Investimento com geração de rendimentos: três detalhes a ter em conta sobre a cultura europeia do dividendo

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Tradicionalmente, as empresas europeias têm mostrado uma maior disposição para uma política de distribuição de rendimentos aos seus acionistas de forma prolongada no tempo, quando comparadas com as suas concorrentes norte-americanas. Com os investidores cada vez mais interessados ​​em estratégias com foco na geração de rendimentos, a Europa continental tornou-se para muitos num mercado muito favorável à obtenção de dividendos. Neste contexto James Sym, gestor de ações europeias na Schroders, explica algumas das peculiaridades do mercado europeu de dividendos, que se devem ter em conta. 

"Assume-se com frequência que se pode investir ou numa perspectiva de crescimento de capital ou numa lógica de obter rendimentos, mas não se trata de uma decisão binária na Europa já que há abundantes oportunidades para investir em ações que oferecem tanto uma coisa como a outra. Uma das melhores coisas sobre a Europa é que se pode obter rendimentos em praticamente todos os sectores de mercado, pelo que se pode pensar numa grande variedade de exposições para gerar income", acrescenta. 

Assuntos de família

Sym aprofunda, dizendo que uma grande diferença entre a Europa e outros mercados é que, em muitos casos, as famílias fundadoras permanecem, muitas vezes, como acionistas de referência nas empresas que criaram, e tendem a confiar na capacidade destas empresas em gerar dividendos para daí retirarem os seus próprios rendimentos. É mais provável que as empresas em que existe um acionista influente que depende do fluxo de dividendos continue a pagar esses dividendos, mesmo que as métricas financeiras estejam sob pressão, indica o gestor. 

Em contraposição, diz que, nas mesmas circunstâncias, as empresas que não dispõem deste tipo de acionistas poderão optar por ajustar as suas finanças ao invés de continuar a pagar ou aumentar dividendos. “Claramente, os investidores devem tomar algumas precauções para investir nessas empresas, embora possam ser uma ferramenta útil para aqueles investidores que procuram rendimentos”, diz o especialista. 

Sym também aborda outras formas de gerar retornos para os acionistas, como a recompra de ações. Apesar desta manobra ser mais comum nos EUA do que na Europa, o representante da Schroders explicou que a sua popularidade do outro lado do Atlântico se pode explicar por argumentos como os benefícios fiscais ou incentivos para a equipa de gestão. “Os dividendos podem ser preferíveis relativamente à recompra de ações por várias razões, como o facto de poderem constituir um sinal de confiança e compromisso contínuo da empresa para com os acionistas. Os investidores também têm a opção de reinvestir os dividendos na empresa caso queiram”, esclarece. 

Retorno vs reinvestimento

Sym indica que, durante os últimos três anos, da Schroders constataram uma mudança na forma como as empresas estabelecem as suas prioridades relativamente ao uso da sua liquidez, deixando para trás os gastos de capital e as fusões e aquisições (M&A), e aproximando-se da política de distribuição de dividendos e recompras de ações. As empresas que anunciaram aos seus acionistas pay outs mais generosos foram tipicamente recompensadas ​​pelo mercado e isto teve um efeito de bola de neve, ao entrarem mais empresas para este ‘vagão’” comenta o gestor. 

Não obstante, Sym aclara que o ponto de vista da gestora à qual pertence é que “uma recuperação nos gastos com capital poderá ajudar de forma mais significativa os lucros e, consequentemente, a valorização da empresa em bolsa. “Portanto, na Schroders centram a sua seleção em “empresas que tenham um equilíbrio entre os retornos gerados hoje através da retribuição e que invistam na própria empresa em prol da obtenção de retornos num amanhã”. Neste contexto, o especialista destaca que “há indicações de que a atividade de M&A se esteja a recuperar na Europa e o investimento em capital deverá acontecer logo depois”.

Uma abordagem menos tradicional

Durante os últimos anos, muitos investidores procuraram rendimentos no mercado de obrigações ou nos fundos monetários, antes de considerar as ações. Sym afirma que “já não é uma opção no mundo de hoje com taxas de juros baixas e yields das obrigações igualmente reduzidas. Sublinha, por outro lado, que “o dividend yield oferecido pelas ações europeias supera os retornos das obrigações e do mercado monetário”, pelo que conclui que “os investidores que procuram rendimento têm agora poucas alternativas, senão voltar-se para o mercado acionista”. 

No entanto, o gestor também faz distinções em relação aos sectores mais favoráveis ​​para encontrar oportunidades, mesmo que inicialmente tenha assegurado que estas se podem encontrar em praticamente todos os segmentos europeus. Em particular, declara que “os títulos clássicos e ‘seguros’ de geração de rendimentos, tais como os grupos de alimentares tornaram-se caros nos últimos anos, dado que os investidores procuraram fontes alternativas aos títulos de dívida para conseguir rendimento”.

Contudo, Sym está consciente de que muitas dessas empresas “estão a desfrutar de altos níveis de rentabilidade, levantando a questão de existir ou não margem para uma melhoria dos lucros e cotações, nomeadamente à medida que se verifique a saída do mercado acionista perante uma subida das taxas das obrigações”; um dos sectores com maior sensibilidade ao aumento das taxas de juro é o das seguradoras. “Os títulos que provavelmente beneficiarão de uma tendência de subida das taxas de juro podem revelar-se uma opção mais atrativa”, conclui Sym. 

O especialista propõe para terminar outra possibilidade de investimento. Tendo em conta que, em oposição a estas ações mais defensivas, muitas empresas europeias ainda apresentam níveis reduzidos de geração de lucros, o gestor determina que isto "implica um elevado potencial de recuperação, e a possibilidade de aumentar dividendos à medida que surja o crescimento dos lucros”. Consequentemente, na sua estratégia favorece as ideias mais cíclicas, preferindo ativos que possam beneficiar de uma melhoria substancial na economia do Velho Continente.