Guia prático para aprender a poupar para a reforma através de fundos de investimento

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Tax Credits, Flickr, Creative Commons

No passado dia 5 de outubro celebrou-se o dia da educação financeira, momento ideal para recordar uma evidência: a necessidade de poupar. “Existe um importante défice de poupança para a idade da reforma. É de conhecimento comum que a esperança média de vida é cada vez mais elevada e o nível de poupança atual não está adequado a essa realidade. A necessidade de aumentar as contribuições para fundos de pensões é generalizada e afecta praticamente todos os países desenvolvidos. É, então, perene que as pessoas ganhem a consciência de que têm que poupar numa lógica de longo prazo. Este é um dos grandes desafios que enfrenta a indústria de gestão de ativos, mas não é um desafio exclusivo deste sector.

Os consultores financeiros também têm a sua quota-parte de responsabilidade na tarefa de formar o cliente. Segundo Sophie del Campo, diretor geral da Natixis Global Asset Management para Ibéria, América Latina e EUA offshore, contribuir para a educação financeira dos clientes é um dos principais e mais importantes desafios que têm pela frente os consultores no momento atual. “O desafio para os consultores financeiros é oferecer aos seus clientes ferramentas adequadas para compreender os seus investimentos e tomar melhores decisões. Além disso, devem oferecer soluções adequadas às novas exigências dos investidores, que necessitam ajuda e formação à medida das suas aspirações financeiras. O conhecimento é poder e transmiti-lo é a chave do sucesso de profissionais e investidores”, explica. E nesse campo há muito para fazer. 

“A crise financeira colocou em evidência a necessidade de adotar um novo enfoque de investimento que permita aos investidores assumir a volatilidade do mercado com confiança e aproveitar as oportunidades que se apresentam sem perder de vista que uma carteira se deve construir para durar a longo prazo e, em última instância, alcançar a etapa da reforma com uma segurança financeira suficiente que permita não perder qualidade de vida”, explica Del Campo. Na sua opinião, o mais importante é que os investidores não se centrem no comportamento dos mercados. “Cada um deve pensar nos recursos que tem e criar o seu benchmark pessoal. A receita do sucesso passa por olhar para lá de um fundo em concreto: há que estabelecer objetivos de investimento pessoais, tendo em conta a quantidade de recursos que se devem destinar a fim de alcançar esses mesmos objetivos. Igualmente avaliar o nível de risco a assumir para que se consiga obter êxito no caminho definido”.

O desconhecimento dos jovens em matéria de reforma é bastante elevado

Apesar dos muitos alertas, o desconhecimento das gerações mais jovens sobre a necessidade de poupar para a reforma continua a ser elevado e evidencia um escasso conhecimento coletivo sobre esta matéria, assim revela um estudo do Instituto Aviva. Segundo um outro trabalho intitulado “Preparação para a Reforma de 2015” realizado pela Aegon a nível mundial, os reformados atuais aconselham as gerações futuras a poupar e subscrever um plano de pensões complementar de forma a poderem disfrutar de uma reforma cómoda. Todo este cenário é algo preocupante e convida, no mínimo, à reflexão. “O nível de poupança das famílias está a baixar, os rácios de dependência vão aumentar de forma significativa no futuro e os governos estão a deixar este tema nas mãos dos cidadãos”, assegura Mike O’Brien, codiretor de investimentos e soluções de investimento da J.P. Morgan AM para EMEA no media day da entidade que se realizou recentemente em Londres.

É por este motivo que o interesse em produtos de distribuição de rendimentos está cada vez mais presente. Atualmente, no mundo existem cinco tendências que conduzem irremediavelmente à conclusão de que o investidor deve pensar desde cedo nesta questão perante a necessidade que terá de complementar o rendimento aquando da reforma. Hugh Prendergast, diretor estratégico de produto da Pioneer Investments, abordou este tema no evento realizado pela gestora em Dublin.

Desafios que tornam necessário o complemento do rendimento

1. Demografia. “A pensão pública poderá não ser suficiente no futuro. Durante as últimas décadas, o número de trabalhadores por pensionista a nível mundial tem vindo a reduzir-se, até ao ponto que se calcula que em 2050 a proporção será de quatro trabalhadores por pensionista (em 1980 o coeficiente era de dez para um). Ou seja, a terceira idade será suportada por um menor número de população ativa, o que faz com que o sistema de pensões público fique sob pressão. A população vive mais tempo e os pensionistas não poderão esperar o mesmo nível de receitas por parte do Estado”.

