Haitong AM: Novas estratégias, equipa reforçada e forte ligação à China

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A actividade de asset management é uma das áreas do Haitong Bank, considerada estratégica pelo acionista, a entidade chinesa Haitong Securities. Foi nesse contexto que, em entrevista à Funds People, foram dadas a conhecer as novidades referentes à estratégia a desenvolver pelo banco em território nacional, mas também no espaço europeu.

O plano passa, naturalmente, por aumentar os ativos sob gestão nos produtos existentes, mas também promover novas estratégias de investimento que procuram criar valor para os investidores através do expertise do Haitong no mercado europeu e LatAM e no fator diferenciador que é a ligação cross-border com a China. Se em termos de grupo Haitong a área de gestão de ativos tem cerca de 150 mil milhões de euros de activos sob gestão, na própria operação do Haitong Bank essa atividade pretende tornar-se “core”, e prepara-se para ganhar mais tração no mercado nacional e europeu. É o que relata Fernando Castro Solla, head of asset management do Haitong Bank, que conta os passos dados neste caminho de consolidação e de abertura ao mercado. “Como equipa de gestão estamos juntos há 17 anos, mas estávamos mais focados em equity. O que o banco decidiu fazer foi ir buscar competências a outras áreas que completassem o know-how da equipa. As 11 pessoas que atualmente integram a equipa estão uniformemente distribuídas entre competências em fixed income, equity e quant. Sob a alçada de Fernando Castro Solla estão, portanto, oito pessoas na equipa de investimentos, duas das quais na equipa quantitativa, ficando reservada para a área de desenvolvimento de negócio – uma equipa de três pessoas, liderada pelo próprio. A equipa quant, como refere Fernando Castro Solla, é responsável por “desenvolver tanto produto próprio, estratégias alternativas puramente quantitativas, como por dar suporte analítico a outros produtos da casa”.

Enfoque institucional

Do lado do desenvolvimento de negócio, Marta Carvalheiro, que se juntou recentemente à equipa, reitera que o enfoque atual é na produção de novo produto, mas também na sua cadeia de distribuição, que se altera face ao passado. “Iremos continuar a fazer o acompanhamento cuidado de clientes particulares, mas existe agora um reposicionamento mais focado em clientes institucionais – family offices, consultores de investimento, seguradoras, etc., e no estabelecimento de parcerias com distribuidores; casando o nosso expertise europeu com o expertise chinês, sendo este o nosso elemento diferenciador”, elucida, explicando que este posicionamento acaba por ser um projeto de raiz mas que não esquece o longo track record da equipa no mercado nacional”.

Na mesma linha de pensamento, Fernando Castro Solla acrescenta que outra linha de orientação é criar distribuição “através do próprio grupo, e através de parceiros institucionais próximos do grupo. “O nosso desejo é crescer por via de clientes institucionais que até aqui não estavam no nosso target. Queremos desenvolver a área com um enfoque em parcerias com clientes institucionais, como fundos de pensões, seguradoras e outros bancos, até porque não temos a intenção de concorrer no âmbito do Wealth Management. Somos, isso sim, Asset Managers.”, sublinha.

O valor ‘Born in China’

Porque é preciso olhar para o passado para construir o futuro, é possível verificar que as quatro estratégias (mandatos individuais e/ou fundos/seguros) que a equipa tem a seu cargo: Aggressive, Flexible, Defensive e China High Income; têm vindo a incorporar o ângulo chinês., excluindo a estratégia Haitong Defensive por ser uma ferramenta de cash disponível sob a forma de mandato.

No âmbito dos mercados desenvolvidos, o Haitong Flexible e o Haitong Aggressive  são duas estratégias com um longo track record, iniciado em 2002 – “que são muito semelhantes na alocação de ativos em equity, mas diferem porque o flexível pode ter exposição de 0 a 100% a ações, e o agressivo investe 100% em ações”.

O enfoque no ângulo chinês nestas estratégias bebe de uma abordagem de screening dos títulos europeus que parte do conhecimento local da economia chinesa. Fernando Castro Solla aprofunda e esclarece que “procuram ver no universo das cotadas europeias as mais bem posicionadas para tirar partido do crescimento da economia chinesa”. Para isso, prossegue, tentam perceber “quais os sectores que essas empresas apostam”, vendo “quais os sectores chineses que estão a crescer de forma mais pujante do que a média do PIB, mas também avaliando se são sectores que têm o aval de abertura à concorrência e à presença de empresas estrangeiras”. Para as estratégias de equity, conta o profissional, isto tem sido “um contribuinte líquido muito interessante e distintivo” na gestão que efetuam. É nesta perspetiva também que lembra os tempos em que se dedicavam apenas às ações, com um “mantra” que continua, de alguma forma, a estar em vigor. “Somos uma espécie de “velhos do Restelo” do equity, ou seja, muito prudentes na gestão do risco. Na ausência de convicções fortes tendemos a reduzir exponencialmente o risco, e não o mantemos só numa lógica de proteção da performance relativa. Não gostamos de consensos pois achamos que estes não têm valor. Assumimos uma postura contrarian, investindo em sectores mais desprezados, em empresas que nos pareçam excessivamente penalizadas”, conclui.

