Francisco Amorim (Jupiter AM): “Portugal já representa entre 25% a 30% dos ativos na Península Ibérica, da gestora”

Francisco Amorim. Créditos: Jupiter AM

A Jupiter Asset Management está a passar por um processo evolutivo. Em junho de 2022, Andrew Formica, na altura CEO da entidade, retirou-se do cargo dando lugar a Matthew Beesley. Para Francisco Amorim, diretor de vendas para a Península Ibérica, existe atualmente a intenção de dar um novo rumo à casa gestora. E uma nova cara à frente da gestora é o maior sinal disso. “Em linhas gerais, estamos a tentar identificar o que correu menos bem no passado, e tentar perceber o que pode correr melhor no futuro, nomeadamente apostar por novos canais de distribuição, novas regiões e dar prioridade a estratégias core”, refere numa entrevista à FundsPeople. 

O que na verdade se pode dizer que corre bem são os cerca de três anos que Francisco Amorim leva à frente da parte comercial do negócio em Portugal. O profissional está ciente de que o facto de ser português levou a um crescimento do negócio no país, mas também a experiência que teve como selecionador fá-lo entender bem o perfil e as necessidades dos investidores. Os resultados estão à vista. “Percentualmente, Portugal já representa entre 25% a 30% dos ativos da Península Ibérica. Acho que o facto de ser português ajuda, mas também o facto de conhecer bem o mercado. A minha entrada na Jupiter foi claramente uma aposta vencedora, mas este é um trabalho em equipa”, faz questão de frisar. 

Oferta alargada

Quando se fala em Jupiter AM há um fundo que aparece automaticamente na nossa mente - o Jupiter Dynamic Bond. Contudo, esta é também a altura em que a gestora se quer posicionar noutros produtos. “Queremos que nos conheçam também pelo nosso franchise de fixed income, uma gama mais ampla dentro das obrigações, com fundos como, por exemplo, um produto que investe em CoCos, ou então uma estratégia de high yield que também disponibilizamos e se destacam face à concorrência. Queremos que o cliente se aperceba que temos outras soluções em fixed income e mais capacidades”, sublinha. 

Mas não é só dentro do fixed income que querem ser conhecidos. Na parte de alternativos, o profissional lembra que têm uma gama de fundos importantes que herdaram depois da compra da Merian, um alternativo de fixed income, um alternativo de ações e também um fundo de ouro e prata, para os quais querem chamar a atenção por esta altura. “Queremos que os clientes reconheçam que a Jupiter não é só fixed income, e que tem também outras classes de ativos, como os alternativos líquidos, que são vencedores dentro da sua categoria”, atesta. Fundos considerados descorrelacionadores, conta o responsável de vendas, que entende que este é um momento em que se verá quem mantém a consistência para entregar alpha

Também em terrenos mais de nicho, a Jupiter aposta nalguns fundos com universos mais específicos, como é o caso das ações japonesas, recorda Francisco Amorim. Estratégias ESG complementam o rol, e são uma aposta “para satisfazer clientes como, por exemplo, fundos de pensões, que precisem obrigatoriamente de fundos artigo 8º e 9º”.

Portas por abrir em Portugal 

Para Francisco Amorim, o brand awareness da Jupiter AM é inegável em Portugal. Contudo, confessa que existem ainda oportunidades por desenvolver em determinados segmentos de clientes. “Por vezes existem barreiras que demoram o seu tempo a ser ultrapassadas, seja por restrições impostas pela casa mãe em Espanha ou porque o processo de seleção de fundos é mais longo”, diz. 

Até agora o mercado de retalho e de banca privada tem sido bastante consolidado. Desse modo, o profissional vê espaço para crescerem no mercado institucional, no qual têm “uma aposta muito forte atualmente”. Reforça mesmo que têm feito um esforço grande - a partir da casa em Londres - de entrar nas plataformas e listas de recomendações de consultoras de investimento que trabalham com seguradoras e fundos de pensões. Na opinião de Francisco Amorim, o facto de o negócio em Portugal ser muito concentrado, faz que tenham de “criar parcerias de longo prazo”. 

Postura reativa no ESG 

Porque falar de evolução nesta indústria é falar obrigatoriamente de ESG, o responsável de vendas lembra que, contrariamente a outras casas, acabaram por ser mais reativos do que ativos na matéria. “Nós adotamos uma postura reativa, não indo à frente do pelotão pelas incertezas que iam existindo e pelas atualizações das normativas europeias. Bem ou mal, acho que esse posicionamento teve os seus frutos, pois fomo-nos adaptando e construindo uma gama de fundos artigo 8º e 9º”, recorda. A Jupiter não se assume então como uma “casa puramente focada no ESG”. Ao invés disso, preferiu criar um ESG hub dentro de portas que providencia informações aos gestores de carteiras, sendo o principal foco o G e o stewardship.

Do lado do cliente, 2022 trouxe diferenças face a 2021. “No ano passado, sentimos que os clientes exigiam que enviássemos informação apenas de fundos artigo 8º e 9º, e requeriam muitos due dilligence para entender se os fundos artigo 6º tinham a componente de sustentabilidade ou não. Conseguimos dar resposta a toda essa exigência”, recorda. Contudo, em 2022, fala de uma preocupação menor nesse sentido. Lembra mesmo o que aconteceu com o fundo estrela da casa. “O Jupiter Dynamic Bond é um fundo artigo 6º e tem clientes que são muito fiéis ao gestor.  Optámos por não transitar o fundo para artigo 8º ou 9º; mantendo-se no artigo 6º. Por outro lado, foi lançada uma nova versão artigo 8º do Jupiter Dynamic Bond, que apresenta algumas  exclusões no processo de investimento”, explica. Assim o fizeram. Lançaram em 2021 o Jupiter Dynamic Bond ESG. “Uma réplica do outro, mas com exclusões setoriais e regionais para poder cumprir o artigo 8º”, concluiu.