Fund Manager Survey: pela primeira vez desde 2009 os gestores estão sobreponderados em obrigações

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Créditos: Scott Graham (Unsplash)

Será que já assistimos ao pico do pessimismo do investidor? Os gestores a nível mundial continuam preocupados com o contexto económico e com os mercados, mas, se olharmos para o último termómetro do Fund Manager Survey do BofA, podemos observar que essa negatividade está a diminuir. Um ponto que nos mostra claramente uma primeira diminuição do pessimismo é o nível de liquidez. Como já mencionámos, continua em níveis elevados, mas diminuiu desde novembro. De 6,2% do mês passado, baixou para 5,9%.

E a inflação, segundo antecipam os gestores, começa a aliviar. É um claro consenso: 90%, um recorde, acredita que a inflação mundial será menor nos próximos 12 meses. Menor, mas nem por isso baixa. Os gestores prevêm que a inflação medida pelo IPC norte-americano seja de 4,2% nos próximos 12 meses.

As expetativas de uma queda da inflação também impulsionam as expetativas de uma diminuição das taxas a curto prazo. 42% dos inquiridos espera uma queda das yields a curto prazo, a mais alta desde março de 2020.

Consequências de uma recuperação na China

Os sentimentos macro também continuam pessimistas, mas menos deprimidos. Agora, apenas 69% dos gestores inquiridos espera uma economia mais fraca nos próximos 12 meses. Em novembro, 73% assim o afirmava. Também podemos observar este pico nas previsões de uma recessão. No Fund Manager Survey de dezembro, 68% afirma que consideram provável uma recessão nos próximos 12 meses. Um número inferior aos 77% de novembro.

Na opinião do BofA, a diminuição das expetativas de recessão deve-se, provavelmente, à melhoria das perspetivas de crescimento da China, tendo o otimismo dos investidores sobre estas perspetivas aumentado acentuadamente. Atualmente, 75% vê uma economia chinesa mais forte em 2023 (em comparação com os 13% em novembro). Estamos perante a perspetiva mais positiva desde maio de 2021 e o maior aumento intermensal desde janeiro de 2020.

Por sua vez, isto terá um impacto no dólar norte-americano. 51% dos investidores esperam que o dólar norte-americano desvalorize, a percentagem mais alta desde maio de 2006. E se o dólar se move, movem-se também os emergentes. Desta vez para uma zona positiva. 13% dos gestores inquiridos estão sobreponderados em ações de emergentes. Pode parecer pouco, mas é a primeira vez em nove meses que estão sobreponderados na classe de ativos e a maior desde julho de 2011.

Recuperação na aversão ao risco

Tudo isto está a formar uma espécie de recuperação na aversão ao risco. O Indicador FMS de Riscos para a Estabilidade dos Mercados Financeiros baixou de 8,5% para 5,6%. É um ponto de viragem.

Mas esse maior interesse por mercados está a ser canalizado para as obrigações, 27% dos gestores espera que as obrigações governamentais sejam o ativo com melhores resultados em 2023. Depois seguem-se as ações, com 25%, as obrigações corporativas, com 24%, as matérias-primas, com 12%, a liquidez, com 6%, e as criptomoedas, com 4%.

E assim estão a preparar as suas carteiras. A alocação a obrigações disparou em dezembro. Com 10%, pela primeira vez desde abril de 2009, dos gestores a estarem sobreponderados (em termos líquidos) em obrigações. Além disso, como vemos no gráfico, o aumento foi rápido.

Também podemos ver este interesse por obrigações na comparação do posicionamento face ao histórico. Em relação aos últimos 10 anos, os investidores estão mais longos em obrigações, defensivos (cuidados de saúde e produtos básicos) e liquidez e subponderados em ações, tecnologia e consumo discricionário.

O aumento do sentimento não está tão claro nas ações. As perspetivas de lucro pouco melhoraram desde o máximo registado há dois meses. A percentagem líquida de investidores que esperam uma deterioração dos lucros piorou para 91% em dezembro, em comparação com os 86% de novembro e em concordância com os 91% de outubro.