Pivot point: o que é e por que marcará um antes e um depois nos mercados em 2023

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Créditos: Nick Fewings (Unsplash)

Quando se analisam as previsões que as gestoras de fundos e entidade financeiras realizam para 2023, observam-se dois aspetos em que o consenso é quase unânime. O primeiro é que se é preciso eleger um ativo vencedor, este é o rendimento fixo. O segundo é que o pivot point da Fed irá marcar o início do fim das quedas observadas nos mercados bolsistas dos últimos meses. Explicamos o que isso é nesta entrada do Glossário da FundsPeople.

O que é?

O pivot point que o mercado de ações tanto espera para iniciar um novo rally sustentável não é mais do que uma mudança radical na política monetária da Reserva Federal. Ou seja, ocorre sempre que há uma mudança no rumo de uma política monetária expansiva (flexível) para uma contracionista (restritiva) ou, como neste caso, o contrário. 

Quando se espera que isso aconteça em 2023?

Essa é a grande pergunta que o mercado coloca agora. De momento, a resposta que a maioria das gestoras de fundos dá é que essa mudança não irá chegar antes do segundo semestre do ano. Por isso, muitas entidades dividem 2023 em duas metades: uma primeira, em que as obrigações serão as vencedoras e uma segunda, em que a recuperação das ações será mais pronunciada. “As obrigações deverão apresentar rentabilidades interessantes, e os rendimentos das ações deverão subir depois do bear market de 2022”, afirma Rui Alpalhão, presidente da FundBox e professor no Instituto Universitário de Lisboa.

Não é por acaso que o consenso de mercado ainda contemple novos aumentos de taxas por parte da Fed até alcançar níveis de 5% e também do BCE até níveis de 3%. Isto se não houver mais surpresas que afetem a inflação ou o crescimento. “A maior incerteza reside na evolução dos preços. Recentemente, os investidores baixaram ligeiramente as taxas terminais do BCE (3%) e da Fed (5%), e esperam até que esta última flexibilize a sua política monetária já no outono de 2023. Esta esperança de pivots monetários é a que tem mais probabilidade de ser defraudada”, afirma Laurent Denisse, diretor de Investimento na ODDO BHF.

Fonte: Renta 4.

Exemplos de pivot points

Embora o habitual para os bancos centrais seja que as políticas monetárias sejam estáveis em tempo e forma, o certo é que só no século XXI houve vários episódios de pivot points, primeiro por parte da Fed e depois por outros bancos centrais.

Por exemplo, no início da viragem do século e no calor do rebentar da bolha das empresas pontocom que terminou em recessão, a Reserva Federal adotou uma política monetária permissiva, reduzindo as taxas de juro de 6,5% para 1% até 2004. Depois, com o regresso da recuperação económica, voltou a mudar e começou a subir as taxas de juro até 5,25% ao longo dos três anos seguintes. 

Os dois pontos de mudança seguintes foram observados em outras duas crises: a financeira de 2008 e a da COVID em 2020. Na primeira, a Fed voltou a reduzir as taxas de juro, desta vez até um mínimo de 0%-0,25%, que manteve quase durante uma década. Esta política expansiva manteve-se durante quase uma década antes de a Fed voltar a subir lentamente as taxas para 2,5% no final de 2019.

Esse foi o nível máximo atingido, uma vez que seis meses antes de saber que existia um vírus chamado COVID na China, a Fed voltou a iniciar uma redução das taxas, embora o pivot point só chegasse na primavera de 2020, quando em pleno confinamento mundial as reduziu para 0%, onde permaneceram até março de 2022, momento em que ocorreu outro pivot point com o objetivo de combater uma inflação crescente.