Numa conversa recente entre a FundsPeople e Nicolas Gonçalves, gestor do novo fundo AB European Growth, da AllianceBernstein, este explicou-nos como a estratégia do fundo pode criar alpha no mercado europeu, através de uma análise focada no negócio e a longo prazo.
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O ano 2024 começou com uma grande mudança para Nicolas Gonçalves, gestor de portefólios focado no mercado acionista europeu. “Depois de cinco anos a gerir o fundo Allianz European Equity Growth, a nossa equipa recebeu, da AllianceBernstein, uma proposta irrecusável para um projeto novo”, conta. Foi assim que nasceu o AB European Growth, fundo que investe exclusivamente e a 100%, ou seja, sem liquidez, em ações europeias.
As posições do fundo
Atualmente, o fundo tem cerca de 50 posições. Segundo Nicolas Gonçalves, o fundo tem a liberdade de ter entre 40 e 60 posições a qualquer momento, sendo a razão dada pelo gestor a seguinte: “Acreditamos ser um número que permite demonstrar a nossa qualidade de stock picking e ter uma concentração diferente o suficiente do benchmark, ao mesmo tempo que nos permite ter diversificação suficiente para gerir o risco”. Não deixa, no entanto, de referir que são agnósticos em relação ao benchmark. “Nas nossas reuniões ninguém fala do benchmark”, diz. As posições são escolhidas a dedo, e requerem consenso de toda a equipa. Assim, segundo o gestor, “todos podemos procurar bons investimentos em qualquer indústria, não temos focos individuais”. Posteriormente, explica, apresentam a tese à equipa, que tem que chegar a um consenso entre investir ou não. De igual modo, esta estratégia permite “reduzir o viés pessoal”, complementa.
A estratégia
Nicolas Gonçalves descreve o processo de investimento como “totalmente bottom-up”, já que em momento algum é priorizada análise de valor de mercado da empresa. “A nossa análise começa por um processo de encontrar negócios de alta qualidade e com crescimento estrutural. Não aderimos à estratégia de timing the market, isto é, por mais que a ação esteja subvalorizada face às métricas de avaliação, se não for uma empresa que tenha as outras duas características, não nos interessa. Nem nunca começamos a nossa análise por aí. A avaliação atual é o elemento decisor final. Caso as outras duas métricas internas se verifiquem, fazemos uma análise ao valor de mercado e decidimos”, explica.
“Quando falamos em crescimento estrutural, falamos em conseguirem crescer sob qualquer condição de mercado. São negócios que vão crescer durante 10, 15 anos, não os que, numa perspetiva macroeconómica, poderão crescer nos próximos dois ou três anos”, complementa o gestor de fundos da AllianceBernstein, afirmando que as empresas que escolhe “são mais inovadoras, capazes de criar o seu próprio crescimento. Não estão passíveis somente do crescimento do setor”.
Ainda assim, o gestor assume que a maior diferenciação face à competição acontece no espaço dos negócios de alta qualidade. Explica que “a maioria das pessoas, e por consequência os fundos, focam-se nos números. Nós focamo-nos no negócio e nas pessoas. A cultura da empresa e da gestão do negócio são imprescindíveis quando investimos a longo prazo”, assinala. Do mesmo modo, Nicolas Gonçalves clarifica que existem outros fatores numa empresa que definem a sua qualidade e que a equipa também prioriza, como, por exemplo, as barreiras à entrada na indústria, as vantagens competitivas, a composição do balanço, fortes retornos no capital e negócios que têm receitas recorrentes. “Para entrar na indústria dos semicondutores, é necessário tempo e capital. Os custos de pesquisa e desenvolvimento são altos e o retorno não é imediato, pelo contrário. Assim, grandes players da indústria vão-se mantendo e crescendo com reduzida competição”, exemplifica.
Negócios cíclicos
Os negócios cíclicos, do ponto de vista da equipa que gere o AB European Growth, são de evitar, já que não têm receitas recorrentes e estáveis. Um exemplo é o setor automóvel, que Nicolas Gonçalves diz ter “alta competitividade”, e, devido ao elevado custo para o consumidor, ser “rapidamente posto de lado em alturas de crise”. No tópico do setor automóvel, relembra um fator que diz ser “importante, mas por vez esquecido em prol do custo de entrada”, que é o custo de saída. O profissional explica que “caso uma empresa automóvel precise de reduzir a sua escala, é muito complicado despedir pessoas, já que é uma indústria sindicalizada, e, da mesma forma, vender máquinas e fábricas não é fácil, já que cada uma é feita para cada modelo”.
No entanto, esclarece que investe em “empresas paralelas a estes negócios cíclicos ou capital intensive. A mineração, por exemplo, requer ferramentas específicas, que necessitam de manutenção periódica e constante. Se seria muito surpreendente que investíssemos diretamente numa empresa de mineração, o mesmo não é verdade para as empresas que fazem estas ferramentas e a manutenção. Sentimo-nos mais confortáveis com os modelos de negócio asset-light e estáveis dessas empresas que vendem as “picks and shovels” aos mineradores”. O profissional dá, como outro exemplo, os semicondutores para carros.
Europa vs EUA
No tema Europa vs Estados Unidos, Nicolas Gonçalves defende a sua tese dizendo que “os bons resultados do passado não permitem prever resultados futuros”. Por vezes, indica, “o mercado tem um bom desempenho, torna-se caro e nos anos seguintes o desempenho cai. Seja como for, o que gosto sempre de dizer é que investimos em empresas europeias com negócios globais”. Como esta questão vem sempre ao de cima, o profissional fez os cálculos para saber as fontes geográficas da receita das três posições principais do fundo e percebeu que da Europa, “a receita combinada das três é inferior a 30%. Há uma ideia errada que investir em empresas europeias é investir na economia europeia”, conclui.