À medida que o mercado de fundos europeu continua a evoluir, é provável que os fundos transfronteiriços (cross-border) desempenhem um papel cada vez mais importante na configuração do panorama de investimento.
O mercado de fundos de investimento europeu tem experienciado uma mudança significativa para os fundos transfronteiriços na última década, com um crescimento notável, reflexo da crescente integração dos mercados financeiros dentro da União Europeia.
Segundo o Fact Book 2024 da EFAMA (Associação Europeia de Gestão de Fundos e Ativos), o Luxemburgo e a Irlanda continuam a ser os principais domicílios de fundos transfronteiriços, com uma quota do mercado europeu de 95%, com França, a Alemanha e os Países Baixos com ativos líquidos consideravelmente inferiores, de acordo com os dados da EFAMA.
No entanto, cabe comentar que, dada a dimensão de ativos em fundos transfronteiriços e dadas as suas fortes vendas líquidas globais, em 2023, foi a Irlanda a monopolizar grande parte do volume de vendas estes fundos:
Tendência crescente em ativos e quota dos cross-border
No Fact Book observa-se que os fundos transfronteiriços aumentaram constantemente a sua quota de mercado na UE, passando de 47% do total de ativos de fundos em 2013 para mais de 56% no final de 2023. Este crescimento destaca o sucesso do sistema de passaporte da UE, que permite a venda de fundos em todos os estados-membros.
Este crescimento substancial nos ativos de fundos transfronteiriços salienta a crescente preferência dos investidores por opções de investimento internacionalmente diversificadas.
Preferência dos investidores veem-se através das maiores vendas líquidas
Ao longo da última década, os fundos transfronteiriços superaram constantemente os fundos domésticos em termos de vendas líquidas. Esta tendência foi particularmente evidente em 2022, um ano desafiante para a indústria de fundos de investimento: os fundos domésticos registaram saídas líquidas de 76.000 milhões de euros, marcando o primeiro ano de vendas líquidas negativas no período estudado, enquanto os fundos transfronteiriços, que também registaram uma queda significativa nas vendas líquidas, conseguiram manter entradas positivas de 80.000 milhões de euros.
Em 2023, deu-se uma recuperação para ambos os tipos de fundos, com os fundos transfronteiriços a superar ligeiramente os fundos domésticos com vendas líquidas de 248.000 milhões de euros, enquanto os fundos domésticos registaram vendas líquidas de 224.000 milhões de euros.
Mercados domésticos
Segundo a EFAMA, a grande maioria dos fundos encontra-se no país onde estão domiciliados. Em 13 países da UE, mais de 90% do total de ativos líquidos dos fundos domiciliados estão em fundos domésticos. Portugal é um dos países europeus que tem um maior volume de ativos distribuídos no estrangeiro.
No entanto, como também se identifica, nos dois principais domicílios transfronteiriços de fundos na Europa - Luxemburgo e Irlanda -, 87% e 90% dos fundos domiciliados nestes países eram mantidos no estrangeiro no final de 2023. Para os gestores de ativos europeus e mundiais, as economias de escala e a experiência disponível nestes países para domiciliar os seus fundos transfronteiriços é significativa.
Por outro lado, Malta e, em menor escala, a Letónia e o Chipre, também podem ser considerados centros de fundos transfronteiriços, visto que uma parte significativa dos seus fundos domiciliados é mantida no estrangeiro.