Félix de Gregorio (Jupiter AM): “Existe uma grande assimetria da qual temos de estar conscientes”

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Felix de Gregorio. Créditos: Cedida (Jupiter AM)

Há algum tempo que temos vindo a ouvir falar muito da profissionalização da indústria da gestão de ativos. Como as melhorias tecnológicas e o acesso a dados nos processos de seleção se está a tornar mais mecânico. Mais quantitativo. Por um lado, é uma vantagem para as empresas mais pequenas com bons produtos que entram no radar dos selecionadores sem a necessidade de primeiro contarem com um alto património. Mas, por outro lado, ainda terá importância o papel de vendas de uma gestora?

Para Félix de Gregorio, responsável da Jupiter AM para a Península Ibérica, é um papel crucial. “A componente qualitativa é fundamental”, defende. “Continuará a ser um fator diferenciador no processo de seleção de fundos”. Na sua opinião, um filtro quantitativo pode ser um bom primeiro passo, mas dá uma informação limitada. Continua a ver como algo vital a compreensão real da filosofia, visão e estratégia de um fundo. “E para isso continua a fazer falta o trabalho de um bom vendas”, apoia.

Nesta linha, De Gregorio considera mais importante do que nunca o trabalho de acompanhamento do cliente. Pelo menos é prioridade da Jupiter AM para momento atual. “O apoio ao cliente é um foco para mim. Não pode haver nenhum pedido de um cliente que não seja atendido”, conta. Essa filosofia proativa aplica-se independentemente do cliente. “Para a Jupiter não há clientes grandes ou pequenos”.

Oferecer mais valor além das modas

De Gregorio assumiu o comando da gestora britânica na península ibéria no passado mês de março após a saída de Gonzalo Azcoitia para a La Financière de l´Echiquier. Sobre esta nomeação, prefere falar de continuidade. De continuar o trabalho iniciado por Azcoitia após a entrada no mercado ibérico e posterior abertura do escritório da Jupiter em Madrid em 2016. A filosofia de trabalho mantém-se intacta: foco no trabalho de equipa com produtos de alta convicção. Atualmente o escritório ibérico conta com dois Vendas: Francisco Amorim e Susana García (que, a partir de Londres, continua a sua atividade com a equipa da América Latina e US Offshore). Recentemente, a equipa foi reforçada com Adela Cervera como apoio de Vendas.

Reconhece que foi um desafio assumir a responsabilidade máxima da Jupiter para a Península Ibérica. A indústria não só enfrentou uma pandemia e a sua correspondente correção nos mercados. O setor está a viver um período de consolidação que a própria Jupiter viveu na primeira mão com a compra da Merian em fevereiro de 2020. Mas De Gregorio defende que haverá sempre espaço para as empresas médias, sempre que ofereçam valor. “Procuramos entender as necessidades do cliente”, conta. “Isto é um trabalho aprofundado. Não se pode vender algo só porque está na moda”, sentencia.

A decisão do momento: como se posicionar face à inflação

E não é o único desafio que enfrenta. Reconhece que as conversas destes dias com os clientes se debruçam sobre um tema complexo. “A inflação está a marcar o debate. E posicionar-nos de um lado ou de outro representa tomar decisões de investimento muito distintas”, explica.

Neste contexto, na Jupiter estão a optar por ser um pouco mais conservadores. “Quando o mercado se põe tão binário às vezes a melhor estratégia é dar um passo atrás”, argumenta. Ainda que reconheça que há zonas do mercado no qual não é assim tão fácil adotar posições defensivas.

O grande exemplo são as obrigações. É uma parte muito importante das carteiras, mas, ao mesmo tempo, a mais difícil de posicionar. “Com as obrigações não temos de perguntar quanto há para ganhar, mas que risco de perda estamos a assumir neste contexto de mercado e com os atuais níveis de valuation”, reconhece. E, na sua opinião, a resposta a essa pergunta é que existe uma grande assimetria da qual temos de estar muito conscientes. “Há uma certa complacência em algumas áreas do mercado que costuma ser um indicador de perigo ao qual convém estarmos muito atentos", recorda. Não obstante, está otimista com o desenlace a longo prazo. As gestoras que souberam ler bem a macroeconomia e ajustar as suas carteiras de acordo, resistirão em prazos mais longos”, recorda.