Embora a dívida corporativa high yield europeia mostre uma surpreendente força técnia, alguns especialistas avisam sobre a necessidade de cautela num contexto em que os spreads ajustados e as elevadas valorizações desafiam os investidores.
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A dívida corporativa high yield continua a ser um foco para os investidores globais, combinando fatores técnicos favoráveis num ambiente macroeconómico desafiante. Num contexto de incerteza económica e de ajustes monetários, este mercado europeu de high yield tem demonstrado uma significativa resiliência técnica. No entanto, como alertam alguns especialistas, a paciência e a prudência são essenciais num panorama onde os spreads ajustados e as elevadas valorizações representam desafios significativos.
Enquanto a Europa se destaca pelo seu equilíbrio entre risco e oportunidade, os Estados Unidos enfrentam um cenário mais incerto, em que o otimismo quanto a uma aterragem suave pode ser frágil. Esta perspetiva sublinha a importância de uma análise cuidadosa e de estratégias ativas para aproveitar as oportunidades sem ignorar os riscos.
A resiliência do high yield europeu
O high yield europeu tem mostrado uma força notável, apoiada por dinâmicas técnicas favoráveis. Segundo Ian Horn, da Muzinich, o mercado registou uma contração significativa, passando de 470.000 milhões de euros em 2022 para aproximadamente 380.000 milhões em 2024. Este fenómeno, impulsionado pela saída líquida de emitentes para investment grade (rising stars), reduziu a oferta de obrigações disponíveis, enquanto a procura cresceu consideravelmente através de ETF e CLO.
“O mercado europeu tem beneficiado de uma procura crescente, o que ajuda a manter os spreads ajustados”, explica Ian Horn. No entanto, avisa que esta força técnica deve ser avaliada com cautela, uma vez que os fundamentais do crédito mostram sinais de pressão, especialmente em termos de métricas de lucros e perspetivas macroeconómicas.
Por sua vez, Konstantin Leidman, da Wellington Management, observa que a região europeia está melhor posicionada do que os Estados Unidos graças a balanços corporativos mais sólidos e a uma menor dependência de estímulos fiscais. “A Europa tem uma vantagem relativa neste contexto, oferecendo um terreno fértil para identificar oportunidades de investimento a curto prazo”, afirma o profissional. Não obstante, menciona que economias-chave como a Alemanha continuam vulneráveis a uma desaceleração do crescimento.
Além disso, as atuais yields de cerca de 6,8%, proporcionam uma proteção atrativa face a possíveis riscos. Embora o contexto técnico tenha favorecido o highy yield europeu, os especialistas concordam que este ambiente não deve ser tomado como uma garantia de resultados futuros, sublinhando a importância de uma abordagem ativa e estratégica.
Diferenciação e oportunidades num mercado volátil
A dispersão no mercado de high yield criou um contexto ideal para estratégias diferenciadas e análises profundas. Konstatin Leidman destaca que “a diferenciação setorial e regional permite que os investidores com uma abordagem bottom-up identifiquem emitentes com perfis de crédito sólidos e modelos de negócio sustentáveis”
Enquanto a Europa oferece oportunidades interessantes, os Estados Unidos enfrentam maiores desafios devido a valorizações mais ajustadas e a um mercado em que o otimismo quanto a uma aterragem suave está plenamente descontado nos preços. O profissional da Wellington Management enfatiza que “a análise fundamental e a seleção ativa serão essenciais para identificar oportunidades neste contexto”.
Ian Horn, por sua vez, defende o uso de estratégias de crossover entre high yield e investment grade, que permitem capturar valor tanto em emissões de menor qualidade como em crédito de maior solvência. Esta flexibilidade, segundo o profissional, “é crucial num contexto de spreads ajustados e volatilidade crescente”. Além disso, destaca que o crescimento do crédito privado face ao público contribuiu para proteger o high yield europeu de riscos associados a empresas excessivamente alavancadas.
Paciência e pragmatismo, fatores-chave para navegar na incerteza
Adam Darling, da Jupiter AM, adota uma postura pragmática perante a volatilidade global. “A paciência será essencial nos próximos meses, uma vez que o impacto das políticas monetárias ainda não se manifestaram por completo”, avisa. Embora os spreads ajustados reflitam o otimismo quanto a uma aterragem suave, o profissional sublinha que os riscos de recessão persistem, o que exige uma abordagem cautelosa.
Em termos setoriais, Adam Darling prioriza áreas defensivas como o consumo básico e os cuidados de saúde, minimizando a exposição a setores cíclicos com elevadas valorizações. Além disso, destaca a importância de manter liquidez nas carteiras para capitalizar possíveis deslocações de mercado. “Não há necessidade de se ser demasiado ambicioso em high yield; o foco deve ser gerir o risco e aproveitar oportunidades favoráveis”, conclui.