Rácios-chave do investimento por fatores

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Unai Urbex, flickr, creative commons

Ao longo dos últimos anos, os provedores de ETF foram pondo à disposição dos seus clientes estratégias fatoriais, com a esperança de que fossem utilizadas pelos investidores como ferramentas para ganhar exposição aos diferentes estilos. A popularidade destes produtos foi crescendo com o tempo, apesar do seu sucesso comercial não ter alcançado o dos ETF que replicam os principais índices, tanto de ações como de obrigações, talvez devido ao papel mais tático que desempenham estes instrumentos nas carteiras.

É sobejamente conhecido que as estratégias fatoriais se dividem em cinco grandes categorias: value, momentum, qualidade, dividendo e baixa volatilidade. O que às vezes nos esquecemos é que são produtos que replicam índices dinâmicos, com uma estrutura que dá exposição a segmentos de mercado muito concretos, riscos muito diferentes e múltiplos com os quais, às vezes, o investidor poderá não se sentir confortável dada a elevada concentração setorial ou geográfica que podem apresentar alguns deles.

Um dos casos mais evidentes pode ser observado na análise do fator momentum. Quase 60% do seu peso fatorial recai na tecnologia e saúde, enquanto 72% recai sobre os EUA. Ao longo dos últimos três anos, a rentabilidade anualizada do MSCI World Momentum Index foi de 18,2%, oito pontos acima da do MSCI World. Foi uma estratégia vencedora, mas os múltiplos a que negoceia hoje o momentum são de um PER de 37 vezes, 54% superior à do índice geral, e um P/Book de 6,5 face às 2,7 do MSCI World. É algo que se explica fundamentalmente pelos elevados rácios a que negoceia a tecnologia.

No caso do fator momentum, a rotação da carteira do índice é muito elevada, concretamente de 156% nos últimos 12 meses, muito maior do que a do MSCI World, que está nos 3%. Noutros fatores, como o value, é precisamente o contrário. A rotação é muito mais baixa (24%) e os múltiplos a que negoceia o MSCI World Value Indx mais reduzidos (PER de 17 vezes e o P/Book de 1,6). A rentabilidade anualizada a três anos foi pequena (1,6%). Hoje investir globalmente em value através de uma estratégia passiva significa expor 64% do património aos EUA e a setores como o financeiro (22%) e também o da saúde (12%).

No que diz respeito ao Quality, o PER que se paga por replicar o índice MSCI World Quality Index é de quase 25 vezes, muito semelhante ao do MSCI World Index, apesar do P/Book ser muito mais elevado (7,3 face a 2,7). Com um beta mais baixo (atualmente de 0,88), a réplica do índice Quality foi muito mais rentável do que o MSCI World. A três anos, a rentabilidade anualizada do primeiro foi de 17,3% face à de 10,4% do principal índice de ações globais. O viés do MSCI Quality Index para os Estados Unidos é muito maior do que nos casos anteriores (72%) e a sua semelhança com o índice Momentum a nível setorial é clara (dois terços do índice concentram tecnologia e saúde).

Passando ao MSCI World High Dividend Index, trata-se de um índice que nos últimos três anos perdeu a batalha da rentabilidade face ao MSCI World. O retorno anualizado gerado pelo índice que reúne as empresas que pagam um dividendo mais “suculento” foi de 4,5%, menos de metade do que a gerada pelo índice geral (10,4%). Ainda que o beta do High Dividend seja muito mais baixo do que o MSCI World Index (15,8 vezes face a 24,6). O P/Book também é inferior (2,1 face a 2,7). A nível geográfico, os Estados Unidos pesam quase 60%, seguido do japonês (8,4%). No plano setorial, saúde (19,7%) e consumo básico (17,4%) são as de maior ponderação.

Por último está o MSCI World Low Volatility Index, que nos últimos três anos cumpriu a sua função de ter uma volatilidade inferior à do MSCI World (11,9% face a 16,7%), apesar de ficar atrás do MSCI World em termos de rentabilidade (8,3% de retorno anualizado face aos 10,4% do índice geral). O PER médio atual das empresas que integram o índice de baixa volatilidade é de 22,8 vezes, ligeiramente inferior ao do índice geral, que supera as 24, enquanto o P/Book é extamente o mesmo (2,7).

 No seu caso, o mercado americano tem um peso no índice de 61%, seguido do japonês (12%), enquanto em termos setoriais é um dos índices mais diversificados, sendo a tecnologias da informação (15,8%), consumo básico (14%), saúde (12,9%), serviços de comunicação (12,5%) e financeiras (12,2%) as de maior ponderação.