Acabou a incerteza. Emmannuel Macron será o presidente de França durante os próximos cinco anos. Ganhou a segunda volta a Marine Le Pen com 58,5% dos votos. Segundo Frédéric Leroux, membro do Comité de Investimento Estratégico da Carmignac, a vitória de Macron provavelmente vai tranquilizar os mercados quanto à continuidade da dinâmica europeia. “A curto prazo, o principal beneficiário destas eleições poderá ser o euro, que na passada sexta-feira ainda tocava em mínimos não atingidos há dois anos face ao dólar”, afirma.
Na sua opinião, dado que as ações europeias tiveram uma rentabilidade bastante superior às americanas nos últimos dias, não há necessariamente uma razão para esperar uma rentabilidade superior massiva das ações francesas ou europeias face às americanas. “No entanto, o aspeto negativo destas eleições para os mercados poderá vir de uma decisão rápida a favor de um embargo ao petróleo russo que vai exacerbar as pressões inflacionárias e a desaceleração económica (cenário de estagflação) na Europa”, indica. E, na mesma linha, opinam na BlackRock. A gestora americana prevê ganhos modestos para as obrigações periféricas, o euro e as ações francesas em resultado do status quo.
Implicações setoriais
Antes das eleições presidenciais, várias ações francesas tinham tido problemas se compararmos com empresas europeias semelhantes, já que os investidores estavam preocupados com as implicações de uma vitória de Le Pen. “O alívio da vitória de Macron deve ajudá-las”, refere Oliver Collin.
Para o gestor de fundos da equipa de Ações Europeias da Invesco em Henley, determinadas indústrias também devem beneficiar da agenda e das políticas propostas no seu programa, incluindo os bancos, o setor automóvel, a tecnologia e as empresas de defesa. “No que respeita os serviços públicos e energia, é provável que haja mudanças, mas, em geral, são em grande medida uma continuação das anteriores, com uma maior ênfase na energia nuclear”, assegura.
Não obstante, o mais importante para Collin são as ramificações a mais longo prazo de uma maior integração europeia. “Uma Europa mais coesa, centrada em investir na economia e nas indústrias nacionais para serem mais autossuficientes, impulsionará o crescimento económico a longo prazo, o que será útil para os ciclos nacionais. Uma Europa mais coesa politicamente também fará questionar o prémio de risco elevado associado às ações europeias. Os spreads periféricos também deviam reduzir-se proporcionando um tailwind para as ações das empresas desses países”.
Nem tudo continuará igual
Apesar da vitória do atual presidente da República francesa, nem tudo vai continuar igual. “Consciente da fragilidade da sua candidatura, Macron anunciou uma mudança de método entre as duas voltas. Assim, prometeu realizar mais consultas sobre as grandes orientações da sua política (pensões, educação, saúde). Não poderá lançar reformas nem aprovar leis imediatamente. Será necessário assegurar uma maioria no Parlamento (eleições legislativas previstas de 12 a 19 de junho)”, explica Vincent Mortier, diretor de Investimentos da Amundi.
E assim surge outra pergunta. O resultado das eleições é suficientemente claro para antecipar que as eleições legislativas de junho vão dar a Macron uma maioria que lhe permitirá aplicar as suas políticas pro-empresariais e pro-europeias desencadeadas pelos mercados? Parece arriscado dá-lo por garantido.
Tal como recorda o especialista, historicamente, os eleitores deram sempre a maioria ao presidente eleito. Mas a crescente fragmentação do panorama político parece fazer duvidar que o partido de Marcon tenha a maioria absoluta desta vez. “Neste caso, procurará fazer uma grande coligação (que poderá incluir, por exemplo, os Verdes e membros dos Les Républicains)”, comenta.
Implicações a nível local e europeu
A nível local, Pietro Baffico, economista da abrdn, recorda que os partidos tradicionais de centro-direita e centro-esquerda continuam a contar com um forte apoio, como demonstram as eleições regionais de 2021. “A popularidade pessoal de Macron é menor agora do que em 2017. E os partidos de extrema esquerda e extrema direita já apelaram à unidade. O seu objetivo: limitar a La Republique en Marche nas eleições parlamentares”, aponta.
A nível europeu, para encontrar alguma margem de manobra financeira, agora que a normalização do BCE reduz as opções de política fiscal expansiva a nível nacional, Gilles Moëc, responsável de Economia da AXA IM, espera que Emmanuel Macron pressione ainda mais fortemente uma segunda fase de mutualização da dívida na UE. “Isto será um caminho difícil”, considera.