Um olhar sobre a semana nos mercados
Enquanto alguns Bancos Centrais continuam a achar que com taxas tão baixas e tanta oferta de dinheiro, mais tarde ou mais cedo se vai transformar em crescimento económico, outros Bancos Centrais têm problemas diferentes. Tudo isto num ambiente em que se duvida que o crescimento da China seja o que dizem, em que o preço do petróleo continua a descer e a pressão sobre a inflação se mantém.
No caso da Fed, será que Yellen vai conseguir um equilíbrio entre a confiança no desempenho da economia e o reconhecimento de mais riscos na economia global que podem afectar a economia americana?
Depois de membros do Fed terem referido expressamente que o ritmo das subidas de taxas deve ser mais moderado, eis que em fevereiro já se desconta só uma subida (no final de 2015 estavam completamente descontadas duas subidas), e talvez nem essa aconteça, com o preço da energia a continuar pressionado em baixa e a perspectiva de mais estímulos por parte do BCE.
A desaceleração do crescimento nos Estados Unidos aumenta o receio de um abrandamento global, com particular destaque para a China, que enfrenta em 2016 o menor crescimento dos últimos 25 anos e vê-se ultrapassada pela Índia como a economia com o maior crescimento do mundo.
A China enfrenta um grande dilema. Não consegue desvalorizar o Yuan, sem sofrer pressão do FMI, sem ter impacto na bolsa e sem ver aumentar a fuga de capitais.
Por outro lado, para manter o Yuan mais ou menos controlado, tem que gastar montantes muito grandes das suas reservas sem sacrificar metas estabelecidas para o PIB.
Estes receios sobre a China e sobre a economia global têm feito derreter os mercados bolsistas asiáticos e europeus, com os bancos a sofrer fortes perdas, tudo isto num cenário de taxas de juro negativas, que penalizam os aforradores e não os bancos.
Depois do grave problema de emissões das viaturas Volkswagen, a maior economia europeia está novamente debaixo de fogo, com o Deutsche Bank a liderar as preocupações. O banco Alemão já perde mais de 30% no que levamos de 2016.
Com pouca presença no mercado de retalho, e com o foco virado para a especulação (estima-se que a sua carteira de derivados ultrapasse os 64 triliões de Euros - 5 vezes o PIB da Zona Euro !!), o atual cenário pode rapidamente avançar para um novo Lehman Brothers.
O foco propositado na crise grega e na periferia da Zona Euro, deu tempo ao banco Alemão, mas aparentemente isso não foi suficiente. E isto passa-se no coração do capitalismo Europeu, à sua volta e na periferia, onde o cenário é muito pior, e de novo será bom recordar, não vai haver munições que cheguem a Draghi.
Quando algumas economias europeias já mostravam algum crescimento interessante e os Estados Unidos, aparentemente, já estavam num outro ciclo, eis que um golpe deste género pode deitar tudo a perder.
As próximas semanas vão ser pródigas em acontecimentos interessantes.
(imagem: marfis75, Flickr, Creative Commons)