2. O desafio que pressupõe a gigantesca montanha da dívida pública. “A dívida pública nos países desenvolvidos transformou-se num obstáculo. A crise financeira global provocou a queda do crescimento económico e aumento da dívida pública. Os governos terão que se desalavancar, o que constituirá uma pressão sobre as pensões e segurança social. Isto fará com que os pensionistas necessitem mais fontes de rendimento”.

3. Aumento da regulação. “A maior regulação fará com que os sectores dos seguros e pensões sejam mais avessos ao risco. Isto pressupõe receitas mais baixas para os pensionistas. Passar do modelo de benefício definido para contribuição definida derivará numa transferência do risco para os empregados, o que significa que os investidores terão que assumir uma maior responsabilidade relativamente às suas pensões. Um nível de rendimento insuficiente faz com que os pensionistas vejam o seu património diminuir de forma drástica”.

4. Os outros dois desafios assinalados por Prendergast não são estruturais, mas cíclicos. O primeiro faz referência ao desemprego jovem. “A debilidade económica originou um elevado desemprego entre os jovens, especialmente na Europa. Muitos jovens já em idade adulta continuam a viver com os pais, o que constitui um obstáculo para as finanças familiares”. O último desafio que menciona o especialista é o menor crescimento do rendimento disponível, pelo que considera que “todos os factores enunciados apontam para a necessidade de geração de rendimentos sustentáveis que levará à procura por produtos de distribuição de rendimentos que são precisos como complementos antes e depois da reforma”, afirma.

Ferramentas para educar o cliente na hora de tomar as suas decisões 

As gestoras estão a fazer um esforço cada vez maior em educar os seus clientes relativamente ao seu posicionamento e estratégia. A última a dar um passo nesse sentido foi a Schroders. A entidade lançou uma ferramenta online denominada income IQ para ajudar os investidores a determinar as suas próprias tendências de comportamento na hora de tomar decisões de investimento e melhorar os seus conhecimentos quando o tema é a obtenção de rendimento. A gestora lançou duas versões da ferramenta: uma orientada ao investidor final e outra dirigida para consultores financeiros. Ambas têm o objetivo de ajudar o investidor a fazer uma planificação financeira e a consciencializa-lo da importância de poupar perante os problemas políticos e demográficos, com a exceção de que no segundo caso está pensada para que o investidor faça o teste diante do seu consultores para que este possa definir o comportamento do seu cliente e ajuda-lo no processo de tomada de decisões.

Em relação a enviar periodicamente um determinado montante para um fundo depende de cada indivíduo. O que recomendam a maioria dos especialistas é destinar automaticamente parte do rendimento, de forma recorrente, a um produto de poupança. E é aqui que o produto fundo está a ganhar terreno. “Pela fiscalidade, transparência, liquidez, diversificação e custos o produto fundo é o melhor veículo de investimento que existe”, diz Íñigo Escudero, diretor de vendas e serviço ao cliente da Invesco para Ibéria e América Latina. Qual o produto ou produtos concretos a eleger? Dependerá principalmente do objetivo e do perfil de risco de cada investidor, pelo que é muito importante que o cliente conheça a estratégia e objetivo do fundo onde investe.

 

A Funds People questionou os responsáveis de um conjunto de gestoras internacionais sobre que fundo recomendariam ter em carteira para um investidor entre os 30 e 40 anos, com um perfil de risco moderado, que pretenda destinar parte dos seus rendimentos a uma poupança para a reforma. As propostas são variadas.

 

Com um horizonte temporal tão longo, um fundo que  Nuria Trio considera interessante pode ser o CPR Silver Age, produto cuja estratégia procura precisamente aproveitar a tendência secular e inexorável do envelhecimento da população. Segundo explica a diretora geral adjunta da Amundi  para Ibéria, trata-se de uma gestão de convicções com um bias sectorial de forma a capturar o potencial deste fenómeno que tende a acelerar-se nos próximos anos. O fundo investe em empresas europeias que se beneficiam do envelhecimento, distinguindo segmentos diferenciados dos consumidores. Por um lado, os futuros 'jovens pensionistas' (entre 65 e 80 anos), antigos “baby-boomers” com um poder de compra e potencial de consumo relativamente altos, enfocados especialmente em atividades de ócio e tempos livres e que procuram manter-se em forma e saudáveis o máximo tempo possível. Por outro lado, o sector de maior idade, mais relacionado com a dependência e produtos médico-sanitários.

