John Surplice (Invesco Pan European Equity): estes são os motivos que o fazem apostar no sector financeiro

John_Surplice
-

Mesmo com os resgates registados ao longo do ano, o Invesco Pan European Equity é dos fundos mais populares. O fundo, gerido pela Invesco, ostenta o selo Blockbuster Funds People e é gerido por John Surplice e por Martin Walker. Enquanto Walker se responsabiliza por escolher oportunidades de investimento no mercado britânico, Surplice faz o mesmo, mas para o resto da Europa. Um dos segmentos de mercado onde Surplice está mais otimista é o segmento financeiro, um sector que sobrepondera em carteira desde 2012. Esta decisão deu-lhe muitas alegrias, mas também algumas dores de cabeça, sobretudo durante este ano.

Este mau comportamento, registado pelo sector financeiro, explica em boa medida a queda registada pelo Invesco Pan European Equity, que desceu para o quarto quartil em 2014 e 2015. Os investidores preferiram apostar em empresas que apresentam múltiplos mais elevados, o que deixou a banca numa situação mais débil. “Há que ser humilde. Eles estavam certos e eu estava equivocado. No entanto, é importante entender o que está a suceder”, afirma numa conversa com a Funds People. Segundo explica, “os efeitos que está a ter o Quantitive Easing do BCE sobre as entidades financeiras pôs os lucros do sector sob pressão, o que passou a fatura para a bolsa. No entanto, a proposta de valor que oferecem os bancos manteve-se. De facto, hoje é melhor do que nunca”, assinala.

Surplice remete-se aos dados. “Tanto o P/B como o PER do sector a doze meses, mostra que o sector está com múltiplos muito atrativos. Na realidade, nunca estiveram tão baratos como agora”, afirma. O gestor reconhece que o momentum dos lucros do sector é pobre, mas a valorização muito atrativa. “As entidades financeiras europeias são muito más seguras agora do que há três anos. Estão menos alavancadas e o risco de investir nelas é menor. Os lucros foram revistos em baixa e esse deve ter sido o motivo que levou ao mau comportamento do sector e do fundo. O problema esteve aí. A realidade é que os bancos estão hoje numa posição muito mais sólida e as exigências de reforço de capital do sector, provavelmente, atingiram o pico, o que me faz ser optimista sobre o seu comportamento futuro”.

Até agora, o mercado não lhe deu razão, mas em outubro as coisas mudaram e o mesmo está a suceder no mês de novembro. O sector regista uma forte subida, o que fez com que o fundo fosse para o primeiro quartil no mês, graças à sobreponderação que mantém nas entidades “núcleo” da Europa, periferia e Reino Unido. No seu conjunto, o peso financeiro na carteira é de 28,7%, mais 10 pontos do que o índice. O gestor aumentou a sua exposição ao sector ao longo dos últimos doze meses. Também o fez em sectores como a energia, o de materiais ou de telecomunicações, sectores que se encontram baratos, face aos da alimentação ou farmacêutico, que estão caros. Esta dicotomia no mercado, entre sectores caros e baratos, faz com que os gestores tenham mais dificuldade na hora de diversificar as suas carteira. E, segundo Surplice, o verdadeiro risco está no que é caro e não no que é barato.

O problema com o momentum, entendido como um estilo de investimento, não tem uma disciplina sobre as valoriações, o que significa que tem risco inerente...que é precisamente o que os investidores tentam evitar. Quantas mais posições defensivas procuram os investidores, mais risco têm essas posições. A única justificação que vemos, para o que consideramos como ações caras, é a forma como se comportam as obrigações, pelo que deveriam ser valorizadas com base na sua rendibilidade por dividendo, comparando-a com a rendibilidade das obrigações. No entanto, isto ignoraria as medidas fundamentais básicas como os lucros, fluxos de caixa, alavancagem e retorno de capital, que são aspectos básicos que utilizamos na hora de tomar decisões de investimento”, afirma.

A questão é: o que rompe o ciclo de momemtum e devolve a valorização fundamental ao foco central de investimento em ações europeias? “Infelizmente, é muito provável que o consenso apenas se dê conta do risco das suas atuais posições quando estas se manifestarem. Como as empresas mais defensivas se valorizam em relação às obrigações, o que tem de se produzir é uma mudança da dinâmica dos preços das obrigações, ou seja, um aumento das taxas de juro. Com os programas atuais de estimulo monetário na Europa e no Japão, parece claro que a primeira subida das taxas de juro irá acontecer nos EUA, pelo que devemos estar mais dependentes do que nunca da política norte-americana para investir na Europa”.