A CMVM publicou o Relatório Anual sobre a Exposição do Mercado de Capitais ao Risco Climático, onde são avaliadas a pegada e intensidade carbónica dos OIC mobiliários nacionais.
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Recentemente, a CMVM publicou o primeiro Relatório Anual sobre a Exposição do Mercado de Capitais ao Risco Climático. Este documento pretende estar em linha com a abordagem “construtiva, proporcional e de proximidade com todos os agentes do mercado”, em que a CMVM se revê, procurando "dinamizar o mercado de financiamento sustentável nacional". Desta feita, neste artigo focamos essencialmente na exposição que os organismos de investimento coletivo (OIC) mobiliários, concretamente fundos de ações e obrigações emitidas por empresas, têm face ao risco climático. A relevância da análise é inquestionável e a incidência também dado que, segundo o relatório, "as carteiras dos OIC mobiliários contêm ações e dívida privada que, em conjunto, representavam, no final de abril de 2023, 44,9% do valor total dessas carteiras".
Em jeito de enquadramento, de acordo com a definição fornecida, os riscos em matérias de sustentabilidade referem-se a "acontecimentos ou condições de natureza ambiental, social ou de governança, cuja ocorrência é suscetível de provocar impacto negativo significativo, efetivo ou potencial, no valor de investimento". O risco climático é, portanto, uma categoria dos riscos em matéria de sustentabilidade, que está relacionado com as alterações climáticas e os seus impactos negativos tanto nas empresas, como nos cidadãos e na sociedade em geral. É constituído por duas categorias: risco físico e risco de transição.
Emissões de gases com efeito de estufa
Dois dos indicadores utilizados nesta análise para medir a exposição ao risco climático dos OIC mobiliários domiciliados em Portugal são a pegada carbónica e a intensidade carbónica. O primeiro estima as toneladas de gases com efeitos de estufa (GEE) que são produzidos por uma determinada empresa ou atividade, sendo que são apenas consideradas emissões de âmbito 1 e 2, ou seja, emissões diretas ou indiretas geradas pela empresa. O segundo refere-se à quantidade de GEE produzidos por uma unidade económica específica, neste caso, por um milhão de euros de receitas.
Quanto ao primeiro indicador, como é possível verificar no primeiro gráfico, as economias emergentes são responsáveis pela maioria das emissões de GEE financiadas pelos OIC mobiliários por cada milhão de euros investidos. No caso de Portugal, a pegada carbónica representa 56 toneladas, acima, apenas do mercado norte-americano - o mais baixo - com 48 toneladas.
Em termos de intensidade carbónica, são também as economias emergentes as que apresentam valores mais elevados. As carteiras de ações e dívida privada portuguesas e as carteiras de ações norte-americanas exibem valores médios idênticos, com 114 toneladas de GEE por milhão de euros de receitas geradas. Portugal encontra-se, deste modo, abaixo da média dos cabazes de ações de empresas domiciliadas na União Europeia.
Decompondo as emissões por setores em Portugal, com 28% o setor financeiro é, segundo o relatório, o que mais pesa no investimento por parte dos OIC mobiliários, mas, inversamente, é o que apresenta um menor contributo para as emissões financiadas, representando menos de 5 toneladas de GEE por milhão de euros investidos. Segue-se o setor de Comunicações com 7 toneladas e com um peso de 6% do investimento. O setor energético é o que menos pesa no investimento - apenas 3% - mas é responsável por 264 toneladas de GEE por milhão de euros investidos por parte dos OIC mobiliários.
No que diz respeito à intensidade carbónica, são os Serviços de Utilidade Pública onde há maior expressão. Com um peso de 5% do investimento, apresenta um valor destacadamente superior aos outros setores. Mais de 500 toneladas de emissões de GEE por milhão de euros em receitas geradas.
Geograficamente, os Estados Unidos merecem a preferência de um terço do investimento por parte das carteiras de investimento dos OIC domiciliados em território nacional e contribuem com 68 toneladas de GEE financiado por cada milhão de euros investido. Aqui, Portugal situa-se bem mais acima, com cerca de 151 toneladas e com um peso correspondente a 6% da alocação geográfica.
Em termos de intensidade carbónica, é a Alemanha que lidera com 136 toneladas de GEE produzidos por cada milhão de euros em receitas, sendo que Portugal figura no segundo lugar com 109.
O valor mais baixo quer de intensidade carbónica, quer de pegada carbónica é atribuído, segundo o documento, à Suíça com 6 e 33 toneladas, respetivamente, com um peso de 4% do investimento pelas carteiras de ações e dívida privada portuguesas.