As reações foram moderadamente positivas nos mercados financeiros. Gestores e analistas veem esta arrasadora vitória como uma oportunidade para a estabilidade política, o crescimento económico e a melhoria de relações com a UE. No entanto, alertam para alguns desafios a ter em conta.
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A grande vitória do Partido Trabalhista liderado por Sir Keir Starmer nas eleições gerais do Reino Unido geraram uma série de reações nos mercados financeiros. Gestores e analistas veem esta arrasadora vitória como uma oportunidade para a estabilidade política, o crescimento económico e a melhoria de relações com a UE. No entanto, alertam para alguns desafios importantes a ter em conta.
São grandes as expetativas de que o Partido Trabalhista vai cumprir as suas promessas eleitorais, tanto de crescimento económico, estilo controlo da despesa e uma rigorosa disciplina fiscal, como das suas relações comerciais com a União Europeia.
Gabriella Dickens, economista na AXA IM, alerta que esta vitória não se traduz necessariamente num aumento significativo do apoio ao Partido Trabalhista: “A história é, em grande medida, de debilidade conservadora, mais do que força trabalhista”. De facto, menciona que “a participação de votos aumentou 1,6 pontos percentuais, para 33,8%”.
Impacto nos mercados financeiros
A reação inicial dos mercados foi moderada, visto que a vitória era bastante expectável. No entanto, os ganhos iniciais do FTSE 100 desvaneceram ao longo da sessão, chegando a perder quase 70 pontos básicos, enquanto a libra fortaleceu ligeiramente face ao euro e ao dólar, embora o movimento tenha sido limitado.
As maiores quedas foram registadas no setor financeiro, enquanto os ganhos foram liderados pelo setor imobiliário. Os participantes do mercado esperam um período de estabilidade que atraia investimentos num mercado com valorizações depreciadas. Mark Nash, Huw Davies e James Novotny, gestores de Obrigações na Jupiter AM, assinalaram: “Apesar da posição fiscal do Reino Unido, consideramos que as yields das gilts parecem baratas em comparação com as de outros países com posições fiscais débeis (por exemplo, França), pelo que poderá haver fluxos para as gilts a partir de outros mercados de obrigações soberanas que ainda enfrentam problemas políticos”.
No âmbito das ações, Adrian Gosden e Chris Morrison, gestores de Ações do Reino Unido na mesma gestora, consideram que “as ações britânicas têm tido um bom desempenho este ano, e esperamos uma recuperação sustentada do mercado, apoiada por fatores de ajuda como o debilitamento da inflação, um possível corte de taxas por parte do Banco de Inglaterra, as atrativas valorizações das ações britânicas e o bom comportamento dos lucros das empresas britânicas”.
Estabilidade política e confiança dos investidores
A maioria dos gestores concorda que a vitória dos trabalhistas trará um período de estabilidade política após anos de turbulência. Este contexto mais estável poderá beneficiar os mercados e atrair investimentos. Matthew Beesley, CEO da Jupiter AM, afirma: “Há motivos para esperar que o novo governo inaugure um período de estabilidade política, priorize as reformas de Edimburgo e se responsabilize por uma clara estratégia de crescimento industrial que cimente a recuperação do Reino Unido e o torne novamente um foco-chave para os investidores internacionais”.
Ben Ritchie, responsável de Ações de Mercados Desenvolvidos da abrdn, comenta: “A vitória arrebatadora dos trabalhistas traz a clareza e a estabilidade de que os mercados de ações precisam num mundo cada vez mais volátil”. Esta clareza e estabilidade são essenciais para os investidores confiarem no mercado britânico e o tenham em conta a longo prazo nos seus investimentos no país.
“Um governo de maioria absoluta deverá reduzir a instabilidade política do país, ajudando empresas e investidores a anteciparem-se às mudanças políticas. A curto prazo, a economia vai recuperar após a recessão do final do ano passado, mas há riscos estruturais que persistem, como o envelhecimento da população e as tensas relações comerciais. Reformar o sistema de planificação e fazer do Reino Unido um destino mais atrativo para o investimento estrangeiro direto deverão ser as principais prioridades do governo”, acrescenta Azad Zangana, economista sénior na Schroders.
Políticas económicas e fiscais
O novo governo herda uma situação fiscal complicada que poderá restringir a sua margem de manobra. Qualquer perceção de políticas fiscais imprudentes poderá prejudicar a libra e influenciar as decisões do Banco de Inglaterra sobre as taxas de juro. Nalaka De Silva, responsável de Soluções para Mercados Privados da abrdn, considera que “conseguir um crescimento que sustente a despesa pública é uma prioridade fundamental para o novo governo, e espera-se que o foco de atenção nos primeiros 100 dias de mandato incida na planificação das reformas”.
Além disso, Martin Wolburg, economista sénior na Generali AM, alerta que, “embora o manifesto do Partido Trabalhista sugira uma perspetiva fiscal global sem alterações, a cómoda maioria poderá ter a tentação de se encaminhar para uma trajetória fiscal perdedora. A prova de fogo será o orçamento de 2025, apresentado no final de setembro ou no início de outubro”. Por isso, o economista considera que este orçamento será fundamental para avaliar o compromisso do governo com a disciplina fiscal e a sua capacidade para gerir a economia de forma eficaz.
Reformas no setor financeiro e de investimentos
Para impulsionar o investimento e o crescimento, vários gestores destacam a necessidade de reformas no setor financeiro. Christian Pittard, responsável de Fundos Fechados e diretor-geral de Finanças Corporativas da abrdn, sugere que “o novo governo deve estudar urgentemente a possibilidade de ajustar as normas de divulgação de despesas que estão a abrandar o setor dos fundos fechados no Reino Unido. Não há nada a perder mas sim a ganhar, com um custo zero para o dinheiro público, ao mesmo tempo que se impulsiona a confiança dos investidores e o investimento no Reino Unido”.
Alastair Black, responsável de Políticas de Poupança da abrdn, acrescenta: “Ficamos felizes com o facto de o programa eleitoral trabalhista se ter comprometido com a aplicação de uma revisão do panorama das pensões, reconhecendo a importância tanto de oferecer melhores resultados em matéria de pensões, como de fomentar o investimento no Reino Unido”. Estas reformas não só melhorarão o panorama das pensões, como também estimularão o investimento e a confiança no mercado britânico.
Resta saber, como afirmam os especialistas, a evolução das medidas que o novo governo vai tomar e como vai enfrentar os persistentes desafios existentes, pelo que os próximos meses serão cruciais.