Joseph Pinto (Natixis IM): “O SFDR e a MiFID II são os regulamentos necessários para recuperar a confiança dos investidores após a crise da Lehman”

PINTO Joseph Natixis IM
Joseph Pinto. Créditos: Cedida (Natixis IM)

A indústria de gestão de ativos conseguiu resistir à crise COVID-19 com ganhos que raramente se têm visto noutros segmentos do setor financeiro. Por detrás deste sucesso, há uma confluência de fatores que vão desde a boa evolução dos mercados até à necessidade crescente de os investidores encontrarem alternativas lucrativas que lhes permitam complementar as suas poupanças para a reforma. Uma tarefa que, com o aumento da inflação e com as avaliações dos ativos tradicionais cada vez mais ajustadas, se torna cada vez mais complicada, embora não impossível.

A FundsPeople conversou com Joseph Pinto sobre as oportunidades que o mercado apresenta agora para os investidores com apetite por rentabilidade e também sobre os desafios que a indústria enfrenta nos próximos anos. O novo CEO da Natixis IM cobre as áreas de distribuição da Europa, Médio Oriente, América Latina e Ásia-Pacífico desde julho passado.

Inflação regulada, mas a subir

Sobre a primeira questão, Pinto tem a certeza que alcançar a rentabilidade nos próximos anos implica a inclusão de ativos reais em carteiras. E, de facto, é para neste tipo de ativos que se vê uma maior procura. “Do lado institucional há uma grande procura de ativos que dão rentabilidade e é por isso que investem cada vez mais em ativos reais assumindo o prémio de iliquidez tenha um melhor retorno a longo prazo”, afirma. Partilham o protagonismo com as ações que, num ambiente de subida da inflação, continuam a apresentar perspetivas positivas.

Isso significa que o investidor deve estar preparado para continuar a ver a inflação descontrolada como a verificada nos últimos meses? Não necessariamente, mas mais alta do que a vista no passado. Especificamente, defende que a inflação tenderá a regularizar-se nos próximos meses, embora “permaneça mais alta do que no passado”. E avisa: “O grande impacto é ver como a inflação é transferida para os consumidores e para os salários, uma vez que se pode ter grandes diferenças em função das políticas governamentais de cada país”.

Em todo o caso, não considera que este seja o grande risco que a indústria enfrenta. “Diria que os dois grandes riscos são a liquidez e o greenwashing. São as duas coisas a que temos de estar mais atentos”. É claro que ambos os riscos agora não se materializam com tanta facilidade graças aos dois regulamentos-chave que foram aprovados nos últimos anos: a MiFID II e o Regulamento SFDR.  “O SFDR e a MiFID II eram os regulamentos necessários para recuperar a confiança dos investidores após a crise da Lehman, tal como o regulamento do PRIIPS. Essa é uma das razões que têm impulsionado o setor da gestão de ativos nos últimos anos, uma vez que têm dado maior proteção ao investidor", afirma.

As três tendências que a indústria enfrenta

Sem surpresas, considera o ESG uma das grandes tendências do setor da gestão de ativos à medida que a procura dos investidores cresce, assim como a regulação não só na Europa, mas também nos EUA e na Ásia. “É uma tendência global e, como gestora, temos de promover valores sociais na forma de gerir o dinheiro, uma vez que é o que os clientes exigem e porque as regras do jogo o exigem com o aumento da regulação que está a ser aprovada”, afirma.

Destaca mais duas tendências. A primeira é a necessidade de se concentrar nos consumidores para facilitar um melhor acesso à informação, bem como produtos mais baratos, onde o blockchain desempenha um papel de liderança. “Quando falo em baixar custos, é através da redução dos intermediários, de um corte nos custos administrativos, não da gestão, uma vez que se trata de ser competitivo, mas de continuar a gerar valor para os investidores”, afirma.

E a segunda é continuar a crescer em ativos reais. De facto, a gestora, que já conta com 23 subsidiárias especializadas em diferentes tipos de ativos, não descarta continuar a expandir a base de ofertas neste tipo de investimento. Talvez não tanto adicionando mais subsidiárias à sua estrutura, mas incluindo equipas especializadas nas existentes.

Confiança no modelo de negócio

Ao fim e ao cabo, o modelo da Natixis IM de plataforma multiboutique, que se tem generalizado na indústria nos últimos anos, é algo muito valorizado pelos seus clientes. “Os clientes gostam que haja uma marca grande por trás que controla as boutiques, mas permite-lhes fazer essa gestão que é o que lhes deu alfa”, afirma.

O gestor celebra também este ano o seu décimo aniversário na Península Ibérica com o objetivo de continuar a crescer num mercado como o ibérico, cujas poupanças financeiras só cresceram nos últimos anos.