Já não estamos numa recessão, mas a bolha tecnológica cresce como principal risco entre os gestores

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tinaylin, Flickr, Creative Commons

Pela primeira vez desde fevereiro os gestores de fundos aventuram-se a afirmar que já não estamos numa recessão. 84% vê um crescimento da economia global nos próximos 12 meses. Assim, a maioria prevê uma recuperação em U e isso reflete-se nos mercados. Um em cada dois gestores afirma que estamos às portas de um novo mercado bullish. Em geral, o sentimento do inquérito a gestores da BofA do mês de setembro é positivo.

Tal como o movimento das ações, a mudança de ânimos entre os gestores foi muito notória em comparação com há apenas seis meses. Como se pode ver no gráfico seguinte, em fevereiro 90% dos inquiridos estavam convencidos de que nos encontrávamos numa recessão. Agora as coisas mudaram e cada vez mais especialistas defendem que estamos na fase inicial do ciclo. Como recordam na BofA, isto é um indicador adiantado chave que se viu na crise de 2008. Também cresce fortemente o número de gestores que vaticina um crescimento dos lucros empresariais de 10% daqui a 12 meses. Tal é assim que a expetativa chegou a máximos de fevereiro de 2011. Uma terceira mudança para um sentimento mais otimista vê-se na procura dos gestores: cai a percentagem que prefere que as empresas usem o dinheiro para melhorar o seu balanço e, ao mesmo tempo, cresce a percentagem que prefere que aumentem o gasto em capex.

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E como é que isso se reflete nas carteiras? Pelo segundo mês consecutivo mantém-se a rotação incipiente para os cíclicos. De facto, a maior mudança no mês é a sobrepoderação do value face ao growth, seguido de small caps face a large caps. Setorialmente, vemos uma menor alocação a tecnologias e saúde enquanto a entrada em indústria é a maior desde janeiro de 2018.

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Curiosamente, há um ponto onde não vemos uma rotação: a alocação geográfica. Mantém-se o apetite por ações americanas comparativamente às europeias, britânicas ou emergentes. Porque, insistimos, estamos perante uma rotação ainda inicial e progressiva. De facto, as carteiras mantêm-se firmemente enviesadas para o lado das ações americanas e setores como o consumo discricionário e a saúde, assim como obrigações enquanto a subponderação de energia e ativos britânicos se mantém em máximos históricos.

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Outro setor que não recupera a preferência dos investidores é a banca. De facto, estamos em níveis record de subvalorização do setor face às tecnologias.

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Este otimismo mistura-se com um certo nervosismo perante o nível de valorizações atuais. De facto, apesar da rotação para os ativos de risco, no mesmo mês cresceu a alocação a liquidez. De 4,6% para 4,7%. Apesar da segunda onda de COVID-19 continuar a ser o maior risco na opinião dos gestores, uma bolha tecnológica é agora o segundo maior risco. Cada vez cresce mais o número de inquiridos (atualmente 80%) que acredita que a aposta mais escolhida é adotar posições longas nas tecnologias.