Gonzalo Rengifo (Pictet AM): “É cada vez mais difícil ganhar o pão nesta indústria”

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O raio x efetuado por Gonzalo Rengifo da indústria de gestão de ativos mostra um setor com algumas ambiguidades, no qual o diretor geral da Pictet AM para a Península Ibérica e América Latina deteta oportunidades, mas também importantes desafios que, na sua opinião, faz com que “seja cada vez mais difícil ganhar o pão neste setor”. No capítulo de desafios está a pressão que a indústria tem enfrentado, tanto do ponto de vista das margens de lucro, como do ponto de vista regulatório, o que “por um lado está a fazer com que se vejam cada vez mais operações de fusões e aquisições na indústria e, por outro, movimentos de racionalização, com grupos financeiros a apostar na gestão de ativos como uma área estratégica, e outros em que isso não é o caso. O que tem vindo a ser demonstrado nos últimos anos é que, dentro do setor financeiro, num ambiente de taxas baixas em que é difícil gerar margens como no passado, tudo aquilo que está fora do balanço e que gere receitas recorrentes torna-se interessante de novo”, afirmou o especialista em entrevista à Funds People.

Uma dessas áreas é a gestão de ativos. Rengifo acredita que esta tem vindo a ser valorizada pelas receitas recorrentes que gera. “É um negócio interessante em termos relativos relativamente ao resto dos negócios financeiros, mas que tem que enfrentar muitas pressões em termos de custos e especialização. Este último conceito é fundamental, por exemplo, no mercado espanhol, onde há vários anos de forte crescimento da indústria. No futuro, as entidades que gerarão negócio serão aquelas que possam oferecer soluções de investimento que se complementem com as capacidades de gestão que têm as entidades locais.

A personalização é um desafio porque a MiFID irá exercer uma pressão muito forte nas margens e impor um nível de transparência que, ainda que necessário, irá ser um desafio para a indústria, já que significa explicar claramente ao cliente quanto custa gerir um património. Até agora, na indústria tem imperado o famoso ditado – olhos que não veem, coração que não sente – e os custos têm estado implícitos no valor líquido do fundo, mas quando tudo se tornar explícito o investidor terá que apreciar o valor acrescentado que lhe deu a sua entidade financeira e isso poderá chegar apenas via soluções de investimento”.

No âmbito das ações Rengifo destaca o feito de serem pioneiros em investimento temático, com produtos como o Pictet Robotics, ou estratégias da bolsa japonesa, como é o caso da Pictet Japanese Equity Oportunities; em obrigações, fundos de obrigações de curta duração, incluindo dívida de alta rentabilidade europeia e crédito em mercados emergentes com vencimentos a curto prazo; em produtos multiativos, destaque para o Pictet Multi Assets Global Oportunities, e em retorno absoluto estratégias como o Pictet Total Return Agora e o Pictet Total Return Diversified Alpha (na parte de ações) e o Pictet Absolute Return Fixed Income (em obrigações). “O Pictet Absolute Return Fixed Income, cujo objetivo é oferecer uma rentabilidade de liquidez de + 3%, com volatilidade abaixo dos 2% na sua correlação, e as estratégias de obrigações de curta duração, que em 2016 ofereceram uma volatilidade inferior a 3%, com baixa correlação com outras classes de ativos, representam, atualmente, uma boa alternativa ao depósito”, afirma Rengifo.

Do seu ponto de vista, “a mensagem a ser transmitida aos investidores mais conservadores, que estão em depósitos, é de que as alternativas das quais dispõe são não só interessantes, mas também estão comprovadas. Estou convencido de que não haverá uma transferência massiva dos depósitos para os fundos, mas 2017 e 2018 poderão ser os anos em que haverá maiores níveis de transferências. O mercado imobiliário deflacionou-se substancialmente do ponto de vista do interesse do investidor, enquanto que pela a ação do depósito o investidor, que tem recebido há muito tempo yields de 20-40 pontos básicos, começa a considerar ativamente investir em fundos, sob um ambiente em que a liquidez irá começar a custar dinheiro”.