Investir em inteligência artificial não é tão simples como escolher a melhor tecnologia. Há uma longa cadeia de valor por onde escolher e que não está isenta de riscos. Jonathan Tseng, analista sénior do setor tecnológico na Fidelity, explica quais são.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
Investir em inteligência artificial não é tão simples como escolher a melhor tecnologia. Há uma longa cadeia de valor por onde escolher, que abrange desde as componentes informáticas básicas aos chatbots especializados. Outra consideração essencial é o nível de exposição de uma empresa. “Por exemplo, a Microsoft está bem posicionada para aproveitar oportunidades nesta tecnologia: tem uma grande participação na OpenAI, já incorporou o ChatGPT no seu motor de busca e planeia integrá-lo no seu pacote Office. No entanto, o aumento das receitas da Microsoft procedentes da inteligência artificial generativa pode não ser tão grande como o mercado espera”, explica Jonathan Tseng.
Neste ponto, o analista sénior do setor tecnológico na Fidelity International considera que a inteligência artificial generativa não vai fazer mexer muito os números deste gigante e a Google e a Amazon continuarão a ser concorrentes formidáveis. “Apesar disso, a cotação da Microsoft aumentou um terço nos últimos seis meses, devido ao que parece ser um excesso de entusiasmo em torno da inteligência artificial. É importante não olhar só para os beneficiários da inteligência artificial generativa, mas também para as expetativas e valorizações”.
Títulos oversold
A este respeito, a consultora tecnológica Gartner alertou para o ciclo de expetativas que muitas vezes se repete na tecnologia, em que uma novidade evolui de inovação para o entusiasmo excessivo, para a desilusão e, finalmente, para a compreensão da sua relevância e papel no mercado. “Como tecnologia, a inteligência artificial generativa ainda tem ainda caminho por percorrer antes de chegar ao excesso de entusiasmo, mas a dada altura chegará provavelmente a esse patamar e ao longo do tempo poderá haver casos de interesse desproporcionado por empresas concretas do setor”.
A mais curto prazo, entrou muito dinheiro especulativo em títulos da inteligência artificial durante o último ano e muito disto se deve aos investidores que procuram exposição ao tema, em vez de aplicarem um quadro de investimento mais rigoroso para gerar retornos a longo prazo.
“Isto significa que, embora a inteligência artificial possa ter um longo período de crescimento pela frente, alguns títulos e segmentos podem acabar sobrevalorizados e sujeitos a um elevado risco. Na minha opinião, o melhor para os investidores é adotarem uma abordagem baseada nos preços que dê ênfase às áreas subvalorizadas da cadeia de valor da tecnologia. Os semicondutores são uma parte da cadeia de valor da IA que, na minha opinião, oferecem um perfil de risco e recompensa atrativos”.
Uma tecnologia com pontos fracos
A inteligência artificial generativa é brilhante na execução rápida e com qualidade de determinadas tarefas, mas pode não fazer alguns trabalhos bem. O seu ponto fraco fundamental é que pode ter problemas em garantir a qualidade, precisão e originalidade do conteúdo que elabora. Pode desenhar imagens realistas, mas pode por vezes cometer erros, como colocar dois volantes num carro ou três pernas numa pessoa. “Isso significa que a inteligência artificial generativa não deve necessariamente ser vista como algo que irá substituir os humanos num contexto de trabalho”, afirma Jonathan Tseng.
O analista sénior do setor tecnológico na Fidelity International considera inevitável que alguns postos de trabalham percam conteúdo ou se tornem obsoletos, como os agentes de serviço ao cliente, que lidam principalmente com questões repetitivas que podem ser, em grande parte, automatizadas pela inteligência artificial, ou o caso dos contabilistas, que poderão ser substituídos por sistemas de contabilidade baseados neste conceito. Mas outros empregos podem ser potenciados pela inteligência artificial generativa, incluindo as tarefas criativas, como a criação de videojogos, o desenvolvimento de cenários para filmes, a produção musical, a programação de aplicações informáticas e a escrita.
Os trabalhadores vão sofrer alterações
“Do mesmo modo que o Microsoft Excel se generalizou para tarefas quantitativas, a inteligência artificial generativa pode tornar-se numa nova e atrativa fonte de projetos artísticos. A sua utilização em tarefas repetitivas e a potencialização de outros trabalhos são dois fatores que devem impulsionar a melhoria da produtividade. Poderá libertar trabalhadores para se focarem em tarefas com maior valor acrescentado e criar novas vias de crescimento, tal como as start-ups com capacidade 4G como a Uber, a Airbnb e o Instagram, que precisam de ligação móvel permanente”, explica o especialista. No entanto, os trabalhadores vão sofrer as alterações.
Na sua opinião, muitos terão de se adaptar, especialmente nos setores criativos, como os editores, os tradutores, os profissionais de marketing, os designers gráficos e os produtores musicais, “O setor do ensino à distância sofreu uma forte queda, uma vez que as empresas admitem que a inteligência artificial já afetou as suas vendas e outras áreas também sentirão a pressão. Os trabalhadores melhor colocados serão os que aprendem a explorar a tecnologia para realizar melhor as suas funções”.
Riscos
A inteligência artificial generativa poderá criar riscos em matéria de propriedade intelectual e plágio, propagação de notícias falsas ou conteúdo ofensivo, roubo de identidade e uso indevido por parte de criminosos para enganar, defraudar e manipular. Há mesmo quem preveja um cenário apocalíptico em que se torna inimiga da humanidade e dá origem a robôs-soldado e em que os sistemas de inteligência artificial se tornam incontroláveis.
Embora possa parecer exagerado, é um risco para o qual especialistas como Elon Musk, cofundador da OpenAI (a empresa por detrás do ChatGPT) e Geoffrey Hinton, um pioneiro da inteligência artificial, alertaram. De facto, os máximos executivos das grandes empresas de inteligência artificial, como a Google, a Microsoft e a OpenAI, reuniram-se recentemente com a vice-presidente dos EUA para analisar a segurança dos seus produtos.
De acordo com Jonathan Tseng, outro risco está relacionado com a concorrência. “Os avanços da inteligência artificial exigem recursos significativos que só as empresas bem financiadas podem pagar, o que pode resultar numa indústria oligopolista. Isso pode levar a alguma forma de regulação da concorrência. De facto, a Autoridade da Concorrência e Mercados do Reino Unido lançou uma revisão do mercado da inteligência artificial e a Comissão Federal do Comércio dos EUA declarou recentemente que está muito atenta a esta área”.
Impacto das tensões geopolíticas
O setor também enfrenta considerações e riscos de caráter mais geral. A indústria dos semicondutores influencia e é influenciada pelas tendências geopolíticas. Por esse motivo, os governos estão a adotar cada vez mais medidas protecionistas. “A desconexão das cadeias de abastecimento internacionais e a deslocalização de instalações de produção para países amigos podem restringir o fluxo de dados e talento na inteligência artificial. As autoridades estão a começar a restringir as exportações de tecnologias relacionadas com isso e podem obrigar as empresas a divulgar mais informação sobre os algoritmos que estão a desenvolver”.
Neste sentido, as tensões geopolíticas podem afetar a capacidade das empresas e dos investigadores para proteger a propriedade intelectual, o que pode limitar o ritmo de inovação. “Todos estes fatores acrescentam uma dimensão adicional de risco político ao investimento em inteligência artificial. No entanto, embora estas pressões possam abrandar o desenvolvimento, é improvável que o impeçam, tendo em conta que a inovação está a ocorrer em todo o mundo e muitas regiões e países estão na vanguarda”, conclui o especialista da Fidelity International.