Da Franklin Templeton Investments, Michael Hasenstab e Mark Mobius dão a sua visão sobre as decisões na China, e colocam-nas em contexto com a sua visão sobre a economia do gigante asiático e dão pontos chave sobre os ativos que recuperaram atratividade.
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Uma semana depois do “Black Monday” que arrastou as bolsas de meio mundo, os especialistas continuam a recomendar manter a calma, relativizar, rever as teses de investimento e aproveitar para detectar “pechinchas”. Da Franklin Templeton Investments, Michael Hasenstab e Mark Mobius dão a sua interpretação dos factos e indicam onde residem as oportunidades. Em primeiro lugar Michael Hasenstab reconhece que os dois grandes catalisadores das vendas numa grande parte dos ativos estão relacionados com a China, com a desvalorização da divisa e com a correção das ações do país: “Ambos têm sido utilizados como um sinal para que o mercado adopte a visão de que o crescimento global está a colapsar e os mercados financeiros vão entrar em queda livre. Acreditamos que é uma reação significativamente exagerada”.
Sobre a desvalorização do yuan, comenta que o ajuste tem sido “muito pequeno, para refletir de maneira mais apropriada os fluxos de saída de capital da China”, e destaca que esse ajuste responde às atenções das autoridades chinesas de internacionalizar a moeda e convertê-la numa das três divisas mais importantes. “Para consegui-lo, a divisa tem que negociar livremente, e embora entendamos que este movimento vá nessa direção, não acreditamos que seja um princípio de uma grande desvalorização”, resume. Relativamente às ações chinesas, Hasenstab recorda que o dinheiro de investimentos chineses que está investido na bolsa “representa cerca de 1% da riqueza no país, e é uma porção quase insignificante da riqueza pessoal dos chineses”.
“Também é importante entender que o que se está a passar na China é uma trajetória económica irregular”, acrescenta o gestor. Refere-se ao facto de alguns sectores da economia (o imobiliário, os governos locais) estarem em recessão, enquanto que outros (infraestruturas) atravessam uma fase de expansão. Para além disso comenta que “as mudanças nas dinâmicas do mercado laboral, na estrutura dos salários que estão numa fase de crescimento, têm sido um grande estímulo para o consumo na China”. “Salários mais elevados e a melhoria do consumo vão ter um impacto mais significativo sobre a riqueza do que uma subida protagonizada pela bolsa, que não é representativa da riqueza individual das pessoas”, conclui.
Por todos estes factores, a sua previsão é de que “a recessão numa parte da economia e a expansão noutra parte provavelmente se equilibrem em torno de uma taxa de crescimento de 6% ou 7%”, para este ano e para 2016. “No entanto, os mercados não estão a reagir a esse cenário. Estão a prever um cenário muito pior”, acrescenta o gestor. Destaca que a recente queda da rentabilidade das obrigações norte-americanas a 10 anos abaixo dos 2%, “é totalmente incoerente com os fundamentais subjacentes da economia dos EUA”. No entanto continua a olhar para as obrigações como um ativo de valor no atual contexto de mercado. Na entidade também estão curtos no euro e no yen contra o dólar, porque “não duvidamos que a Fed liderará o endurecimento monetário, em relação ao Japão e à Europa”.
No entanto, para Hasenstab a maior janela de oportunidades foi aberta no universo das divisas. Classifica de “oportunidades numa década” o retrocesso para mínimos históricos de divisas como a rupia indonésia, o ringgit malaio e o peso mexicano. “Uma série de divisas emergentes chave têm batido mínimos de todos os tempos. Na Ásia, muitas divisas estão a aproximar-se ou já estão em níveis que não vemos desde os anos 90, quando a Ásia foi a fonte da crise. Hoje os fundamentais são muito diferentes”, clarifica. Contudo, para Hasenstab a grande oportunidade está no peso mexicano, que retrocedeu até um nível inédito de 17 pesos por dólar. “É uma depreciação superior à que vimos durante o efeito Tequila nos anos 90, quando a economia vivia uma altura de muito pouco capital. Hoje o México tem muito pouco endividamento, fortes reservas, uma boa exposição à recuperação económica dos EUA”, destaca.
“Entendemos que este último mês tem sido volátil e tem existido uma pressão descendente significativa sobre os ativos financeiros, mas vemos oportunidades tremendas, porque o pânico não está justificado pelos fundamentais subjacentes. Acreditamos que o contexto global não é perfeito, mas não chega sequer perto daquilo que os mercados estão a considerar nos preços. Nós vamos considerar isso como uma oportunidade”, resume o gestor em modo de conclusão.
Mobius: a correção não foi uma surpresa
Por sua vez, Mark Mobius assinala que “muitas das bolsas do mundo não passaram por uma correção durante muitos anos”. Sublinha que “mercados como o Brasil ou a Rússia estão a cair mais de 30% este ano, mas muitos outros não passaram por perdas que pudéssemos apelidar de um bear market”. Do seu ponto de vista “o pessimismo generalizado e a incerteza prevalecem agora mesmo nos mercados, pelo que é possível que alguns mercados caiam mais antes de assistirmos a uma estabilização”.
O gestor de grande experiência indica também que “nos últimos 20 anos ou mais a nossa equipa tem presenciado uma subida generalizada da volatilidade em todos os mercados (ações, matérias primas e obrigações), que na nossa opinião proveio do uso de derivados e da forte influência da difusão de políticas governamentais distintas, com um aumento exponencial do fluxo de notícias na internet”.
Para além disso, Mobius recorda que “numa série de mercados e sectores, as valorizações estavam a tornar-se bastante caras”, pelo que afirma que a recente correção não tem sido uma surpresa. Sublinha o caso da China: “Tínhamos a clara noção de que o mercado doméstico de ações classe A tinha visto uma especulação intensa que empurrou o mercado para máximos insustentáveis num tempo record com o suporte dos estímulos do governo”.
Relativamente às recentes medidas do Banco Popular da China (BPCh), Mobius indica que “não há muito que os banqueiros centrais possam fazer quando o dinheiro que já está no sistema não está a ser devolvido ao mercado: não só porque se perdeu a confiança, como também porque devido a vários requerimentos prudentes, os bancos não têm aumentado os empréstimos”. Ou seja, com as últimas medidas a intenção do BPCh tem sido “permitir a circulação de dinheiro no sistema bancário”.
O conselho de Mobius para enfrentar períodos como o atual é claro: “Não sinta medo de comprar quando os demais estão a vender. Mas recorda também que o melhor momento para comprar é quando todos os vendedores terminam as suas vendas... algo que pode ser mais fácil de decidir do que fazer!”. Em todo o caso, o gestor recorda que ele e a sua equipa aproveitaram esta classe de correções para “comprar de forma muito cautelosa e seletiva títulos para as nossas carteiras”. Atualmente, os especialistas estão especialmente interessados nos títulos orientados para o consumo tanto da China como de outros mercados emergentes, por causa das suas possibilidades de crescimento de longo prazo.