Joachim Fels (PIMCO): “Não existe recessão, existe moderação mas ainda com crescimento”

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Há uns tempos ouvia-se uma canção que dizia que qualquer tempo passado nos parece melhor. Nos mercados isso acontece, frequentemente, especialmente em anos fiscais como o atual, nos quais é um desafio investir evitando a volatilidade. Enquanto isso, a economia americana vive o seu segundo maior ciclo expansionista da história. Mantém-se o crescimento, mas desacelerado. Esta é uma das chaves da mensagem que Joachim Fels, diretor geral e assessor económico mundial da PIMCO, transmitiu. “A última parte do ciclo já começou, embora ainda não estejamos próximos do final”.

As perspetivas que a PIMCO leva a cabo nos próximos 12 meses assim o refletem. O pico do crescimento económico alcançou-se entre o final de 2017 e início de 2018, sendo este o ano em que a economia global, no seu conjunto, atravessa uma espécie de ponto de inversão caracterizado pela fragilidade do bloco emergente, Europa e Japão face aos EUA, cujo dinamismo marca a divergência.

Assim, de um ano de 2017 caracterizado pelo crescimento económico sincronizado, movemo-nos para um 2019 marcado pela sincronização mas, desta vez, de desaceleração económica. A chave, hoje em dia, está nas mãos da economia norte-americana, que a partir do ano que vem irá observar o efeito do incentivo fiscal da política fiscal de Trump a diluir-se, ao mesmo tempo que os efeitos do endurecimento financeiro se vão notar devido ao aumento do dólar e do ajuste monetário progressivo da Fed. A partir do ano que vem, espera-se que outros dos principais bancos centrais se juntem ao endurecimento monetário.

Segundo a perspetiva de mercado da PIMCO, o risco mais relevante no curto prazo deriva da política comercial a nível mundial. Na Europa, a situação italiana e a reação dos mercados, assim como a estratégia de saída do BCE e as suas implicações no mercado de obrigações e divisas.

Por agora, a gestora afasta o risco de recessão pois não vê indicadores de sobreaquecimento da economia americana. Segundo Fels, nos próximos seis ou 12 meses existirão mais sinais para que seja possível prever uma recessão, embora para eles a data fulcral seja 2020. “As expansões económicas não morrem de velhice, há sempre alguma coisa que as mata. Esperemos que não seja a Fed”.

Implicações para os mercados

De acordo com a gestora americana, não se sabe quando o mercado dará a volta, embora a curva de yields das Treasuries quase invertida indique que estamos em final do ciclo. E é nesta última parte quando “as valorizações estão mais ajustadas em todos os ativos (crédito, obrigações, ações) que é fácil de queimar os dedos”, assinala Fels. “Estamos a entrar num contexto de maior volatilidade; está na altura de ser cauteloso e focar-se em ativos líquidos que sejam capazes de reagir quando a volatilidade aumenta”. “Embora outro risco de fim de ciclo seja vender demasiado cedo”, e ficar fora de mercado.

Nos ativos, e dado que “na última parte do ciclo o crédito corporativo registe um pior comportamento que as ações”, no seu posicionamento estratégico estão neutros em ações e subponderados em crédito. Contudo, no segmento de crédito gostam das obrigações de titularização hipotecária não emitidas por agências (non-agency residential mortgage), adequadas para este momento do ciclo. Além disso, as obrigações ligadas à inflação podem ser interessantes como cobertura da inflação, um elemento de risco mais a curto prazo. Em termos de duration, mantêm uma subponderação fora dos EUA, mais concretamente no Japão e Reino Unido.

Outra oportunidade de investimento pode ser encontrada em matérias-primas, um setor que se comporta bem no final das fases de expansão económica.

Em relação aos mercados emergentes, Fels exige uma maior clareza antes de aumentar o posicionamento, embora possam encontrar oportunidades de forma seletiva.