Evento BBVA AM: como lidar com taxas de juro negativas?

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cmmtechnology, Flickr, Creative Commons

A conferência que reuniu clientes da instituição contou, em primeiro lugar, com a reflexão de Jorge Bento Farinha, docente convidado da Porto Business School. Abordando diversos pontos sobre um contexto de mercado que, em certa medida, é inédito (e impensável em termos teóricos), o Professor começou por falar do quão perigoso pode ser este caminho percorrido, e como isso já se reflete nas próprias características dos mercados, atualmente.

Para Jorge Bento Farinha, o nível atual das taxas pode ser enquadrado no âmbito de uma “experiência”, que é sintomática de que “as vias de intervenção mais convencionais se revelaram ineficazes motivando a procura de novas soluções”. Uma experiência que, referiu, se enquadra na seguinte lógica: “Se existirem taxas de juro baixas –ou negativas, no limite – reduzir-se-ão os custos de financiamento de empresas e particulares e o nível de investimento na economia será maior, proporcionando um maior impulso económico. Por outro lado, quem tem aplicações de baixo risco será forçado a procurar ativos de risco maior, o que poderá ser favorável para certo tipo de empresas. Os particulares, por seu turno, têm um maior apelo para gastar dinheiro, a moeda local desvaloriza-se e as exportações aumentam”.

Mas este caminho funciona? E será sustentável?

 Nos EUA, por exemplo, recordou o professor, “o facto das taxas estarem há muito tempo baixas e negativas em termos reais tem tido impacto, particularmente no sector imobiliário”. Neste sentido reiterou que este nível de taxas fomenta bolhas especulativas em alguns sectores, levando ainda ao reforço do uso de dinheiro físico e a fuga dos depósitos.

Jorge Bento Farinha deu também alguns exemplos curiosos que este tipo de contexto está a criar. “Se um cliente quiser pagar antecipadamente ao fornecedor, isso significa que o fornecedor vai aceitar... mas desde que o cliente pague mais”, indica. Na Suíça, por exemplo, a autoridade fiscal está, de certa forma, “a incentivar que as pessoas não tenham pressa em pagar as suas dívidas fiscais, em virtude da remuneração negativa dos depósitos bancários”.

E oportunidades... existem?

Como habitual, num meio ambiente inóspito há sempre lugar para oportunidades. Com taxas de juro baixas, há lugar por exemplo, para as Seguradoras entrarem no negócio bancário oferecendo segurança de depósitos. Outro exemplo, referiu, “é a criação de alguns fundos de investimento que aproveitam as oportunidades de um mundo de taxas de juro negativas”.

Jorge Silveira Botelho, CIO da BBVA AM Portugal, centrou a sua apresentação nos vários D’s que marcaram a economia e os mercados nos últimos anos. Falou de questões como a dívida, o défice, desinvestimento, desemprego, desinflação, desconfiança, etc, não deixando de parte a questão do degelo, uma questão séria, mas que acrescentou em tom de brincadeira. Destacou especialmente, ao nível do tema ‘Desconfiança’, um gráfico que dá conta da aversão ao risco que se tem vindo a viver. Esse gráfico dá conta da evolução do Credit Suisse Fear Barometer Index que relaciona o preço de opções de venda (put options) com o das opções de compra (call options) sobre o S&P 500. A evolução positiva deste índice indica que os investidores assumem uma maior probabilidade de retornos negativos nas ações. “Se antes para ganhar 10% no mercado, os investidores estariam dispostos a perder 10%, hoje em dia para o mesmo ganho têm de estar dispostos a perder 40%”, referiu.

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Apesar de todos os riscos enunciados que pairam sobre os mercados financeiros, Jorge Silveira Botelho destacou a importância que a política monetária acabou por ter, para evitar o que poderia ter sido uma nova grande depressão desde o início da crise em 2008.

O grande sucesso dos Bancos Centrais foi permitir aos Estados, às empresas e às famílias, uma reestruturação passiva das suas dívidas, criando condições para uma melhoria substancial do perfil de endividamento de médio e longo prazo. Criaram-se condições para uma recuperação do mercado de trabalho nas economias desenvolvidas e devolveu-se ao Estado a capacidade de enveredar por políticas fiscais expansionistas que incrementarão o emprego e a atividade económica.

No entanto, chegámos a um ponto em que o excesso de estímulos monetários pode começar a ter efeitos perversos na economia.

Num recente artigo publicado na Funds People, o profissional analisa precisamente os riscos de se viver num mundo com taxas de juro muito baixas ao negativas. Leia aqui o artigo completo, onde o profissional apela a um NegExit.