Ainda no campo da oferta existente, e embora relativamente recente no mercado (final de 2017), há um produto de ADN totalmente chinês que importa destacar. Falamos do Haitong China High Income, um fundo de dívida chinesa high yield, de emissões de companhias chinesas predominantemente em dólares norte-americanos. “O fundo é denominado em dólares, exclusivo para clientes profissionais, porque é um RAIF no Luxemburgo, é um fundo que tem tido uma performance, ajustada ao risco, muito positiva e que tem tido forte procura da parte de investidores asiáticos, mas não só”. Resultante de uma parceria direta com a equipa de FICC da Haitong Securities em Xangai, este “investe predominantemente em emissões de dívida de LGFVs, que são veículos de financiamento dos governos locais chineses”.  Neste fundo, o know-how local é, naturalmente, determinante para a obtenção destes resultados”.

Novos veículos: a ligação da experiência com o know-how chinês

Os 19 anos médios de experiência da equipa em mercados financeiros europeus aliam-se de forma perfeita ao know-how chinês de que a casa dispõe, e é esse mix perfeito que querem colocar ao serviço da nova oferta e dos investidores. Em termos de produtos, Fernando Castro Solla explica que “aprovaram recentemente” algumas novas estratégias, que inicialmente deverão contar com o seed do próprio banco. Elencamos quais são essas estratégias – maioritariamente destinadas a investidores institucionais numa primeira fase -  abaixo:

  1. Haitong Green Bond – Estratégia que se transformará num fundo de green bonds. Como conta o responsável, “dentro do mercado de obrigações é um segmento em forte crescimento e que faz sentido incluir na oferta dado o awareness global em torno do impacto ambiental/alterações climáticas. Dentro da temática ESG, optámos pela abordagem “Green Bonds” dado ser mais  direta em termos de investimento (está focada na utilização dada pelo emitente à receita liquida das emissões e não em critérios qualitativos) e por não existir uma oferta alargada de fundos neste nicho de mercado”, comenta. Está previsto ser domiciliado no Luxemburgo, não só sob a forma de fundo mas também na forma de mandatos de gestão discricionária. “O próprio Haitong está no top cinco chinês na estruturação e tomada firme de emissões de green bonds, portanto este é um movimento estratégico, que solidifica uma tradição nesta área herdada do BESI”, explica.
  2. Haitong China Offshore Bond - EUR . “Esta será uma estratégia de emissões de dívida corporativa chinesa denominadas em euros, sendo este um subsegmento do volume total de dívida chinesa offshore, que é mais pequeno do que de dólares, mas que regista níveis de crescimento enormes”, elucida. Nesta área o banco quer ser “pioneiro”. Para isso pretende criar um benchmark específico (pois ainda não existe nenhum), e um produto de investimento que faz uso dele. Em termos de qualidade de crédito esta estratégia seria mais elevada face ao homólogo da oferta (IG em média), de tal forma, “que será um produto UCITS, permitindo assim o investimento por clientes de retalho”.
  3. Haitong Carbon 4 FX. Esta será uma estratégia de investimento sistemático com um algoritmo que semanalmente produz as alocações da carteira, com base em modelos de tendência e que pretende identificar e explorar essas mesmas tendências de mercado. Segundo o profissional “é uma carteira muito simples, que aposta em quatro moedas a cada momento num universo de 12”. Assinala que foi feito um back testing longo desde 2002, e a estratégia foi capaz de produzir resultados muito interessantes, nomeadamente ao nível da estratégia agressiva de equity da casa, mas com bastante menos risco. “Esta estratégia produziu, historicamente, cerca de 9% ao ano, mas com um desvio padrão de cerca de 6%”, assinala.
  4.  Haitong LatAm Bonds. “Esta estratégia pretende tirar partido da presença do banco há décadas nesta região do globo”, explica, acrescentando que “o Brasil e o México representam mais de 50% do benchmark do universo em causa”. Acreditam, por isso, que têm competências nesses dois universos. Com esta estratégia pretendem também “atrair investidores internacionais que estão habituados a yields e relações risco/retorno que não podemos oferecer com ativos europeus”.

Em suma, da entidade explicam que o que está a ser feito “é explorar sinergias internas, ou seja, todos os pontos de contacto que o banco tem noutras áreas com clientes corporate/institucionais que podem passar a ser também clientes do asset management”. “Ao diversificarmos a oferta, iremos também oferecer mais à nossa base atual de clientes e com isso procurar aumentar o respetivo share of wallet”, concluem.

(Na fotografia da esquerda para a direita: Gonçalo Pestana, Filipe Catalão, António Serra, Fernando Castro Solla, Marta Carvalheiro, João Franco, David Dias, Nuno Silvestre, Yuan Ji, Estêvão Oliveira e Gonçalo Mendes de Almeida.)