Investir em crédito: como tudo mudou em seis meses

generali alternativos Rui Broega, Hugo Custodio, Ricardo Silva crédito
Almudena Mendaza, Rui Broega, Hugo Custódio, Ricardo Silva. Créditos: Vítor Duarte

Aproximadamente uma semana após a Fed anunciar um aumento de 75 pontos base na sua taxa de juro de referência, a FundsPeople organizou um pequeno-almoço, patrocinado pela Generali Investments, com representantes de três entidades portuguesas que operam no mercado obrigacionista. Será que estes veem mais oportunidades ou mais ameaças no setor da dívida?

Para Ricardo Silva, selecionador de fundos da Crédito Agrícola Gest, as maiores ameaças são claras: “Vivemos tempos de grande incerteza.  A guerra em solo europeu, a inflação em números muito altos e a postura mais hawkish dos principais bancos centrais são as principais ameaças”. 

Os riscos descritos foram consensuais, no entanto, algo mudou durante o ano. “Quando o ano começou, o nosso outlook para esta classe era horrível. No entanto, agora acreditamos que existem oportunidades muito interessantes”, explica a responsável de vendas ibérica da Generali Investments, Almuneda Mendaza. Rui Broega, diretor coordenador de gestão de ativos do Banco BIG, acrescentou ainda: “Em seis meses, o mercado global de dívida corporativa IG passou do menos atrativo de todas as classes de ativos para um dos mais interessantes/compensatórios. Gosto do nível a que agora sou compensado pelo risco de crédito em que incorro”.

Para Hugo Custódio, gestor da GNB Gestão de Ativos, é ainda complicado realizar previsões no curto prazo. “Quando comprar? É muito difícil prever. No entanto, olhando para o médio prazo, já me sinto confortável em comprar alguns títulos de qualidade. As curvas dos spreads estão mais atrativas e a yield a crescer, é difícil ver estes movimentos a abrandar. Estimo que a inflação continue acima do desejado pelos bancos centrais, pelo menos, nos próximos dois anos”, revela o investidor.

As ineficiências

Almudena sugere que o mercado de dívida criou algumas ineficiências e que estas representam oportunidades únicas. “Assistimos a quedas maiores no segmento de investment grade do que no de high yield. Isto é a definição de ineficiência. Estamos posicionados para tirar partido destas situações. É praticamente impossível para o gestor de um portefólio estar fora do mercado obrigacionista, o importante é estar pronto para aproveitar estes movimentos”, atira a responsável de vendas.

O representante do Banco BIG concorda: “Não vejo os bancos centrais a conseguirem implementar as subidas de taxas de juro já descontadas no mercado. Adicionalmente, as yields do segmento de investment grade estão muito altas e os investidores ainda têm dinheiro fora do mercado”.

Para finalizar, Ricardo Silva segue o mesmo tom. “Existem oportunidades no mercado, embora seja difícil antecipar se já estamos perante o momento ótimo de entrada. Na minha opinião, é uma boa altura para estarmos atentos às oportunidades que se vão apresentando nos mercados. Talvez seja ainda cedo para alterar de forma material a alocação das carteiras que gerimos”.