Gerir multi-ativos seguindo a cartilha do poeta Robert Burns (ou não tanto assim)

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25 de janeiro de 1759 deu o mote para aquela que seria uma das datas mais importantes da história escocesa. O nascimento do conhecido poeta Robert Burns encerra, todos os 25 de janeiro de cada ano, mais uma comemoração da “Burns supper” ou simplesmente “Burns night”. A Lisboa, a efeméride chegou ligeiramente mais tarde, no final de fevereiro, mas não com menos entusiasmo. A Aberdeen Standard Investments recebeu investidores com “pompa e circunstância”,  aliando a tradição escocesa a temas de investimento como as ações europeias e os multi-ativos diversificados.

A Andrea Wehner, diretora de investimento de Multi Asset Investing, coube apresentar o funcionamento da gestão de dois portefólios multiativos da casa, mas sem “esquecer” a vida e obra do próprio poeta escocês.

 Robert Burns e o seu “poder” de diversificação

O poeta pode dizer-se que tinha uma visão de longo prazo peculiar. “Robert Burns tinha muitos filhos e estima-se que, hoje em dia, terá cerca de 600 descendentes vivos, o que dá conta da sua visão de longo prazo”, iniciou Andrea em tom de brincadeira.

Nos portefólios multiativos da casa, nomeadamente no Aberdeen Standard SICAV I Diversified Growth Fund e no Aberdeen Standard SICAV I Diversified Income Fund, a abordagem passa precisamente por “diversificar através das diferentes classes de ativos”, com uma visão de longo prazo, já que acreditam que quando se estende o horizonte temporal em dois, três, cinco ou dez anos, se consegue “explorar as ineficiências do mercado de uma forma sustentável”. É desta forma que na seleção de títulos acabam por não ser restritos nem às ações, nem às obrigações, movimentando-se nas classes de ativos onde veem atratividade. No campo das ações, por exemplo, a especialista avança mesmo que reduziram exposição à classe de ativos, pois os “futuros retornos esperados podem ser considerados baixos”.

No espectro oposto, do rendimento fixo, a diretora de investimentos detalha que por esta altura não têm nenhum investimento em investment grade ou obrigações soberanas. “Trata-se de um ambiente de mercado onde sentimos que essas classes de ativos não nos entregam retornos atrativos, que na verdade conseguimos encontrar noutros sítios”. É num meio termo da escala de risco, como apelidam, que se encontram, provavelmente, as ideias mais interessantes que monitorizam por esta altura. “É neste espetro que estão as classes de ativos que não se encontram noutros portefólios multi-ativos”, atestou, explicando que se tratam de classes mais ligadas ao fixed income, como “o high yield, empréstimos, dívida de mercados emergentes, mas também asset backed securities”. Muito embora a profissional esteja ciente de que “muitos investidores ainda ligam estes ativos à crise financeira”, ressalva que “a situação é muito diferente hoje em dia”, e acreditam que são ativos  bem “mais atrativos do que por exemplo as covered bonds”.

Parte importante é também o investimento que protagonizam em imobiliário... mas de uma forma mais peculiar. “Investimos ações que desenvolvem projetos de habitação social, casas de repouso, infraestruturas sociais, como escolas, postos policiais, hospitais, mas também outros veículos expostos a receitas garantidas pelos governos ligadas à inflação”. Embora sejam tidas muitas vezes como classes de ativos muito ilíquidas, “os mercados alternativos cotados dão-nos oportunidade de investir em empresas cotadas que são transacionadas diariamente, por exemplo na London Stock Exchange. Esta é uma forma de portanto investirmos neste tipo de classes de ativos mais ilíquidas, de uma forma líquida”.

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Robert Burns: um poeta de altos e baixos

“A poesia de Burns é marcada por estados emocionais de altos e baixos, e muitos pensadores acreditam que ele sofria de depressão. Portanto, ele não era um estranho em relação ao conceito de volatilidade”, ironizou.

A volatilidade, precisamente, foi um dos pontos que a especialista quis enfatizar. “Desde o lançamento das estratégias que a volatilidade tem sido metade da volatilidade das ações”, como de resto se verifica no gráfico abaixo.

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Indo mais a fundo nos “temas” de investimento que têm lugar nas carteiras, Andrea falou da litigância financeira, um tópico que tem lugar no portefólio desde 2009, altura desde a qual investem na empresa Burdford Capital. “Com muita frequência, especialmente as empresas mais pequenas, não têm à sua disposição os meios de uma empresa maior, por exemplo para lidar com temas como patentes”, referiu, introduzindo o trabalho da Burford, companhia que “financia a litigância por parte de empresas mais pequenas, coisa que os bancos normalmente não o fazem”. Um dos casos mais mediáticos ligados à Burford teve que ver com a empresa espanhola Petersen, que investia na empresa petrolífera argentina YPF. “A Argentina apropriou-se de forma ilegal dessa empresa, e a Petersen, sendo uma empresa pequena, não tinha os meios necessários para levar a Argentina a tribunal. A Burford providenciou 8 milhões de dólares para que o pudessem fazer, e depois de uma decisão inicial bem sucedida, a Burford decidiu vender a sua participação de 25% na reivindicação a investidores terceiros, o que lhes valeu 600 milhões de dólares”, contou a diretora, mostrando o que é possível “fazer neste espaço”.

Segundo a gestora, é precisamente a incorporação de alternativos cotados e, portanto líquidos, como infraestruturas, financiamento de litigâncias, leasing de aviões, etc, “o que torna este fundo diferente”, e o que “permite uma carteira genuinamente diversificada”.