O auditório da NOVA SBE foi o palco de uma recente discussão entre vários agentes do mercado nacional – e não só – sobre o investimento ESG.
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O investimento ESG está mais do que nunca em cima da mesa, e a CFA Society Portugal, na sua conferência anual de gestão de ativos, elegeu precisamente esta temática para chamar ao debate entidades nacionais, o regulador, e ainda uma entidade internacional com expertise no assunto.
Numa mesa redonda com estes agentes, e moderada por Miguel Rêgo, CFA, da Funds People Portugal, foram abordados tópicos como não ser necessário “sacrificar” performance numa abordagem de investimento sustentável, a gestão de risco associada ao investimento ESG e como o regulador se posiciona sobre o tema, havendo ainda espaço para explorar o que é que as entidades nacionais têm feito neste universo.
Sabrina Ritossa Fernandez, especialista de ESG da entidade gestora francesa Sycomore AM, começou por elaborar sobre a aplicação de critérios ESG como uma forma de evitar que alguns riscos extremos se materializem no portefólio. “Para mim uma empresa que providencia produtos que estão em linha com critérios sociais tem mais hipóteses de ter sucesso e menos riscos do que uma empresa que não o faça”, introduziu, trazendo à plateia um exemplo em que a abordagem ESG preveniu o que seria uma má escolha de investimento. “Na altura estávamos a olhar para uma empresa chinesa que faz videojogos, e surgiram reações negativas dos media e da sociedade relativamente a esse tipo de empresa em resultado de as pessoas estarem completamente viciadas num jogo em específico dessa companhia. Cerca de três meses depois o governo chinês proibiu o uso deste jogo para pessoas com idade inferior a 18 anos, o que fez com que as ações caíssem a pique. Se tivéssemos investido na altura, nunca recuperaríamos o investimento. Mesmo que seja no curto prazo, uma perspetiva de investimento com critérios ESG permite ter uma melhor visão da empresa”, atestou a profissional
Cristina Brízido, CFA, responsável de Investimentos da Caixagest, gestora que se tornou recentemente signatária dos Principals for Responsible Investment (PRI) das Nações Unidas, é coincidente quando o tema é a forma como se analisa uma empresa num ambiente ESG. Considera que “uma das contribuições da análise ESG diz respeito à consciência que os investidores devem passar a ter relativamente às possibilidades de controvérsia que podem envolver uma empresa e que nem sempre são abordadas no research tradicional”.
Melhores retornos, mas não necessariamente retornos mais elevados. É o que Jorge Sousa Teixeira, CFA, da BPI Gestão de Activos, acredita vir acoplado ao investimento ESG. “Tratar-se-ão de retornos melhores porque sabemos que os nossos clientes estão a exigir isso de nós, mas também serão retornos melhores e mais adequados na perspetiva do próprio regulador”. Recordou o caso de uma empresa que se viu envolvida numa controvérsia ambiental, altura em que o grupo onde trabalha decidiu “em vez de vender as ações e obrigações da empresa, agir sim junto da empresa para que mudasse a sua atuação, naquilo que se chama «engagement»”. Do lado da entidade, lembra, existiu “um engagement na empresa com alguns investidores de forma a fazer com que a empresa mudasse a sua política de governance”. “Vender todos os títulos de empresas que têm algum comportamento menos adequado não é a solução”, referiu. A BPI GA é também subscritora dos PRI das Nações Unidas. Foi aliás a primeira entidade gestora de fundos mobiliários a fazê-lo em Portugal, muito embora isso não se traduza em produtos com caráter ESG, segundo diz Jorge Sousa Teixeira. “Estamos a fazer uma integração gradual com o Grupo Caixabank, e um dos pilares do plano estratégico a três anos é o investimento responsável”, referiu o profissional.
Mas qual a melhor forma de abordar e colocar em prática o investimento ISR? Engagement? Integração? Exclusão? Para Cristina Brízido a integração é a melhor forma de começar a abordar este mercado. “Existem abordagens de engagement e de impacto que podem definitivamente ser adoptadas, mas, em primeiro lugar, acreditamos que a integração é mais importante; só depois quando esta abordagem estiver totalmente estabelecida no processo de investimento se pode começar a pensar em seguir em frente”, explica.
Sabrina Ritossa Fernandez, por seu lado, apresenta outra abordagem sobre o assunto. “Por esta altura acredito que a integração já é um pouco mainstream, e é preciso procurar algumas abordagens diferentes, como selecionar entre os campeões de sustentabilidade, já que existem alguns sectores que não são de todo ajustados a este tema da sustentabilidade”, indica. O engagement, assinalou, é um ponto a ter em atenção pois “é muito eficaz nalguns casos, e pouco noutros”. “Tem de se dar um incentivo às empresas para que ouçam os seus shareholders”, concluiu.
Do lado da regulação, Rita Oliveira Pinto, diretora do departamento internacional e de política regulatória da CMVM, falou da necessidade de existência de uma“abordagem convergente e harmonizada”. “É importante que os players se movam no mercado sem grandes diferenças de legislação entre eles, é importante aumentar a transparência para permitir que os investidores tenham uma melhor percepção das características e dos riscos dos produtos sustentáveis, possibilitar a comparabilidade dos produtos e prevenir o “o green washing”, elencou. Falando do trabalho que têm vindo a fazer no regulador, deixou aos presentes a ideia de que têm defendido face às propostas regulatórias da Comissão Europeia “uma abordagem mais assente em princípios e menos em regras prescritivas” porque entendem que se impuserem “demasiados requisitos com elevados custos de compliance” poderão estar a “limitar a inovação, a competição e a capacidade de resposta às novas tendências e solicitação de novos produtos”.