Holger Kindsgrab, Deutsche AM: Um rendimento superior a 20% “não está mal para um investimento em obrigações”

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A Deutsche Asset Management destacou Portugal várias vezes este ano como exemplo de um país que conseguiu superar uma grave crise mediante a aplicação de uma combinação de reformas estruturais e austeridade fiscal, nomeadamente em artigos sobre países da zona euro e governo português. É certo que o apoio externo também desempenhou um importante papel, especialmente através da assistência dos mecanismos de resgate europeus ou do famoso discurso do presidente Draghi: “faremos o que for necessário”. Mas “não queremos substimar os esforços feitos pelo país, que hoje estão a dar frutos”, referem da Deutsche Asset Management.

À medida que avançava a recuperação económica portuguesa, as preocupações sobre a sustentabilidade da dívida diminuíam. As agências de qualificação tomaram nota. A Standard & Poor's foi a primeira agência a atualizar Portugal novamente com “BBB-“, em setembro. Isto levou a uma diminuição substancial dos prémios de risco face às obrigações soberanas alemãs, como apresenta o gráfico da semana da Deutsche Asset Management.

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Fonte: Bloomberg Finance L.P., Deutsche Asset Management Investment GmbH as of 12/13/17

Foi esta sexta-feira que a Fitch se juntou à S&P no rol das entidades que avaliam a dívida nacional como investment grade, cimentando a robustez da posição económica de Portugal aos olhos dos investidores. A agência de notação financeira subiu o rating soberano de Portugal em dois níveis, tendo-o não só tirado do "lixo" como o passou para o penúltimo grau de investimento de qualidade, de ‘BB+’ para ‘BBB’. A justificação residiu, sobretudo, na descida da dívida pública, que “deverá descer mais de três pontos percentuais este ano, para um patamar abaixo de 127% do PIB. Esta será a primeira redução do rácio dívida pública/PIB desde a crise da dívida soberana”, refere o relatório da Fitch.

Pegando no exemplo das obrigações da República Portuguesa com vencimento em 2026, os ganhos foram de mais de 18% em 2017. Se a isto se somarem os cupões ao cálculo, obtemos uma rentabilidade superior a 20%, segundo a Deutsche Asset Management. Isto num ano em que a perceção do risco do país se tem progressivamente diluído entre os investidores e, mais importante, entre as agências de rating. “Não está mal para um investimento em obrigações”, como assinala Holger Kindsgrab, Co-Head Rates da Deutsche Asset Management.

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Fonte: Orey iTrade, dezembro de 2017

No entanto, falta ainda a agência Moody’s melhorar a sua opinião sobre a qualidade do crédito para que esta seja elegível para inclusão nos índices investment grade. A acontecer o upgrade, “a dívida pública portuguesa passará a ser incluída nestes índices aumentando significativamente a base de investidores, o que pode originar um estreitamento de spreads vs dívida pública de países core ou de outros países periféricos”, comentava Duarte José, portfolio manager de obrigações na IM Gestão de Ativos, em setembro.