“Este é o melhor momento dos últimos seis anos, no qual o investidor em mercados emergentes recebe compensação pelos riscos assumidos”

Alejandro_Arevalo
Cedida

Embora a desaceleração dos mercados emergentes seja evidente, os investidores devem ter em mente que, ainda assim, estes continuam a crescer a um ritmo superior ao dos países desenvolvidos. Esta foi uma das ideias que Alejandro Arévalo, especialista de obrigações corporativas emergentes e gestor da Pioneer Investments, deu a conhecer recentemente numa vista a Lisboa. O profissional insistiu anda na melhoria da liquidez dos mercados de obrigações emergentes durante os últimos dois ou três anos, bem como na sua maior diversidade, especialmente no segmento de dívida empresarial: “As obrigações corporativas ultrapassaram as soberanas em moeda local”.

O especialista indica que, atualmente, contabiliza mais de 200 novas empresas com sede num país em vias de desenvolvimento, que pela primeira vez recorreram ao financiamento de mercado; por sua vez, isto fez com que o índice de referência tenha crescido, contando já com 600 empresas e mais de 1.000 emissões. “Desde 2009 que o mercado emergente tem sido o de maior crescimento, especialmente em termos de sectores. Vemos mais empresas por sector e mais sectores por índice, e isto ajuda na diversificação da carteira, mas também a refletir melhor a nossa visão de curto e longo prazo”, acrescenta. Por outro lado, são duas as exceções neste campo: “Não esperamos emissões de empresas russas durante este ano, e no Brasil acreditamos que as emissões serão retomadas depois da publicação do estado financeiro da Petrobras”.

 Estas constatações levam Arévalo a afirmar que “a dívida high yield e investment grade vai seguir a tendência dos EUA e da Europa, dos últimos anos”. Ou seja: “Mais transparência, menos colateral, melhores estruturas financeiras e um grupo mais amplo de investidores”. A isto acrescenta que na empresa detetaram um interesse crescente por parte dos gestores de dívida europeia em relação à compra de emissões de empresas de mercados emergentes denominadas em euros.

No que diz respeito aos fluxos, em primeiro lugar ressalta a estabilidade desta classe de emissões, visto que os investidores de retalho apenas perfazem 20% dos fluxos da dívida emergente.  No leque de institucionais que investem nesta classe de ativos destaca o dinheiro das seguradoras e fundos de pensões que investem com um horizonte temporal de pelo menos cinco anos. “As obrigações corporativas são mais estáveis do que as soberanas, porque no caso de uma preocupação no mercado primário costuma vender-se o mais líquido, que neste caso, são as obrigações do governo”, enfatiza. Em termos macro, centra-se no baixo rácio de alavancagem das empresas emergentes. Na verdade, destaca que na região de Latam a dívida das empresas compõe apenas 10% do PIB, o que representa o rácio mais elevado por região; em sentido contrário, as empresas asiáticas são as menos endividadas, compondo apenas 4% do PIB.

Principal risco do atual contexto

A grande preocupação para este ano é a anunciada subida das taxas de juro nos EUA, embora o gestor recorde que “em 95% do mercado estavam enganados no ano passado”. Na verdade, o fundo estrela na estratégia emergente acabou por perder ligeiramente em termos de rentabilidade porque estiveram curtos em termos de duração, uma exposição que continua a ser implementada atualmente no fundo, embora com melhores resultados. A previsão atual do profissional é de que a primeira subida das taxas possa acontecer no final deste ano, e que a rentabilidade da dívida do Tesouro norte-americano aumente lentamente. Por outro lado considera que se vai repetir o ‘taper tantrum’ de 2013: “Os gestores de obrigações emergentes dispõem de uma almofada suficiente para gerir a volatilidade gerada por uma subida das taxas. Para além disso, devem recordar que se os EUA subirem as taxas é porque estão a crescer, e isso é bom para o mundo emergente porque exportam muitos produtos para os EUA”.

O especialista acrescenta o facto dos spreads da dívida emergente face à norte-americana “serem interessantes, apesar do risco político, económico e de liquidez”. O profissional afirma que “este é o melhor momento dos últimos seis anos, no qual o investidor nos mercados emergentes recebe compensação pelos riscos assumidos, embora seja certo que a contribuição da Rússia e do Brasil distorça a valorização de outros mercados”.

A atualização da estratégia

Que ideias concretas é que  foram implementadas pela equipa de obrigações emergentes no Pioneer Funds – Emerging Market Bond? A ideia que o especialista mais destaca é o aumento de exposição a dívida soberana, porque oferece um rendimento similar à corporativa e conta com o apoio governamental caso existam problemas. É uma estratégia diversificada mas atualmente apresenta maior exposição a dívida soberana, de forma a estar mais próxima do índice”.

A maior parte dos investimentos são dívida investment grade (o rating médio é BBB), a rentabilidade média até ao vencimento é de 6,8% e a duração efetiva média é de 3,9 anos. Para além disso, a duração média dos diferenciais situa-se em 3,1 anos. Praticamente o total dos investimentos realizou-se em dólares, apesar do especialista indicar que existe alguma exposição a euros, embora esta tenha acontecido primordialmente por causa dos fluxos de entrada de investidores no fundo.

Em termos de regiões, o gestor indica que atualmente sobreponderam China, que configura a maior aposta. Também contam com exposição a Índia, apesar de acreditarem que já chegou a hora de começar a reduzi-la por causa do encarecimento do mercado. Desta forma, o fundo apresenta uma ligeira sobreponderação a Brasil, com investimentos selectivos em obrigações de empresas ligadas à exportação (principalmente da indústria alimentar de carnes), químicas e infraestruturas. Outros países que apreciam são o México – por causa do efeito positivo das reformas em vários sectores chave para a economia – e a Nigéria, especialmente ao nível dos bancos nigerianos.