Fortes críticas das gestoras internacionais à reunião de urgência do BCE

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Créditos: Sanziana Perju/ECB

Na reunião de urgência desta semana, o BCE anunciou que vai acelerar a finalização do desenho de um novo instrumento anti-fragmentação. Na reunião, a autoridade reafirmou o seu plano de utilizar os seus ativos no contexto do programa de compras de emergência (PEPP) para evitar que os spreads continuem a aumentar.

"Sabemos que o tamanho total do PEPP é de cerca de 1,7 biliões de euros, embora o vencimento médio dos ativos seja de pouco mais de sete anos e meio. O BCE não está a partilhar informação sobre que ativos se mantêm exatamente e, como resultado, não há nenhuma indicação de que quantidade de fundos estará disponível para que o BCE utilize a curto prazo", afirma Azad Zangana. Para o economista e estratega europeu sénior da Schroders, o PEPP é demasiado limitado para ser uma ferramenta eficaz para deter a perda de confiança do mercado.

O especialista considera mesmo que o BCE terá que ser muito mais criativo nos seus esforços. "O argumento que utilizou no passado é de que a fragmentação poderia provocar uma crise da dívida. Isto, por sua vez, criaria um contexto deflacionário através de uma possível recessão. No entanto, com a inflação em máximos de várias décadas e o BCE a tentar subir as taxas de juro nos próximos meses, utilizar os riscos de deflação como argumento carece de credibilidade".

De acordo com James Ringer, gestor de obrigações da Schroders, o anúncio do BCE é um passo na direção certa, mas fica aquém das expectativas de uma implementação imediata de uma ferramenta anti-fragmentação. “Parece que os spreads e as yields periféricas chegaram a um ponto em que o BCE precisava de reafirmar o seu compromisso de apoiar esses mercados. No entanto, o plano de reinvestimento não é novidade e resta saber com que rapidez a ferramenta anti-fragmentação pode ser implementada”, diz.

Para Ulrike Kastens, economista da Europa da DWS, embora o desenho ainda não esteja totalmente claro, o anúncio de que tal instrumento está a ser planeado deverá trazer algum alívio aos mercados. “Em geral, isso também deve dar ao BCE a oportunidade de aumentar as taxas principais de forma mais rápida e agressiva, já que o alargamento dos spreads é limitado até certo ponto. A autoridade monetária deve anunciar este novo instrumento já em julho, altura m que poderá aumentar as taxas de juro base pela primeira vez desde 2011."

Mais forte foi Franck Dixmier, diretor de investimentos globais de Rendimento Fixo da Allianz Global Investors, que garante que “o BCE parece estar a perder o norte”. Na sua opinião, a convocatória de uma reunião de emergência algumas horas antes da reunião do FOMC da Fed, antecipando a atenção dos mercados, "não significa nada de novo em relação ao que foi comunicado na semana passada na sua última reunião: os reinvestimentos do PEPP serão potencialmente utilizados para suportar spreads, e o BCE confirmou que está a trabalhar numa ferramenta anti-fragmentação ad hoc. Muito ruído e poucos resultados, e uma credibilidade que não aumenta”, conclui.