A Ruffer Investment Managers (1994) nasceu com o objetivo de prestar serviços a clientes numa altura em que a indústria os via simplesmente como gente a quem vender produtos. É uma casa que predica com o exemplo: em mãos privadas e dos seus empregados, sem bónus baseados em rendimentos a curto prazo, sem comissões sobre rentabilidade, e cujos gestores investem nos fundos que gerem. Duas décadas depois, perdura a meta de ser esse alguém em quem os investidores confiam para cuidar do seu património.
É uma filosofia marcada no seu fundo bandeira, o Ruffer SICAV Ruffer Total Return International, fundo com Selo Funds People 2019 pela sua classificação de Blockbuster que em Portugal, Espanha e Itália é distribuído pela mão da MCH Investment Strategies.
Tal como todos os retornos absolutos, o seu objetivo é “dar uma rentabilidade melhor do que 0”, como explica Benjamin Boucher, diretor de Investimentos. Isto e gerar um retorno positivo num período de 12 meses. “Investimos para tentar minimizar as perdas, o que significa que haverá períodos nos quais pareça que estamos equivocados”, reconhece o especialista. É o preço a pagar por seguir uma filosofia disciplinada baseada nos fundamentais e numa visão a longo prazo.
Mas o seu mandato de retorno absoluto não limita o apetite pelo risco dos gestores. “Não tememos ser contrarian, posicionar-nos muito diferentes do consenso”, reconhece Boucher. Nesta época de estímulos monetários, nadar contra a corrente pode ser doloroso. O cenário central que os mercados refletem é que o dólar americano continuará forte e que a inflação não vai subir tão depressa. “Há muito dinheiro investido por se confiar que as taxas se manterão baixas durante muito tempo”, defende o gestor. Por isso, vemos um bom momentum em crédito e valores growth. Na sua opinião, as taxas baixas redefiniram o conceito de risco, e os mercados de crédito não estão preocupados com a saúde dos corporativos.
Perante o consenso, na Ruffer não acreditam que a inflação tenha passado à história. E destacam dois argumentos. Primeiro, que as taxas de desemprego são muito baixas a nível global e em alguns países até acresce a pressão salarial. Segundo, que os bancos centrais estão a pressionar para verem estímulos fiscais ao mesmo tempo que as instituições como a Fed reconhecem que deixarão que a inflação se mova acima dos 2% durante algum tempo para compensar anos anteriores. Em carteira isso reflete-se com um posicionamento contrário em obrigações ligadas à inflação, mineiras globais e ações “baratas”, isto é, em value e cíclicos.
Mas todas as posições contrárias devem ser acompanhadas por uma capa de proteção. Uma parte da carteira “para o caso de nos enganarmos”, explica Boucher. Na prática, é composta principalmente por crédito e CDS de emissões com investment grade.
As oportunidades britânicas após ultrapassar o Brexit
A Ruffer é uma casa britânica e como tal percebe-se esse pequeno viés das carteiras para ativos britânicos tanto em obrigações como em ações. Mas, além disso, a equipa de gestão vê agora um interessante ponto de entrada em ações do Reino Unido após o Brexit, concretamente as ligadas à situação doméstica.
O novo governo tem um claro mandato para elevar o gasto, especialmente no norte de Inglaterra. “Em parte é uma medida compreensível num governo que apoiou o Brexit. Faz sentido impulsionar o crescimento e tentar compensar o impacto negativo da saída da União Europeia”, explica Othmane Rachedi, gestor da Ruffer.
Por isso, veem valor em bancos domésticos como o Royal Bank of Scotland ou o Lloyds Banking Group, assim como em ações britânicas em geral, onde ainda negoceia o prémio do Brexit. Além das avaliações atrativas, os gestores sentem-se apoiados pelos fundamentais e pelo sentimento. “As empresas britânicas já estão a falar em reativar o seu investimento em capex. Por muito duro que o Brexit possa ser, no fim de contas continua a ser a maior claridade política”, sentencia Rachedi.