Segundo dados da ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) e da APFIPP (Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios), o total gerido em fundos de pensões abertos e fechados rondava, no final de 2023, os 19 mil milhões de euros. A Ageas Pensões é a entidade que apresenta o maior montante, no caso 6,2 mil milhões. Segue-se a BPI Vida e Pensões e, em terceiro lugar, a GNB SGFP.
Mas se olharmos apenas para os fundos de pensões abertos, o Top 3 sofre uma pequena alteração. A Ageas Pensões mantém o primeiro lugar, com 841,7 milhões de euros em ativos sob gestão. O segundo lugar também se mantém, com o montante da BPI Vida e Pensões a rondar os 712,9 milhões de euros. É no terceiro lugar que ocorre a mudança, face ao geral de montantes geridos: a Futuro alcança o pódio, com 667,2 milhões de euros em ativos sob gestão.
Olhando para a alocação dos fundos de pensões abertos a fundos de investimento e ETF, observa-se que os ETF são o instrumento com maior peso nas carteiras destes fundos (23%). A Ageas Pensões e a BPI Vida e Pensões destacam-se nesta categoria, com um investimento de 29,1% e 46% neste tipo de produto, respetivamente.
Mercados privados e ETF
Os ETF desempenham um papel significativo na construção dos fundos de pensões. Valdemar Duarte, diretor-geral da Ageas Pensões, considera que em produtos de longo prazo, o value for money é “particularmente importante”. O profissional acredita que a gestão ativa acrescenta valor, mas que “uma boa parte dela pode ser proveniente da gestão de alocação entre classes de ativos e geografias”, e quando se trata da seleção de ativos para grandes mercados, afirma que "a escolha de ETF é muitas vezes a mais adequada em termos de rendibilidade e, de certeza, em termos de custo".
Já para Filomena Antunes, responsável da Área de Investimentos da Futuro, os ETF são instrumentos de mercado que oferecem “liquidez de entrada e saída, sob supervisão de reguladores”, e são “muito importantes na construção das carteiras dos fundos de pensões”. A profissional acrescenta ainda que a sua utilização, em termos de diversificação, acessibilidade e flexibilidade, “permite a implementação de estratégias específicas, contribuindo para uma gestão mais eficiente e possibilitando a conjugação entre a gestão ativa e passiva”.
Por outro lado, os fundos de ativos privados têm um peso médio pouco significativo nas carteiras dos fundos de pensões abertos (0,3%). No entanto, Valdemar Duarte considera que os mercados privados “podem ter um papel ainda maior nas carteiras dos fundos de pensões”. Ainda assim, considera que este papel será “complementar das principais classes de ativos”, uma vez que, como recorda, em Portugal estão limitados a 10% dos fundos. “Existe espaço para progressão”, afirma Valdemar Duarte, acrescentando que “este limite ainda não constitui um entrave ao reforço do investimento em mercados privados”.
Do lado da Futuro, Filomena Antunes concorda que este mercado “tem vindo a assumir cada vez maior visibilidade na construção dos fundos de pensões, oferecendo oportunidades de diversificação, através de investi- mentos não correlacionados com os ativos tradicionais”.
Evolução do mercado
Os fundos de pensões abertos são os que apresentam maiores perspetivas de crescimento dentro do mercado dos fundos de pensões. Nos últimos anos, explica Carla Teixeira, responsável da Área de Marketing Institucional e Gestão de Clientes Empresa da Futuro, “temos assistido ao cada vez maior interesse das empresas na atribuição de benefícios extrassalariais aos seus trabalhadores e, neste âmbito, os fundos de pensões têm assumido uma procura crescente”. A profissional acredita que esta tendência se manterá: “Não só pela necessidade das empresas oferecerem benefícios mas, como também, a nível particular, pela maior consciência do benefício e envolvimento nos planos de pensões de empresas e/ou do reforço de poupanças a nível individual”.
Mas o que pode impulsionar o mercado? Além da aposta na literacia financeira sobre os fundos de pensões, respetivos benefícios e consequente incentivo à cultura de poupança, Carla Teixeira acredita que o “reforço dos incentivos fiscais e a criação de mecanismos complementares de poupança obrigatória” são fatores determinantes para impulsionar o mercado.
De igual forma, Valdemar Duarte sublinha a necessidade de incentivos ou obrigatoriedade, considerando, no entanto, que os incentivos devem ser “ligeiros” para que não pesem muito no Orçamento de Estado, mas suficientes de forma a premiar a falta de liquidez que um produto de reforma deve ter.