Assumiu as rédeas da Península Ibérica na Jupiter, e tem como objetivos fazer crescer o negócio da gestora na região: em Espanha querem incrementar o segmento de banca privada, e em Portugal as seguradoras e os fundos de pensões são segmentos a desenvolver.
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Já perto do final de 2024, chegava a notícia de que Francisco Amorim passava a estar aos comandos do negócio da Península Ibérica da Jupiter Asset Management. Assumia então o cargo de responsável de desenvolvimento de Negócio na região, figurando como o único português atualmente à frente de uma gestora internacional na região.
Quase quatro meses após ter assumido essas funções, Francisco Amorim conversou com a FundsPeople, e não tem dúvidas dos desafios pela frente. “O desafio principal é fazer crescer o negócio que temos, mas também conseguir diversificar ao nível de classes de ativos dos fundos que oferecemos”, começou por dizer. O responsável tem noção de que proferir Jupiter Asset Management acaba por ser sinónimo de rendimento fixo, com o reconhecimento de fundos como o Jupiter Dynamic Bond a falar bem alto. No entanto, com a compra da gestora Merian em 2020, o foco também passou a ser outro. “Ampliámos as nossas capacidades ao nível de classes de ativos e temos estratégias alternativas disponíveis às quais dedicamos um esforço grande de apresentação aos nossos clientes, para conseguirmos captações de ativos. É o caso do Jupiter Merian Global Equity Absolute Return Fund, fundo com Rating FundsPeople FP+ em 2025”, enfatiza. O mesmo acontece também com o esforço que têm feito ao nível dos produtos relacionados com metais preciosos, que podem fazer um fit interessante nas carteiras por esta altura.
Deste modo, Francisco Amorim traça com objetividade como quer que olhem para a gestora. “Não quero que a Jupiter seja conhecida como fazendo tudo bem; quero sim que nos identifiquem pelo reconhecimento que já temos nas obrigações, mas também como casa que oferece alternativos descorrelacionadores e mais nicho, mas ainda com capacidades dentro do segmento de ações”, detalha.
Crescer no private banking, seguradoras e fundos de pensões
Em termos de segmentos de clientes, o novo responsável diz estarem focados nos bancos Tier 1, mas também nos grandes grupos financeiros. Em Espanha, por exemplo, Francisco Amorim quer “desenvolver bem as redes de private banking”. Explica que querem estar presentes nas regiões que vão além de Madrid e Barcelona ao nível bancário, pois “existem cidades mais pequenas que também importam desenvolver”.
No caso de Portugal - mercado que o profissional conhece bem e onde foi selecionador de fundos - o responsável tem noção da vantagem de ser nativo. “É um mercado muito mais concentrado, mais pequeno, e no qual a minha nacionalidade me permitiu crescer mais rápido do que se calhar outros concorrentes”, realça. Contudo, apesar dessa proximidade, o responsável admite que falta à Jupiter chegar a outro tipo de clientes no nosso país, como é o caso dos fundos de pensões ou as seguradoras. No entanto, para o desenvolvimento do mercado nacional o profissional não esquece a importância de aproveitar as sinergias decorrentes da cada vez maior presença de grupos financeiros espanhóis em Portugal. “O facto de alguns grupos espanhóis estarem presentes em Portugal faz com que haja uma centralização em Espanha, e faz com que a grande maioria do nosso trabalho e esforço se faça a partir de Madrid”, adianta. Contudo, nem tudo é positivo nessa sinergia. Francisco Amorim sente que existe “menos discricionariedade em Portugal”, e assinala esse facto “como uma desvantagem” quando cobrem este mercado.
Mercado ibérico: laboratório de tendências
Olhando para a importância que a Península ibérica tem como um todo no negócio da Jupiter na Europa, Francisco Amorim não adianta números, mas assinala uma quota de mercado “muito elevada” na região ibérica. “Em termos europeus somos vistos como uma região um pouco específica, muito centrada na parte de distribuição de produto por parte de grandes bancos, não havendo um grande enfoque institucional”. Mas esse posicionamento pode ter as suas vantagens, e na Jupiter detetam que têm sido geradores de tendências de investimento para outras regiões e países, precisamente a partir da Península ibérica. “Para a Jupiter, a Península Ibérica é vista muitas vezes vista como um laboratório de produto: se funcionou aqui, talvez este produto possa ser usado noutra região”, descreve o pensamento da gestora.
ETF ativos e alternativos
Uma das tendências das quais a Jupiter não quis ficar de fora foi a dos ETF ativos. Já este ano de 2025, a entidade gestora embarcou no mundo dos ETF ativos, lançando um produto que se propõe a superar a rentabilidade dos investimentos tradicionais em obrigações soberanas. Francisco não tem dúvidas de que o ADN da gestora continua a ser o da gestão ativa e o da convicção, mas veem este capítulo como uma aprendizagem. “Acho que o produto pode ter muito sucesso. Obviamente que estamos a falar de algo que comercialmente significa comissões mais baixas, e de um mercado que está a crescer muito rápido… Mas nós queremos pertencer a essa tendência. Queremos olhar para o futuro e não ficar para trás”, atesta.
No campo dos alternativos, já referido anteriormente, a Jupiter também quer fazer uma aposta forte, nomeadamente nos alternativos líquidos, e também junto das bancas privadas. Nesse campo, o responsável está ciente de que o trabalho é sobretudo de literacia. “A nossa visão é de que este tipo de estratégias vêm atualizar a tradicional carteira de 60-40, e isso não é só para clientes altamente sofisticados”, aponta. Por isso, quando na gestora se sentam com redes de private banking veem o seu posicionamento a ter de se adequar. “Quando se está junto das redes de private banking tem que se atuar como um product specialist. Não se pode utilizar os fundos como uma commodity. Temos de ter a capacidade de passar de uma mensagem que é muito complexa, para uma muito simples”, realça Francisco Amorim.
A esse nível vale-se do seu percurso: foi selecionador de fundos, mas também teve uma incursão pelo mundo do aconselhamento financeiro. “Acho que a minha experiência faz com que tenha essa visão de como comunicar quer para uma equipa mais institucional, quer para uma equipa de private banking. Eu tenho muita facilidade em adaptar-me, e tento passar essa mensagem à minha equipa, de que nós temos que ser camaleões”, conclui.