Fed sobe taxas em 0,50%: as reações das gestoras internacionais

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Créditos: Ferdinand Stohr (Unsplash)

Uma no cravo, outra na ferradura. Uma subida de taxas de apenas 50 pontos base, mas acompanhada de uma previsão de taxa terminal mais elevada. Na sua última reunião do ano, a Reserva Federal cumpriu as expetativas do mercado: a subida das taxas perdeu intensidade. Comparando com os 75 pontos base que tinham sido a tendência dos últimos meses, em dezembro subiram apenas 50. No entanto, o gráfico de pontos (o famoso dot plot) revelou que os membros do Conselho veem agora as taxas de juro nos Estados Unidos terminarem nos 5,1% em 2023 e 4,1% em 2024.

Quanto à primeira reação do mercadoos índices norte-americanos caíram na noite de quinta-feira, ao confirmar que Jerome Powell não celebra, de todo, os últimos dados do IPC dos EUA, que voltou a surpreender negativamente. Os índices norte-americanos fecharam com ligeiras quedas de cerca de 0,5% e 0,7% no caso do Nasdaq, um índice com mais duração devido ao seu viés para o setor tecnológico.

Taxas mais altas mais tempo

É uma reação que não surpreende Christian Scherrmann, economista americano da DWS. Durante a conferência de imprensa, Powell reiterou que os mercados de trabalho estão muito ajustados (uma opinião partilhada por Scherrmann) e que a oferta e a procura de mão de obra estão desequilibradas.  Repetiu o mantra de que as taxas vão continuar mais altas por mais tempo. “Os seus comentários sugerem que a Fed ainda não está convencida de que a inflação seguirá um caminho descendente sustentado”, disse.

E isso é confirmado pela atualização do Resumo das Projeções Económicas. Os membros do FOMC mostram-se dispostos a aumentar ainda mais as taxas em 2023 do que já indicaram na reunião de setembro, de 4,6% para 5,1%. “Parece que agora estão dispostos a pagar um preço mais alto para controlar a inflação", afirma Scherrmann. É um sentimento com o qual Jack McIntyre, gestor da Brandywine Global (parte de Franklin Templeton), concorda. “Parecem querer que os mercados financeiros contraiam ainda mais, o que significa essencialmente que querem preços de ações mais baixos”. Nesta reunião não houve diversidade de opiniões entre os membros da Reserva Federal. Para McIntyre, esta posição unificada aumenta as probabilidades de a economia se estatelar contra um muro inflacionista em 2023.

Previsões económicas mais severas

"A variável-chave a partir daqui será a forma como o crescimento se mantém face a um maior ajuste", comenta Charles Diebel, responsável de Fixed Income da Mediolanum International Funds Limited. E pelo que vemos na atualização das suas previsões económicas, o cenário é complicado. "Os gráficos de pontos mostraram uma projeção crescente de uma possível recessão, sublinhando os danos que o ajuste contínuo iria infligir ao crescimento", acrescenta Salman Ahmed, responsável global de Alocação de Ativos Macro e Estratégicos da Fidelity.

Há indicadores da economia dos EUA que não convencem Powell. Por exemplo, Ahmed aponta como o presidente reiterou que a Fed partilhou a sua preocupação de que a inflação subjacente não relacionada com a habitação pode tornar-se mais rígida. Daí a necessidade de manter as taxas mais altas por mais tempo. Powell também se referiu à escassez de mão de obra estrutural, que poderá manter a inflação elevada, pelo que poderá ser necessária uma política ajustada durante um período prolongado.