Jack Janasiewicz (Natixis IM Solutions): “As coisas estão melhores do que se pensa”

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Créditos: Serghei Savchiuc (Unsplash)

Ser otimista hoje parece ser uma aposta contrarian. O sentimento do mercado tem sofrido nos últimos meses à medida que os investidores digerem uma inflação mais persistente do que se pensava e a ameaça de uma subida das taxas mais cedo do que o esperado.

Como salienta David Jilek, estratega de investimento da Gateway Investment Advisers (parte da Natixis IM), os clientes estão a manifestar preocupação com as atuais condições de mercado. As avaliações estão em máximos históricos. Mesmo depois do impulso da temporada de resultados, os múltiplos de hoje estão acima do pico pré-COVID”, explica. E não são só as ações que o preocupam. As obrigações também enfrentam o desafio de um ambiente de yields baixas e um potencial aumento das taxas. As obrigações vão continuar a desempenhar um papel protetor nas carteiras? Esta é a grande questão.

E não é que não haja bandeiras vermelhas. Por exemplo, as ramificações de um movimento tão grande nos preços das matérias-primas, como salienta Katy Kaminski, responsável de Estratégia de Investigação e gestora da AlphaSimplex (AlphaSimplex). Ou como, pela primeira vez em muito tempo, as posições curtas em obrigações estão a ser rentáveis.

Não devemos subestimar a resiliência das empresas

Mas mesmo entre os seus colegas da gestora, Jack Janasiewicz, gestor da Natixis IM Solutions, prefere ser otimista. “Na verdade, as coisas estão um pouco melhores do que seria de esperar”, defende. Na sua opinião, a força e a resiliência das empresas estão a ser subestimadas. “Com toda a conversa sobre a inflação, a verdade é que as empresas americanas têm sido capazes de lidar com problemas nas cadeias de abastecimento com dignidade”, sublinha.

É a leitura que Janasiewicz tira da última temporada de resultados. Há empresas que até melhoraram as suas margens, mas o ponto-chave é que, em geral, estamos a assistir a um crescimento do negócio e das receitas.  “Esta é a grande história que devemos ter em mente”, insiste o gestor.

Não é que o gestor não veja riscos. Reconhece que o pano de fundo da macroeconomia está a abrandar. Que ainda teremos de ver quanto tempo dura esta inflação transitória, pelo que o IPC mensal terá de ser acompanhado de perto. Mas, por agora, o seu cenário de base é que as perspetivas para a inflação a longo prazo estão sob controlo. “A reação do consumidor será fundamental. Agora estamos a ver como a população está disposta a esperar que passe este aumento dos preços”, conta.

Por isso, considera que o mercado está a adiantar-se aos acontecimentos.  Concretamente, prevê aumentos de taxas em 2023 ou mesmo em 2022. Como bem recorda, a Reserva Federal tem sido muito clara na sua intenção de desligar o tapering da subida das taxas. Se mantivermos o calendário planeado, o tapering terminará ao longo de 2022. Se houvesse realmente aquela subida de taxas que o mercado espera, teria de ser logo a seguir. É o que a Fed diz que não vai fazer. “É verdade que Jerome Powell está entre a espada e a parede. Mas acreditamos que a surpresa pode vir do lado otimista em meados do próximo ano, quando se revelar que a normalização monetária não terá de ser tão agressiva”, prevê.