"A esperança de vida é superior ao que era há uns anos e traçar um plano e obter advisory profissional a nível financiero são elementos chave para poder cumprir os nossos objetivos e desfrutar de uma reforma cómoda”, refere Aitor Jauregui, responsável de desenvolvimento de negócio da BlackRock para Espanha, Portugal e Andorra. Neste contexto, o especialista considera que uma das vias para começar a trabalhar para cumprir os objetivos de poupança a médio-longo prazo é através de fundos de investimento. A sua recomendação vai para o BGF Global Allocation, um fundo misto que investe nas três principais classes de ativos: ações, obrigações e instrumentos de liquidez, em mais de 40 países e oferece menos um terço da volatilidade registadas nas ações mundiais. “O nível de risco dependerá do equilibrio entre as classes de ativos. Desde o seu lançamento, há 18 anos, o fundo contribuiu para a protecção das carteiras de investimento em momentos de correcção do mercado ao mesmo tempo que participou nas subidas do mesmo. Trata-se de uma solução simples para investidores que procuram um investimento estável e diversificado que os ajude a cumprir os seus objetivos de longo prazo, oferecendo-lhes flexibilidade, perspectiva e estabilidade”, indica.

O fundo que Luis Ojeda, responsável da Deutsche Asset & Wealth Management para Ibéria, considera ideal para poupar para a reforma com um perfil moderado é o DWS Concept Kaldemorgen. “É um fundo que segue uma estratégia de retorno absoluto, investindo numa ampla variedade de classes de ativos, com um bias para ações, sob um estricto e exclusivo controlo de riscos”, explica. O gestor, Klaus Kaldemorgen, aspira a uma volatilidade de apenas um dígito e a um perfil assimétrico de rentabilidade /risco comparado com os mercados accionistas globais (participação em 2/3 da revalorização nas subidas dos mercados e 1/3 de participação nas correcções). “Investindo neste fundo numa lógica de poupança para a reforma o investidor poderá participar da revalorização daqueles ativos que em cada momento até à reforma ofereçam ais valor, delegando as decisões de distribuição de ativos a uma equipa das mais conhecidas e com maior experiência na Europa e Alemanha”, indica Ojeda.

Segundo Sebastián Velasco, diretor geral da Fidelity Worldwide Investment para Ibéria, um veículo ideal para qualquer pessoa entre os 30 e 40 anos com um perfil moderado e que queira investir para a sua reforma são fundos com um ciclo de vida. “Tratam-se de produtos que vão variando a sua alocação de ativos, de maior a menor risco, à medida que se aproxima a sua data objetivo, neste caso a da reforma do investidor Assim, este não tem que se preocupar em reequilibrar a sua carteira, pois o fundo faz isso mesmo de forma ‘automática’”. Na gestora denominam-se de Target Funds e dispõem de um leque que cobre inúmeras datas objetivo. Sendo um investidor jovem, entre os 30 e 40 anos, poderá eleger os anos 2040, 2045 ou 2050. “Todos eles são fundos globais e diversificados entre uma ampla gama de classes de ativos, regiões e sectores”, explica Velasco.

A recomendação de Ramón Pereira é o Franklin Diversified Balanced Fund, um fundo misto flexível, com um objetivo de rentabilidade de Euribor + 3,5% e um objetivo de volatilidade entre os 5% e 8%. Segundo descreve o diretor geral da  Franklin Templeton Investements, a carteira é construída através de um disciplinado processo de investimento no qual se identificam as principais tendências económicas sobre as quais implementar estratégias de investimento. As estratégias classificam-se entre os perfis de crescimento, defensivo, estável ou oportunístico. “Por meio de um processo denominado “risk factoring” é calculado o risco total que cada estratégia incute na carteira. O fundo tem cumprido os seus objetivos de volatilidade e rentabilidade”, conclui Pereira. 

Para alguém que queira ir poupando pouco a pouco para a sua reforma, dentro da gama da J.P. Morgan AM , Javier Dorado aponta para o JPM Global Balanced Fund como um investimento core da carteira. Segundo explica o diretor geral da gestora para Ibéria, “se se começar cedo e tendo um plano de entregas periódicas, no longo prazo é um fundo que demonstra o poder da diversificação através da sua gestão ativa (a sua carteira está composta por obrigações e ações numa percentagem de 50% aproximadamente) e mantendo-se investindo ao longo do tempo, seja qual for o cenário económico. Lançado em 1995, o fundo tem apresentado rentabilidades muito atrativas com una volatilidade moderada”. A parte das ações é gerida pela equipa global de ações da gestora, enquanto que as decisões relativas às obrigações e o asset allocation estão sob a responsabilidade da equipa de multiativos da entidade.

