As eleições de hoje no ‘berço da democracia’ foram antecipadas e podem ser cruciais para o futuro grego, com a Troika preparada para o que “der e vier”.
A Grécia está a voltar ao topo dos temas do dia no mundo financeiro. Joshua McCallum e Gianluca Moretti, economistas da UBS Global AM, no seu último Economist Insights, destacam o “nervosismo nos mercados relativamente ao resultado das eleições antecipadas para a Presidência no país e que tem levado ao aumento das yields das obrigações”.
Depois da Coligação de Esquerda Radical (Syriza), liderado por Alexis Tsipras, ter ganho as eleições no país para o Parlamento Europeu, a probabilidade deste partido de extrema-esquerda ganhar as eleições de hoje aumentou, o que poderá levar o país a uma “renegociação do resgate grego e uma reversão das reformas previstas para o país”, afirmam os especialistas da entidade. “A Troika pode precisar de desenvolver um plano detalhado para impedir o contágio de uma eventual saída da Grécia do Euro”, referem.
De realçar que se não houver maioria nas eleições de hoje, serão realizadas mais duas rondas de votação. Caso não haja nenhuma partido que se destaque (mais de 180 votos), a assembleia é dissolvida e as eleições legislativas realizar-se-ão no próximo mês.
Desde outubro que as yields das obrigações soberanas têm vindo a aumentar, tendo atingindo os 10% na semana passada. No entanto, para os especialistas da UBS Global AM “o impacto desse aumento sobre as finanças pode não ser tão mau como se pensa”. Joshua McCallum e Gianluca Moretti especificam três motivos que mostram isso mesmo. “Em primeiro lugar a Grécia só se tem de preocupar com as yields das obrigações que emitir em mercado primário”. Na prática, os títulos de dívida no mercado secundário não têm impacto direto sobre o financiamento do governo.
Em segundo lugar, os economistas da entidade destacam que a “grande maioria da dívida grega é realizada pelo sector público e muito sobre a forma de empréstimos de longo prazo do FMI ou da UE”. De notar que o sector privado tem cerca de um quarto da dívida grega total.
Também a execução orçamental faz parte destes motivos. “A Grécia deverá ter uma execução orçamental equilibrada no próximo ano, que será o culminar da austeridade dolorosa que o país enfrentou”. Em termos práticos, este equilíbrio mostra que a Grécia só precisará de ir ao mercado para se refinanciar de modo a conseguir cumprir as suas obrigações. “A Grécia não tem muito para se financiar, e pode manter os seus custos de financiamento mais baixos por meio de emissões de curto prazo”, continuam.
Como se pode ver no gráfico, a maioria dos países europeus apresenta custos superiores para prazos mais curtos. Situação que não acontece com a Grécia. “Como os empréstimos já apresentam taxas de juro favoráveis, o custo médio dos juros da dívida grega é quase o mesmo que o alemão, mas com o prazo médio ponderado a ser bastante superiores. O Chipre e a Irlanda estão em igual situação”, concluem.