Fredrik Langenskiöld (UBP PB): “A seleção de fundos alternativos requer uma análise profunda da estrutura operacional e legal”

Fredrik Langenskiöld. UBP
Fredrik Langenskiöld. Créditos: cedida (UBP)

O especialista Fredrik Langenskiöld, que dedicou 21 anos à gestão alternativa, destaca a importância de manter equipas separadas para a seleção de fundos tradicionais e alternativos. “Acreditamos que as caraterísticas para se selecionar um hedge fund são diferentes das caraterísticas para se selecionar um fundo long-only”, explica. Esta distinção permite à UBP abordar as complexidades únicas de cada tipo de investimento, garantindo uma análise exaustiva e especializada.

A importância de um track record sólido

O primeiro aspeto crítico na seleção de fundos alternativos é o track record do fundo e do seu gestor. Segundo Fredrik Langenskiöld, um fundo deve contar com pelo menos três anos de histórico comprovado para ser considerado. No entanto, em casos em que o gestor já tenha experiência prévia com a mesma equipa noutro fundo, pode flexibilizar-se este requisito, sempre que se possa “verificar e confiar nesse histórico prévio”.

Este track record não só reflete a capacidade do gestor para lidar com investimentos complexos, como também é um indicador de como este navegou pelas flutuações do mercado e pelas crises financeiras. Como afirma o especialista, “um histórico sólido é essencial para gerar confiança entre os investidores e garantir que o fundo tem capacidade para oferecer retornos consistentes”. No competitivo mundo dos hedge funds, esta confiança é fundamental.

O peso do volume de ativos

Outro fator fundamental é o volume de ativos sob gestão (AuM). Fredrik Langenskiöld destaca que, geralmente, o valor mínimo é de 100 milhões de dólares em AuM para entrar no processo de análise, embora sejam priorizados os com maior volume de ativos, o que indica uma determinada estabilidade e capacidade para gerir operações complexas. “Este valor mínimo pode variar em função da estratégia do fundo”, menciona, sublinhando que estratégias mais simples podem operar com menores volumes, enquanto as mais complexas requerem maiores AuM para serem viáveis.

A lógica por detrás deste critério radica nas economias de escala e na capacidade da gestora para suportar os custos operacionais associados à gestão de estratégias complexas. “Um fundo com um baixo AuM pode não ser capaz de se sustentar a longo prazo”, alerta o especialista, o que pode pôr em risco o investimento.

Comissões: um fator de peso, mas não determinante

As comissões são outro aspeto a considerar, embora não sejam necessariamente o mais determinante. Na entrevista, o especialista menciona que “se dois fundos tiverem um retorno e uma qualidade semelhantes, aquele que tiver as comissões mais baixas será a opção preferencial”. No entanto, também sublinha que se um fundo com comissões mais elevadas oferecer uma performance líquida significativamente superior, a sua seleção poderá justificar-se.

As comissões nos fundos alternativos variam consideravelmente. Fredrik Langenskiöld menciona que, enquanto alguns fundos podem cobrar até 8% em comissões anuais devido à estrutura pass-through, outros fundos mais básicos podem ter comissões tão baixas como 0,50% sem comissões de performance. “Isto salienta a importância de se compreender a estrutura de comissões e como estas impactam os retornos líquidos”, explica.

Foco na diversificação e na capacidade operacional

A diversificação é outro aspeto essencial na seleção de fundos. “Focamo-nos em gestoras que acrescentam realmente valor e oferecem uma verdadeira diversificação”, destaca o especialista. “As estratégias como o relative value e os fundos sistemáticos têm ganho protagonismo, oferecendo retornos atrativos num contexto de mercado mais disperso”.

Adicionalmente, a qualidade operacional é fundamental: “Asseguramo-nos de que a parte operacional está bem estruturada, especialmente em estratégias complexas que utilizam derivados”, comenta. Esta abordagem meticulosa garante que os investimentos são seguros e que estão alinhados com os standards da indústria.

Para a UBP, a relação com as gestoras selecionadas não é apenas transacional. O especialista enfatiza a importância de compreenderem e estarem alinhados em termos comerciais com as gestoras. Em alguns casos, a UBP chega a estabelecer partnerships com gestoras específicas, incorporando os seus fundos em plataformas mais acessíveis, como UCITS. Este tipo de colaboração requer um alto nível de transparência e confiança mútua, o que, segundo Fredrik Langenskiöld, “pode ser um fator decisivo na seleção final de um fundo”.

Diferenciação do processo de seleção na UBP

A tecnologia desempenha um papel crescente na análise de fundos. Embora o especialista assinale que “a inteligência artificial ainda está longe de ser o núcleo da análise”, reconhece a sua utilidade na gestão de grandes volumes de dados e na identificação de riscos. “Na UBP, temos desenvolvido internamente uma base de dados robusta que nos permite ter uma visão global e detalhada dos fundos, facilitando uma pré-seleção eficiente”, explica.

Uma das caraterísticas que distingue o processo de seleção da UBP é a separação de equipas para fundos tradicionais e equipas para fundos alternativos. Enquanto em algumas gestoras os mesmos selecionadores analisam ambos os tipos de fundos, na UBP foram criadas equipas específicas para cada tipo, refletindo a complexidade e as particularidades dos fundos alternativos.

Além disso, o processo de seleção na UBP não se limita apenas à análise da estratégia de investimento, também inclui uma avaliação exaustiva da estrutura operacional e legal do fundo. “A seleção de fundos alternativos requer uma análise profunda não só da estratégia de investimento, como também de aspetos como a estrutura offshore, a regulamentação e os mecanismos operacionais que garantem a segurança dos investimentos”, conclui.

Otimismo quanto ao futuro da gestão alternativa

A seleção de fundos alternativos é um processo complexo que vai para além dos números. Requer uma combinação de análise financeira, experiência na indústria e uma compreensão profunda das dinâmicas operacionais e legais.

Fredrik Langenskiöld conclui a entrevista com um toque de otimismo quanto ao futuro da gestão alternativa. “Com a dispersão e a volatilidade atuais, hedge funds têm a oportunidade de se destacarem”, afirma.