Gestão passiva ou activa? “O futuro da indústria dos fundos passa pela mistura de ambas”

O debate frequente entre gestão activa e passiva costuma entender-se como um estilo face ao outro, sem que exista espaço para um ponto de equilibro em que ambas se possam complementar. Este meio termo vai ao encontro com o que defende Stephen Cohen, responsável de estratégia de investimento da iShares. Este profissional considera que “a combinação das estratégias activas e indexação é hoje em dia uma realidade e, para além disso, é onde os ETF conseguem alcançar bom posicionamento”.

Numa apresentação realizada em Madrid, tanto Cohen como Iván Pascual, director de vendas da iShares para Espanha e Portugal, revelaram que a estratégia de um número cada vez maior de gestores passa por construir as suas carteiras mediante uma combinação da gestão activa e passiva. Os ETF assumem importância neste contexto, pois ao serem cotados como uma acção, facilitam a réplica de forma rápida e simples de um determinado índice. “A tendência tem sido começar a utilizar os fundos cotados de forma a adoptar um posicionamento táctico”.

Em que ponto nos encontramos actualmente? Estes dois profissionais partilham a opinião de que existe um número crescente de gestores a utilizar este tipo de produtos como 'core' das suas carteiras. Pascual dá o exemplo da estratégia seguida por alguns gestores de obrigações corporativas. “Os gestores activos indexam à compra do ETF de obrigações corporativas 'ex financials' e fazem um gestão activa em obrigações do sector financeiros. Dado que é um produto barato, líquido e transparente, os gestores compram ETFs e concentram os seus esforços na gestão activa da carteira no sentido que lhes for mais conveniente de forma a gerar alfa”, afirma.

Neste sentido, o director de vendas da iShares Ibéria mostra-se convencido que, no futuro, “vamos ver as gestoras a fazerem cada vez mais investimentos via ETF”. Na mesma linha, Cohen considera que, do que não há dúvida alguma é que, a nível internacional, a maneira como se utilizam os ETFs está a mudar. “Antes utilizavam-se como um posicionamento táctico e agora são veículos de investimento que se converteram numa parte central da carteira”, assegura.

Isto, na sua opinião, vai marcar os fluxos globais. O responsável de estratégia de investimento da iShares explica que os gestores que não consigam oferecer alfa aos seus clientes perderão património em favor dos ETFs, por um lado, e dos gestores que alcancem rendibilidades acima do índice de referência de uma forma consistente, por outro. Isto é evidenciado pelo facto de que, segundo cálculos divulgados por Iván Pascual, no final de Outubro, estejamos perante o melhor ano da história de entradas líquidas nos fundos cotadas, com um crescimento percentual relativamente ao ano anterior de 21% que em termos absolutos de captações alcança os 182.000 milhões de dólares.

Porquê a indexação?

Segundo Cohen, os motivos para recorrer à indexação são três: o primeiro, porque os clientes procuram soluções de menor custo dentro do seu nível de tolerância ao risco. “Neste aspecto há uma crescente expectativa de que a indexação deve formar parte das carteiras, o que leva os gestores activos a reconhecer a sua utilidade”. O segundo faz referência à própria dinâmica do mercado e os custos. “Dado os baixos rendimentos que oferece o mercado, a pressão para reduzir custos crescerá”. O terceiro é uma regulação que está a mudar o modelo que historicamente favorecia uma gestão activa e que, em palavras de Cohen, “assume um papel muito importante”.

Estes são aspectos identificados como catalisadores chave que impulsionaram as mudanças na indústria até ao momento e que provavelmente continuarão assim no futuro. De acordo com o estudo realizado entre clientes, “a maioria dos investidores partilham a ideia de que a combinação de uma gestão activa e passiva continuará a crescer , deixando para trás a ideia de que uma faz frente à outra. Esse será o coração da indústria”, afirma. Para Cohen, as diferenças em ambos os estilos são claras: “quando se aposta pela gestão activa, trata-se de uma aposta por uma pessoa, uma equipa, uma filosofia de gestão... quando se investe num ETF aposta-se por um índice”, indica.