"A poupança do aforrador, em geral, tende a ser baixa numa perspectiva de poupança reforma. Prima pela preservação de capital face a opções mais rentáveis, materializando-se isso num fundo monetário, com garantia de capital ou com um rentabilidade objetivo, ou seja, produtos que no cenário atual apenas superam a inflação (baixa mas resistente)”, aponta Gonzalo Rengifo, diretor geral da Pictet AM  para Ibéria e América Latina. Na sua opinião, é necessário um enfoque multi-estratégia que combine a base conservadora com mais risco, de forma dinâmica. "A nossa proposta é incorporar apostas independentes do ciclo, baseadas em megatendências. Tratam-se de empresas cotadas representativas dos desafios globais que requerem investimento sustentável, como o aumento da população, envelhecimento, inovação e escassez de recursos. Como complemento do investimento tradicional em ações facilita o acesso a crescimento sustentável e visível, com ganhos previsíveis”, refere. Em concreto, a sua recomendação vai para o Pictet Global Megatrend Selection, que inclui sectores como o da saúde, água, agricultura, madeira, eficiência energética, marcas de luxo, segurança, digitalização e robótica. É produto de gestão ativa cuja seleção mantém um lado ‘purista’ relativamente aos temas e melhores práticas.

Teresa Molins e Isabel de Liniers, diretora de vendas de clientes institucionais da Pioneer Investments e responsável de vendas para Portugal, consideram que no cenário atual, com rendimentos esperados dos ativos financeiros mais baixos, os investidores estão preocupados em assegurar um rendimento e fazê-lo crescer, sem que para tal as suas carteiras fiquem inundadas de riscos, inadequados ao seu perfil”, esclarece. A sua proposta é o Pioneer Funds – Global Multi Asset Target Income, produto que pode investir de forma flexível em ações, obrigações, matérias-primas ou REITs. Tem um objetivo de distribuição e rendimento no início de cada ano, sendo que para 2015 de 5% em dólares. Estabelecem-se pesos máximos por tipo de ativo (em ações é de 50%) e assim ir ao encontro de um objetivo de volatilidade de 5-10%. O gestor pode utilizar derivados para complementar os cupões e dividendos obtidos pela carteira. O seu processo de investimento baseia-se em quatro pilares: estratégias macro (onde se implementa a visão geral da equipa), estratégias de cobertura, estratégias satélites (de valor relativo) e seleção de ativos/títulos. "Trata-se de um fundo gerido de forma muita ativa com a filosofia e preservação de capital, o que o faz ter um perfil de rentabilidade-risco muito atrativo. A qualidade de crédito média é superior à de outros ativos com semelhantes rentabilidades”, sublinham.

Para Carla Bergareche, diretora geral da Schroders para Ibéria, os fundos multiativos oferecem uma solução de investimento muito interessante, já que são estratégias flexíveis, globais e diversificadas para poderem adaptar-se aos diferentes cenários de mercado. “Além disso, permitem acrescentar risco às carteiras, o qual consideramos importante para um investidor joven que deseja obter uma rentabilidade óptima numa lógica de poupança para a reforma”, diz. Na Schroders contam com o Schroder ISF Global Dynamic Balanced, um fundo cuja carteira é construída atendendo à rentabilidade/risco que oferece cada um dos ativos, centrando-se naqueles que oferecem melhores oportunidades. “Este produto está desenhado para aqueles investidores com um perfil médio de risco que querem capturar parte da subida dos mercados mas que não estão dispostos a sofrer as potenciais quedas das bolsas. Além disso, conta com uma classe de distribuição que distribui trimestralmente um ‘juro’ de 3% anual para aqueles investidores que queiram materializar de maneira regular os retornos dos seus investimentos".

Para Juan Infante, responsável de vendas da UBS Asset Management para Ibéria, o fundo mais apropriado é o UBS (Lux) Strategy Fund - Yield (EUR), um produto estratégico com bias global gerido por Marc Both que conta com uma carteira geralmente constituída por 30% de ações e 70% de obrigações. "A gestão do fundo aproveita o próprio research da entidade para simular possíveis cenários e assim identificar os principais riscos e oportunidades de mercado”, assinala. O fundo procura tirar vantagem das distintas conjunturas investindo à escala global numa gama diversificada de obrigações (fundamentalmente de elevada qualidade), instrumentos de mercado monetário e ações. "O fundo apresenta-se como uma boa opção para os investidores prudentes que se centram principalmente na rentabilidade das obrigações e dividendos das ações, mas que por sua vez estão dispostos a assumir riscos adicionais em alternativa à geração de mais-valias. A natureza flexível do fundo permite-lhe tirar vantagens das oportunidades de mercado tomando estrategicamente posições sobreponderadas ou subponderadas nos distintos segmentos”, termina Infante.