas começam a prever uma forte inflação a curto prazo

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Créditos: Michael Kroul (Unsplash)

Para além da incerteza em torno da guerra, a maior preocupação continua a ser a inflação. Os preços vão subir devido aos choques no fornecimento de petróleo e gás?  É uma das muitas questões que os investidores estão atualmente a fazer quando analisam a situação macroeconómica para tomar decisões de asset allocation. Analisamos os cenários nos Estados Unidos e na Europa.

Inflação nos Estados Unidos

Chris Iggo, diretor de Investimentos Core da AXA IM, reconhece que “existe a possibilidade de ainda em março haver um grande salto na inflação após o aumento dos preços globais do petróleo causado pela invasão”.  O especialista levanta dois cenários, alertando que qualquer um deles será negativo para os mercados.  

O primeiro, é uma taxa de 10% anual para o IPC dos EUA. “Será surpreendente, já que exigirá que a variação mensal do índice rondasse os 2,6%. Seria o maior aumento mensal do índice desde 1947”.

O segundo cenário seria ver uma taxa de inflação de 9% anual. “Seria necessário o quarto maior aumento mensal desde então.  Os preços da gasolina nos EUA aumentaram 21% em março e têm um peso no IPC de pouco mais de 3,7%, o que por si só poderia contribuir até 0,78% para a variação mensal. Mas, apesar de muitas outras coisas também terem de subir significativamente, é possível”, reconhece o especialista.

Inflação na Europa

No que diz respeito à inflação da zona euro, pode presumir-se que um aumento de 10% no preço do petróleo equivale a um aumento de 0,3% da inflação. “Isto significa que o mesmo aumento de 60% acrescentaria 1,8% à taxa de inflação geral. Os preços do gás são difíceis de calcular porque são mercados regulamentados onde os preços são muitas vezes fixos. No entanto, dado que os preços do gás e da eletricidade representam 4% do cabaz de consumo, um aumento de 10% pode equivaler a um aumento da inflação de 0,3 pontos percentuais”, explica Lewis Aubrey-Johnson, diretor de Produtos de Obrigações da Invesco.

Na sua opinião, embora os preços tenham aumentado 200%, são poucas as compras feitas a este preço. “Em vez disso, devemos olhar para os mercados em que o aumento dos preços tem sido mais modesto. Em 12 meses, os preços do gás subiram 50%, o que poderá equivaler a um novo aumento da taxa de inflação de 1,5%. O impacto inflacionista combinado do petróleo e do gás pode rondar os 3%”, revela.

No entanto, a inflação pode também ser afetada por desafios nos setores dos metais e das matérias-primas. “Tentar estimar o IPC neste período é muito difícil e esses aumentos devem manter-se. No entanto, o panorama geral é que parece que a inflação pode aumentar, potencialmente muito significativamente”.